ERNANI .~ORNARI
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BIBLIOTECA DO EXERCITO
ERNANI FORNARI (DADOS BIOGRÀFICOS) Ernani IGuaragna) Fornari nasceu na cidade de Rio Grande (RS) a 15 de setembro de 1899, filho de Aristides Fornari e Maria do Carmo Guaragna Fornari, sendo o mais velho de quatro irmãos (Ernani, Otelo, Fausto e Norma). Extremamente pobre em seus primeiros anos, fez com dificuldade os primeiros estudos, iniciados na cidade onde nasceu e conc1u idos em Garibaldi e Porto Alegre. Posteriormente matriculou-se na Faculdade de Direito de Pelotas, cujo curso não logrou concluir. Antes de ingressar na imprensa como jornalista - onde deu seus primeiros passos n3 literatura - Ernani Fornari dedicou-se ao desenho e à ilustração, assinando seus trabalhos profissionais com os pseudônimos de Xisto, Fabius e Neno leste último, seu apelido familiar). Em 1923, quando estava para incorporar-se à equipe redacional do Correio Mercantil, de Pelotas, onde dirigiu a Biblioteca PÚblica, Fornari publicou seu primeiro livro de poesias, em Porto Alegre - O Missal da Ternura e da Humildade - logo saudado como revelação pela critica literária rio-grandense. Mais tarde, entre 1925 e 1935, dirigiu, na capital do Estado, a revista Máscara, e trabalhou em diversas revistas e jornais gaúchos, como O Diário, Revista do Mês, Diário de Noticias, Jornal da Manhã, Revista do Globo etc. No dia 30 de abril de 1925 casou-se com a srta. Lorena de Aguiar Pereira, de Santa Vitória do Palmar, que lhe deu dois filhos: Zoé 11926) e Claudio Rubens (1927). Em julho de 1935 Ernani Fornari mudou-se para o Rio de Janeiro. Na então Capital da República, paralelamente com as funções de Secretário da Agência Nacional, cola-
o"INCRíVB~' PIDRB LINDBLL DBMOVRI SEGUNDA EDIÇAO
BIBLIOTECA DO ExERCITO EDITORA
Publ icação 537
COLEÇAO GENERAL BENfclO
Volume
224
Chefe da Seção de Publicações Sebastião Castro © Lorena Pereira Fornari Porto Alegre - RS CAPA: Maria Luiza Ferguson REVISÃO: José Carlos da Silva (Reg. Prof. n9 4.026) Josefina Helena de T. Carneiro· (Reg. Prof. n9 29.838) DIAGRAMAÇAO: Hyrmo F. Costa ARTE-FINAL: J. Ricardo R. Costa
M929f
Fornari, Ernani - 1899 - 1964 O "Incrível" Padre Landell de Moura: história triste de um inventor brasileiro / Ernani Fornari. - 2 a ed. - Rio de Janeiro - Biblioteca do Exército, 1984. p.: iI. - (Bib.lioteca do Exército; 537. Coleção General Benício; v. 224) ISBN 857011 082 O 1. Moura, Roberto Landell de, 1861-1928. COO 925 CDU 92
Direitos cedidos à Biblioteca do Exército para esta edição Impresso no Brasil 2
ERNANI FORNARI
o INCRíVE~J PADRE LANDELL DEMOUBA II
SEGUNDA EDiÇÃO
m BIBLIOTECA DO EXÉRCITO EDITORA
Rio de Janeiro - RJ 1984
BIBLIOTECA
DO
EXI:RCITO
FUNDADOR, em 17 de dezembro de 1881 •
Franklin Américo de Menezes Dôria, Barão de Loreto REORGANIZADOR, em 26 de junho de 1937. e fundador da Seção Editorial
Gen Valentim a.nleio da Silva DIRETOR
Cei Inl Aldilio Sarmento Xavier SUBDIRETDR CIII Art Sady Nunes CONSELHO EDITORIAL
Militares: Ten Brig Ref Nelson Freire Lavenere-Wanderley nomeado em 17 de abril de 1980 Gen Di... Ref Francisco de Paula e Azevedo Pondê nomeado em 10 de outubro de 1973
Gen Di... Ref Jonas de Morais Correia Filho nomeado em 10 de outubro de 1973
Cei Prof Celso José Pires (Relator deste Livrol nomeado em 7 de fevereiro de 1980
CMG R/Rm Max Justo Guedes nomeado em 17 de abril de 1980
Ten Cei Inl Pedro Schirm8r nomeado em 11 de outubro de 1977
Ten Cei R·' Carlos de Souza Scheliga nomeado em 25 de abril de 1975
Civis: Prof Pedro Calmon Moniz de Bittencourt nomeado em 28 dê maio de 1975 Prof Francisco de Souza Brasil nomeado em 10 de outubro de 1973 Prof Ruy Vieira da Cunha nomeado em 10 de outubro de 1973 Biblioteca do Exército - Palácio Duque de Caxias - Praça Duque de Caxias. 25 _ Ala Marcrlio Dias - 39 andar - Centro - RJ - CEP 20455 - Tels.: 283-0773. 283-3881 e 283-2078 - Endereço Telegráfico "BIBlIEX"
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APRESENTAÇÁO Injustiçado e incompreendido a seu tempo, como sói acontecer com tantos outros grandes vultos da humanidade, ao Padre Landell de Moura cabe preeminente posição na galeria dos homens ilustres deste pa ís. Não obstante, pouco se divulgou até hoje Sobre a importância de sua contribuição à causa científica brasileira, onde foi extremamente expressiva sua ação pioneira no campo da eletrônica e das telecomunicações. Por este motivo, além do valor intrínseco como trabalho de pesquisa biográfica, cumpre inestimável papel esta obra de Ernani Fornari, resgatando, às novas gerações, a saga do grande jesu íta gaúcho. Em verdade, sobrepaira à história da vida de Landell de Moura uma obstinada perseverança em trilhar os difíceis e fascinantes caminhos do inédito. Há 80 anos, Landell de Moura foi tido como lunático ao prever que "as transmissões poderão ser feitas através de um feixe luminoso". Menos de 70 anos mais tarde, entraram em funcionamento os sistemas de comunicação por raio laser, utilizando diodos emissores e, para condução de luz, fios de fibra ótica. Muito antes de Marconi, o padre brasileiro já havia testado o telégrafo sem fio, operando uma transmissão de oito quilômetros ligando dois pontos na Capital paulista. Foi também o precursor da válvula eletrônica, componente essencial para o desenvolvimento da radiodifusão. Ninguém mais indicado que Fornari para traçar a epopéia de Landell de Moura, não só por tê-lo conhecido pessoalmente, mas por ter se tornado, ao longo dos anos, um entusiasta de seu trabalho e imensa criatividade. Não foi por menos que Fornari, ao ver a silhueta esguia e o olhar profundo de Landell, declarou: "Aí vai um homem que viveu, por certo, um romance, ou sofreu uma tragédia, ou carrega consigo o cadáver de um sonho". Mas, na realidade, Landell de Moura não sonhou em vão. Deixou uma obra e um exemplo, e alargou caminhos. São estes caminhos que as comunicações brasileiras nos últimos anos têm procurado sedimentar, ampliando as facilidades que a tecnologia mais atual proporciona para tornar a vida melhor e mais confortável.
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Foram mUitos os desafios enfrentados por Landell de Moura. Assim também são os daqueles a quem compete criar instrumentos e políticas para o desenvolvimento das comunicações - cujas fronteiras são quase ilimitadas -, infra-estrutura fundamental para o crescimento das nações e o bem-estar da sociedade humana. Numa justa e merecida homenagem, embora modesta, a maior instituição de pesquisa científica e tecnológica na área da eletrônica do país - o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás, em Campinas, denomina-se Padre Roberto Landell de Moura. HAROLDO CORRIÕA DE MATTOS Ministro das Comunicações
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NOTA PARA ESTA EDiÇÃO A expectativa de um livro e o que representa como participação do seu autor em qualquer campo' do saber humano pode traduzir-se pela época do seu surgimento, como também pode consagrar-se pelo reconhecimento do seu valor nos tempos mais distantes. ~ preciso destacar o que corresponde no processo de criatividade ao trabalho intelectual de um pesquisador e criador. Não há limites para a inteligência, desde que o momento reflexiva do homem esteja dentro do que possa ser definido e não no indefinido. Esta obra - O "Incrível" Padre Landell de Moura - se alicerça e se consubstancia no aspecto da originalidade e na configuração de uma nova realidade, onde, muitas vezes, se confundem o gênio criador e a sensibilidade do sábio que, no rumo da descoberta, se situa como órgão transmissor da genialidade e pelo que expressa para o bem comum. Ernani Fornari nos apresenta um livro cujo tema prinCipal vem a ser a própria obra tecnológica daquele Sacerdote, quase anônimo no seu país, perfeitamente identificado com o subtítulo da Editora Globo de Porto Alegre - "História triste de um inventor brasileiro". Representou, na verdade, uma grande omissão no quadro da ciência brasileira ao exaltar pouco esse nobre pesquisador. A sua qualificação erudita e científica o dignificou pela seriedade do seu acervo de homem superior, ao patentear, nos Estados Unidos, o telefone e a telegrafia sem fio, o transmissor de ondas e os excelentes estudos nessa área, desde 1B93 e repetidas em 1933, neste último ano já no Brasil. As datas transcritas representam mais um título da glória que prevalece na sua contribuição inteligente, bem anterior ao iluminado Marconi. Fornari, utilizando-se de uma linguagem despojada de artifícios tangenciais, faz nascer uma narrativa clara, direta, registrando dados, fatos, fenômenos, comportamentos, num verdadeiro caleidoscópio da luta da vida simples e eficaz de Landell de Moura contra o inconsciente da incultura. As impressões do autor são marcadas, como revivência de
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julgamento, para poder, no momento presente, resgatar a figura humana daquele que mostrou ao Mundo os indeléveis primeiros passos no evoluir da técnica das comunicações. Nesse posicionamento o biógrafo aproximou-se da máxima de Santo Tomás de Aquino: a justiça da ordem e a ordem da justiça, pelo reconhecimento através deste brilhante estudo, que equacionou e demonstrou de modo inequ (voco a vida meritória do personagem central do livro, numa demonstração de que a autenticidade autoriza o dom(nlo integral do saber. O livro é acompanhado de gravuras, esquemas, patentes diversas em fac-símile, em testemunho da autenticidade das citações, consideradas primordiais, levando crédito às fontes e por se tratar da possibilidade de transmitir sons inteligentes, emoldurados pela utilização de um feixe luminoso. Esta obra é, ao mesmo tempo, de caráter épico e de eflúvios afetivos, além de exprimir paradigmaticamente os anúncios das "imprevisíveis perspectivas à civilização e às relações entre os povos", credibilidade já estabelecida e exortada pelas premissas conjunturais deste século. A narrativa episódica, mesmo entremeada dos temas de núcleo científico, não se afasta da redescoberta reconhecida daquele patrício ilustre, muito à frente de seus coevos no alargamento da visão para iluminar o futuro. E o mundo de hoje, no imediatismo dos seus objetivos, parece esquecer que, mesmo na era cibernética, nuclear, tecnotrônica, as tendências da materialização fogem da plenitude de que a matriz da ciência está no pensamento e no desenvolver crescente espiritual do homem, sempre na procura perene de afirmar· a sua criatividade. Talvez ai esteja impl(cita a explicação que distingue os sábios dos sabidos. Preocupa-se o escritor "com devotado empenho querer restituir ao grande sábio rio-grandense - Monsenhor Roberto Landell de Moura - a instância da sua luminosa personalidade". Nobre foi a preocupação da Bibliex em procurar oferecer ao grande público nacional, não somente notícias sobre os inventos de Landell de Moura, mas, fundamentalmente, homenagear a todos os técnicos, pela admiração das técnicas precursoras do sacerdote. Com a publicação deste livro presentifica-se a grandeza dos trabalhos de um sábio brasileiro, humilde e ungido como
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servo de Deus, neste fim de século - primaz da informática sem dúvida, nascente e nutriente das prim(cias dos estudos desenvolvidos em tempos remotos, sugerindo sempre novas perguntas, novas respostas e, sobretudo, permitindo a unidade da cultura, ciência, técnica e tecnologia.
CELSO PIRES
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Monsenhor Roberto Landel! de Moura, aos 54 anos de idade
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à GUISA DE INTRODUÇAO Cabe a um ilustre brasileiro, o Pe, Roberto Landell de Moura. a glória de haver sido o pioneiro da telecomunicação. Nascido em Porto Alegre a 21 de janeiro de 1861. e tendo estudado em São Leopoldo e na Universidade Gregoriana de Roma, vamos encontrá-lo em 1892 no Estado de São Paulo, como pároco de Campinas, onde se dedicava simultaneamente ao seu ministério sacerdotal e aos estudos científicos. Foi ali que deduziu o seguinte princípio: "Todo movimento vibratório tende a transmitir-se na ra· zão di reta de sua intensidade, constância e uniformidade de seus movimentos ondulatórios. e na razão inversa dos obstáculos que se opuserem à sua marcha e produção." Daí partiu para o grande postulado: "Dai-me um movimento vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça. ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá." Pode-se imaginar o escândalo que teria provocado a insólita e audaciosa afirmação no meio inculto em que foi lançada. Entre os anos de 1893 e 1894. vindo de Campinas. apareceu Landell de Moura em São Paulo a sobraçar misteriosos embrulhos em que trazia as peças de um aparelho de sua invenção e fabricação e com O qual. segundo afirmava. poderia falar. sem se utilizar de fios. com outra pessoa a quilômetros de distância. Constituiu um sucesso a transmissão e recepção, sem fio. da palavra falada. a que se seguiu, como noticiou o Jornal do Commercio, do Rio, nova e sensacional demonstração feita do alto da Avenida Paulista para o Alto de Sant'Ana. numa distância de cerca de oito quilômetros, com a presença. entre outras testemunhas. do Consul C. P. Lupton. da Inglaterra. fê de se notar que tal ocorreu mais de um ano antes da primeira e rudimentaríssima experiência de Guglielmo Marconi na primavera de 1895 e seis anos antes do seu primeiro radiograma. Landell de Moura transmitia sons em 1893; Marconi começou a transmitir apenas sinais em 1894; Landell fez suas primeiras transmissões a uma distância de oito quilômetros emissor-receptor; Marconi transmitiu sinais fracos a uma distância de cem metros.
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Desconcertante, porém, a reação popular. Impostor, mistificador, louco, bruxo, padre renegado, herege - foram alguns dos ep itetos que recebeu. Chegou a ser arrombada a porta da sua casa, sendo destru idos o seu laboratório, todos os seus aparelhos e suas "máquinas infernais", como diziam os vândalos fanáticos. Todavia, reconstruindo a sua oficina, consegue obter a patente brasileira n9 3279 "para um aparelho apropriado à transmissão da palavra à distância, com ou sem fios, através do espaço, da terra e da água". Vai, depois, aos Estados Un idos, onde também pretendia patentear os seus principais inventos: a telefonia e o telégrafo sem fios e o transmissor de ondas. Tão revolucionárias eram consideradas, porém, as suas invenções que não se lhe concederiam as patentes desejadas sem a apresentação de um modelo para demonstrações práticas. Foi obrigado, pois, a permanecer três anos nos Estados Unidos, e com grandes dissabores e dificuldades financeiras, para afinal conseguir a 11 de outubro de 1904 a patente do transmissor de ondas (n9 771 917) e a 22 de novembro a do telefone sem fio e do telégrafo sem fio (n9 S 775337 e 775846), cujos fac-similes· este livro publica. Rejeitando sedutoras propostas nos Estados Unidos, regressa ao Brasil para entregar ao nosso governo os seus inventos. Chegado ao Rio, escreve ao Presidente Rodrigues Alves solicitando dois navios da esquadra para uma demonstração pública de seus inventos. Manda ter com ele o Presidente um de seus assistentes a fim de saber a que distância desejava que ficasse um navio do outro dentro da Guanabara. - Distância? Dentro da baía?! ... Não, doutor! Fora da baía, em alto-mar, e à distância máxima que for possível. Assombra-se o enviado palaciano. - Quantas milhas, por exemplo, reverendo? - As que quiserem, ou puderem - afirma com decisão. Meus aparelhos podem estabelecer comunicação com quaisquer pontos da Terra, por mais afastados que estejam uns dos outros. Isto, presentemente, porque, futuramente, servirão até mesmo para comunicações interplanetárias.
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Olhando-o espantado. retruca o oficial-de-gabinete: - Muito bem. reverendo. Farei S. Exa. ciente do que me diz. Chegado ao Palácio. transmite sua impressão ao Presidente da República: - Excelência. o tal padre é positivamente maluco. Imagine que ele chegou a falar-me na possibilidade de conversar, um dia. com outros mundos... No dia seguinte um telegrama gentil da Presidência da República informou ao grande brasileiro não ser possível, no momento. lamentavelmente. atender ao seu pedido, devendo ele. para isso. aguardar a oportunidadel. Era demais! Diante da negativa mal disfarçada e da campanha de descrédito que se lhe moveu, profundamente abalado e desiludido, num impeto insopitável, quebra os seus aparelhos, encaixota os seus livros, cadernos e documentos, e vai dedicarse exclusivamente ao seu sacerdócio no interior do país. Decorrido o prazo de 17 anos, que marca a lei das Patentes, põem os estadunidenses em prática as teorias do sábio brasileiro... Houvesse o Presidente Rodrigues Alves atendido ao pedido de Landell de Moura!. .. Um navio de guerra brasileiro ancoradO na Guanabara e outro em alto-mar, bem longe - como ele queria - a permutarem, pela primeira vez, mensagens pelo rádio! Que sucesso! Que glória para o Brasill Mas não me devo alongar. Isto e muito mais encontraremos nas paginas deste livro admirável com o qual Ernani Fornari tirou do esquecimento em que por tanto tempo esteve a memória do pioneiro da telecomunicação. E que meditemos com atenção as narrativas e os comentários do Autor, sobretudo no que concerne à grandeza moral, aos sofrimentos atrozes que heroicamente suportou o homem-pincaro que foi Roberto Landell de Moura. EURI"PIDES CARDOSO DE MENEZES
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Aos eminentes homens de ciência CEL ARY MAURELL LÓBO, VI CE-ALMIRANTE ENGENHEIRO MÁRIO DE OLIVEIRA PENNA
e Dr. FLÁVIO NUNES DA SILVA FARO,
o Autor, reconhecido, dedica este livro.
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PREFACIO
Vinte anos de buscas em empoeirados arquivos; vinte anos de fatigantes investigações em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro; vinte anos de estudos especializados e de consultas a jornais velhos e revistas antigas; vinte anos a cansar os olhos e os nervos na decifração de documentos, rascunhos e apontamentos quase ilegfveis, deteriorados pelas traças, ou des· botados pela ação da umidade e dos anos - eis quanto exigiu de nós a elaboração desta monografia. E ainda não está completa, infel izmente. O principal, porém, o mais diHcil, aqui está, finalmente, feio to e, de alguma forma, concatenado e exposto. Fizemos o que nos foi poss(vel. O resto virá a seu tempo. Outros investigadores, estamos certos disso, irão completando·a, de agora em diante, da· das as dezenas de documentos relativos às atividades cientrficas do Padre Landell de Moura ainda existentes em mãos de particu· lares e a que, por desconfiança ou excessivo zelo de seus deposi· tários (esses documentos, já agora, devem pertencer à Nação), não tivemos acesso, bem como o crescente interesse que, de uns anos a esta parte, o assunto principiou a despertar nos meios cien· trficos e nacionalistas do Pa (s. Principalmente, depois da publicação de nossos artigos a respeito. Se é bem verdade que, de in (cio, não foram pequenas as nossas decepções diante da indiferença" da incompreensão e, mesmo, da descrença de alguns cientistas e técnicos ilustres em relação às descobertas e invenções daquele clérigo; menores não foram, em compensação, as satisfações que tivemos, mais tarde, com o apoio, os esclarecimentos e a colaboração que passaram a prestar·nos outros técnicos e cientistas igualmente ilustres e de não menor renome e proficiência, entre os quais avultam esses cujos nomes tivemos, com as expressões de nosso reconhecimen· to, a honra de gravar no pórtico deste livro. E se, muitas vezes, vimos, com a assinat,ura de outros, reedi· tado, quase ipsis litteris (e sem citação da fonte, está·se a ver... l, o material que (amos tão laboriosamente colhendo e publicando, ainda a( nos sentimos de alguma maneira recompensados e tam· bém agradecidos. E que compreendemos que, divulgando, embo· 15
ra como resultado de investigações próprias ou de outrem, a vida e as obras do Padre Landell de Moura, esses prestimosos articulistas estavam, a seu modo, colaborando conosco, no sentido de chamar a atenção de nossos patrrcios para o esquecido e genial trsico brasileiro, e, assim, contribuindo para o reconhecimento de seus direitos e maior glória de seu nome. E isso é o que importa, verdadeiramente.
*** Neste ponto, como um corredor que já cumpriu a parte do percurso que lhe cabia na maratona, passamos o archote às mãos de quem queira substituir-nos. ERNANI FORNARI
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INDICE Apresentação. . . . . . Nota para esta edição. À guisa de introdução. Dedicatória . . . . . . . Prefácio. . . . . . . . . .
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PRIMEIRA PARTE Três notícias e um artigo reveladores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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A verdade começa a aparecer através da mentira consagrada. . . . . ..
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O homem, o padre e o cientista - seu nascimento e o nascimento de suss teorias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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As primeiras experiências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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Na América do Norte. . . . . . . . . . . . . . . . • . . . • . . . . • . . . • .. O patriotismo do Padre Landell . . . . . . . . . . . . . . . . . • • . . . • .. O triste destino dos inventores nacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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O sistema de Ruhmer e o sistema de Landell. . . . . . . . . . . . . . . .. Conseqüências de uma recusa e de uma campanha difamatória. . . .. Dois episódios de uma mesma luta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
65 71 75
SEGUNDA PARTE O telefone sem fio , , , . . . . . . . . . . . .. Uma experiência de 1893 repetida em 1933 , . . . . • . . . . . . .. Telegrafia sem fio , , . . . • . . . . . . . . . ..
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Transmissor de ondas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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TERCEIRA PARTE Outros trabalhos do Padre Landell de Moura. . . . . . . . . • . . . . . .. A - Sobre o Elemento R .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 8 - O Perianto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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Sobre a influência da circulação em relação a certos estados anormais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Sobre a mudança da personalidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . ..
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Sobre o fenômeno da reversibilidade sensorial. . . . . . . . . . . .. Sobre a causa das perturbações da vida psíquica ou de relação.. Sobre a enfermidade de Estado, ou nevrose dos dirigentes. Sobre as principais modalidades ou espécies de caráter . Sobre os estados anormais. . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre a analogia existente entre a estenicidade, ou o Elemento R ,e a eletricidade. . . . . . . . . . . . . . . Sobre a indução estênica e a analogia que existe entre ela e a eletricidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Sobre os efeitos da estenicidade à distância. . . . . . . . . . . . .. Sobre a capacidade dos nossos sentidos e pequenez dos nossos conhecimentos em r~lação ao mundo exterior. . . . . . . O Elemento Universal. ..
A repercussão dos inventos e o reconhecimento ao autor. ....... ......... Obras do mesmo autor. .
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PRIMEI RA PARTE TRI:S NOTl-CIAS E UM ARTIGO REVELADORES Na tarde de 8 de novembro de 1937, ao abrirmos a última edição de A Noite, do Rio de Janeiro, deparou-se-nos o seguinte telegrama, impresso destacadamente, em negrito, corpo 10: PRODIGIOSO! NOVA YORK, 8 (A. P.) - O Com A. T. Brown, do paquete Britannic, pertencente à "Cunard-White Star", comunicou que recebeu com sucesso, em alto-mar, transmissões conjugadas radiofónicas e de televisão. O Com Brown declarou acreditar que tenham sido as primeiras experiências no gênero coroadas de êxito, havendo sua realização tido lugar nos dias 29, 30 e 31 de outubro, depois de o vapor haver deixado Londres, a trinta milhas da terra. Dirigiram as experiências os técnicos da "British Broadcasting Corporation", recebendo em aparelho "Vicant Cadin" e obtendo, com extraordinária clareza, tanto o som quanto a impressão visual. Por feliz acaso, trnhamos sobre nossa mesa de trabalho um outro jornal, esse já bem antigo, La Voz de Espana, que se publicava em São Paulo, em princ(pios deste século. Esse velho exemplar, que trazia o número 28 e era datado de 16 de dezembro de 1900, estampava em suas colunas longo e sensacional artigo assinado pelo Dr. J. Rodrigo Botet, artigo esse que, por tratar de certo misterioso padre, cujos inventos maravilhosos estavam, naquela ocasião, levantando forte celeuma, não só na Capital bandeirante mas ainda na própria Capital Federal, vamos traduzir e transcrever aqui, na (ntegra: O GOURAUDFONIO Um jornal da Capital Federal atribuiu a invenção 19
desse aparelho, que tem a propriedade de transmiti r a voz humana a uma distância de oito, dez ou doze quilómetros sem necessidade de fios metálicos, ao engenheiro inglês Sr. Brighton. O diário a que me refiro está mal-informado. Nem a invenção do sistema de transmitir a palavra à distância é recente nem foi um inglês o primeiro sábio que resolveu satisfatoriamente esse árduo problema, que envolve os mais intrincados prindpios Hsico-qu (micos que podem oferecer-se à ciência humana. O que primeiro penetrou e descobriu os grandes segredos da telúrica etérea com glória e proveito, faz pouco mais ou menos um ano, foi um brasileiro, foi o meu nobre e sábio amigo o Rev. Padre Roberto Landell. Porque acompanhei passo a passo o estudo de seus inventos sobre telegrafia e telefonia, com e sem fios; porque fui testemunha presencial de várias experiências, todas de prodigiosos resultados; e porque tive a honra de me ocupar do sábio e de suas eminentes obras em dois artigos publicados em EI Diario Espano/' de São Paulo, artigos que mereceram a honra de ser reproduzidos no Rio em o Jornal do Commercio; por tudo isto, julgo-me obrigado, agora, a sair em defesa do direito de prioridade que assiste ao benemérito brasileiro Rev. Padre Roberto Landell, no que tange à transmissão da palavra falada sem necessidade de fios. Antes desse virtuos(ssimo apóstolo da religião e da ciência, ninguém, absolutamente ninguém, fez algo de prático em telefonia aérea sem cabos, servindo-se só e só de t.tores aquosos, terráqueos e aéreos. O Rev. Padre Landell foi o primeiro a construir seu magnifico telefônio, sem precisão de fios, para transmitir a voz, as notas musicais e os ru(dos apenas sens(veis ao ouvido, tais como O tique-taque do relógio, a grandes distâncias. A telefonia aquática e subterrânea, e bem assim o Teletiton, espécie de telegrafia fonética, sem emprego de fios metálicos, são obras de imarcesdvel glória, e a prioridade delas pertence ao referido sábio brasileiro.
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A segunda página do jornal La Voz de Espana, na qual se vê, assinalado, o artigo do Dr. J. Rodrigo Borer. As correções que constam do mesmo são do próprio ounho do P. Landell de Moura.
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o Telauxiofônio, a quinta-essência da telefonia com fios em virtude do vigor e da clareza com que transmite a voz articulada a grandes distâncias, os físicos europeus e norte-americanos transformaram-no num poderos(ssimo auxiliar do "Teatrofônio", ou seja: do "Telefônio Alto-falante". Mas é de mister advertir que eles adotam um aparelho receptor da .nota musical ou som articulado para cada instrumento dos que compõem a orquestra, enquanto o sábio brasileiro, deixando muito atrás os seus colegas estadunidenses, só precisa de um aparelho receptor, ainda que sejam muitos os instrumentos musicais e as vozes cantantes em concerto. . O mérito cresce de ponto, em se considerando que os inventores europeus e americanos dispõem de operários mecânicos inteligentrssimos, e de fábricas e laboratórios onde escolher as peças que a feitura de seus mecanismos requer. O Rev. Padre Landell tem de conceber e executar ele mesmo os aparelhos, sendo a um só tempo o sábio que inventa, o engenheiro que calcula e o operário que forja e ajusta todas as peças de complicad(ssimos mecanismos. Essa última conquista cientrfica, que, fazendo prod (gios de habilidade e dando provas da mais remontada sabedoria, conseguiu alcançar o Rev. Padre Landell, constitui notabil (ssimo cap(tulo de progressos frsico-mecânicos, capaz de eternizar o nome de seu inventor. Mas acontece que o humilde sacerdote se fecha em sua modéstia habitual, e - em vez de dormir sobre os louros que, por justos e bem merecidos, lhe tributam os poucos amigos e admiradores que tem a seu lado, capazes de compreender o sábio e avaliar o valor de seus inventos - trabalha sem cessar, para honrar cientificamente a Pátria e glorificar O nome que carrega. Bem haja o grande frsico-qu(mico brasileiro, que deu ao estudo e à resolução dos mais profundos problemas frsico-qu(micos o fruto inteiro de sua vida, e aos 39 anos de idade descobre novas leis relativas a esse fluido lev(ssimo que enche o espaço universal, enfeixando-as e ordenando-as com precisão matemática den22
tro de sua soberba e bel (ssima teoria, por ele mesmo denominada "telúrico etérea", como resultância de seu ass(duo estudo acerca da "unidade das forças trsicas". Dessa descoberta fez derivar o sábio brasileiro as surpreendentes invenções que há pouco citei, e a' História desta terra, um dia, o consagrará, quando o tempo e os fatos justificarem o imenso mérito de suas obras maravilhosas. Seja-me permitido, agora, consignar nestas colunas os mui felizes resultados que obteve, faz seis meses, meu Rev. amigo Padre Landell, experimentando no Alto de Sant'Ana, na presença do Cônsul britânico, Sr. C. P. Lupton e outras muitas pessoas, diversos aparelhos de telefonia e telegrafia com e sem fios, tudo como constam das "várias" do Jornal do Commercio, do Rio, dos dias 10 e 16 de iulho deste ano. Mas quantos e que cruéis sacritrcios de tempo, de dinheiro e de saúde custam ao Rev. Padre Landell as suas invejáveis conquistas cientrficas! Quantas e que amargas decepções experimentou, ao ver que o Governo e a Imprensa de seu PaIs, em lugar de o alentarem com o aplauso, incentivando-o a prosseguir na carreira triunfal, fizeram pouco ou nenhum caso de seus notáveis inventos! Se o Rev. Padre Landell houvesse nascido na Inglaterra, Alemanha ou Estados Unidos, tão logo as suas tentativas de telefonia' sem fio demonstraram o bom caminho em que o sábio inventor havia colocado os termos resolutivos de seu grande problema, Governo, Imprensa, banquei ros e Povo, como sucedeu na Espanha há alguns anos com o submarino Peral, ter-se-iam apressado em prestar-lhe todo o gênero de recursos, até que chegassem a uma feliz conclusão as suas descobertas cientrficas. Mas o Rev. Padre Landell é brasileiro, e do Brasil já disse o famoso naturalista Agassiz que "tudo é grande, menos os homens", frase que, ao pronunciá-Ia eu perante ele, em tom de queixa, pelo esquecimento ou pouca atenção que os compatriotas prestavam a seus prodigiosos inventos, foi imediatamente contestada, com a bondade angel ical que o caracteriza,
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e com a expansão franca e cordial tão peculiar aos filhos do Rio Grande do Sul, mais ou menos nestes termos: - "Não, meu amigo, não é de todo certa a apreciação do naturalista, e ainda meno~ aplicando-a no meu caso pessoal. Asseguro-Ihe que não só o Brasil é grande pelas galas e riquezas que Deus lhe deu, mas também seus filhos o são. Acontece que os brasileiros, com raras exceções, não têm toda a capacidade cientrfica necessária para me acompanhar nas diversas fases que revestem o estudo e a resolução dos complicados problemas que tenho nas mãos. E óbvio que aqueles que não compreendam bem uma razão cientrfica não possam enquadrá-Ia em seu justo mérito, nem tampouco aplaudir-me e ajudar-me com recursos para prosseguir no estudo e no trabalho. Com certeza, supõem que vivo sonhando entre utopias cientrficils de utilidade aparente. Tenho, entretanto, a consoladora esperança de que, em curto interstrcio, minhas obras cientrficas brilharão como o sol do meio-dia, em virtude da sorte de outros inventores que, mais afortunados do que eu, irão descobrindo os meus próprios inventos, concebidos e executados por minhas próprias mãos no silêncio de minha pobre e reduzida oficina, onde a ciência manda e a experiência executa, antes de os sábios da ~uropa e da América darem forma tang(vel, útil, e aplicação pública a obras iguais ou similares ãs minhas. Bem sei que, em coisas de ciência, o que avança em relação ã sua época, não deve esperar justiça dos contemporâneos. O que desejo é que o fruto de meus estudos se traduza em proveito e glória de minha Pátria, e em holocausto ao Deus Supremo, que me inspira em minhas investigações e me ilumina com suas divinas luzes para penetrar e ordenar, ã minha maneira, esses fatores interessantfssimos da Criação, que nos ligam aos outros planetas, estabelecendo comunicação entre as esferas mais remotas e as entranhas da terra que pisamos. Só por isso, dou-me por bem recompensado das pesadas vigOias, do contrnuo trabalho e das infinitas
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penúrias que me custam as invenções que você e alguns íntimos amigos conhecem pormenorizadamente, e o público somente por alto." Julgue o Brasil, agora, seu eminente filho e avalie suas notáveis obras. Ainda que a pessoa e a fama do Padre Landell de Moura fama um tanto confusa e lendária, diga-se em tempo - não nos fossem desconhecidas, a leitura desse artigo deixou-nos vivamente impressionados, e, ao cotejá·lo com o texto do telegrama inicialmente transcrito, sentimo-nos subitamente assaltados por um pensamento inquietante: Estariam o Padre Landell de Moura e o Brasil sendo furtados em sua glória? Já agora, cheios de ansiedade, di rigimo-nos imediatamente ao arquivo do Jornal do Commercio e, excitados, pusemo-nos a manusear a coleção relativa ao ano de 1900. E lá estavam efetivamente, nos dias 10 e 16 de junho (não "de julho", como consta do artigo), as "várias" citadas pelo en· tusiasta e indignado Dr. Botet, confirmando o êxito das demonstrações cientrficas do padre, que, possivelmente por ser espanhol o correspondente desse jornal, em São Paulo (talvez o próprio Dr. Botet), é mencionado apenas com o sobrenome materno: Landell. Assim está redigida a "vária" do dia 10: "No domingo próximo passado, no Alto de Sant' Ana, cidade de São Paulo, o Padre Roberto Landell fez uma experiência particular com vários aparelhos de sua invenção, no intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da eletricidade, através do espaço, da terra e do elemento aquoso, as quais foram coroadas de brilhante êxito. Estes aparelhos, eminentemente práticos, são, como tantos corolários, deduzidos das leis supracitadas. Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, o Sr. P. C. P. Lupton, representante do Governo Britânico, e sua família." Diz a "vária" do dia 16 de junho:
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"Ao Sr. P. C. P. Lupton dirigiu o Padre Roberto Landell a seguinte carta: "Conquanto sejam muitos os aparelhos que tenho imaginado para demonstrar algumas leis, em parte desconhecidas pelo mundo científico, as quais foram por mim descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da eletricidade, através do espaço, da terra e do elemento aquoso, todavia, por falta de recursos e de bons mecânicos de minha inteira confiança, apenas cinco serão exibidos, a saber: o 'Telauxiofono', o 'Caleofono', o 'Anematofono', o 'Teletiton' e o 'Edifono', todos deduzidos, como tantos corolários; das leis supracitadas. "Estes aparelhos são eminentemente práticos e podem desde já prestar bons serviços. "O 'Telauxiofono'* é a última palavra, a meu ver, sobre telefonia com fio, não só pelo vigor e inteligibilidade com que transmite a palavra, mas também porque, com ele, se obtêm todos os efeitos do telefone 'alto-parlatore' e do 'teatrofone', com esta notável diferença, que, tratando-se da teatrofonia, é bastante um só transmissor por maior que seja o número dos concertantes.* * Além disso, com o 'Telauxiofono', o problema da telefonia ilimitada tornar-se-á uma realidade prática e económica. "O 'Caleofono', como o precedente, trabalha também com fio, e é original porque, em vez de tocar a campainha para chamar, faz ouvir o som articulado ou instrumental. E mu ito apropriado para os escritórios. ***
"O 'Anematofono', com o qual, sem fio, obtêm-se todos os efeitos da telefonia comum, porém com muito mais nitidez e segurança, visto funcionar ainda mesmo com vento e mau tempo. E admirável este aparelho, pelas leis inteiramente novas que revela, .. Nesta mesma "vária", este aparelho aparece com as denominações de "Telouxiafono". "Teloxiafono" e 'Telauxiofone". .... O moderno microfone! lO . . .
O atual "Telespeaker"!
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como, outrossim, o que se segue. "O 'Teletiton', sorte de telegrafia fonética com o qual, sem fio, duas pessoas podem-se comunicar, sem que sejam ouvidas por outra. Creio que com este meu sistema poder-se-á transmitir, a grandes distâncias e com muita economia, a energia elétrica, sem que seja preciso usar-se de fio ou cabo condutor. (O grifo é nosso.) "Disse 'com este meu sistema' porque não faço uso de nenhum dos aparelhos ou das peças até hoje imaginadas para este fim como bem para a cabal resolução do magno problema da telegrafia sem fio. "O 'Edifono', finalmente, serve para dulcificar e depurar das vibrações parasitas a voz fonografada, reproduzindo-a ao natural. Este aparelho tornar-se-á o amigo inseparável dos músicos compositores e dos oradores. "São estes os aparelhos que ~erei a subida honra de apresentar a V. Ex~, os quais cederei de bom grado a quem mais vantagens me oferecer; caso, porém, as propostas que porventura me forem feitas não compensem os imensos sacrifrcios que tenho feito, nem sejam adequadas aos lucros que os proponentes poderão haurir destes aparelhos, desde já declaro oficialmente a V, Ex~ que farei deles doação ao Governo Britânico ou a qualquer Instituição Universitária, a fim de que, com o fruto da exploração dos mesmos, abram, na Inglaterra, duas casas para amparo e educação dos filhos e das filhas desses bravos que têm sucumbido nos campos dessa terrlvel pugna anglo-transvaaliana, com a condição que me dêem o necessário para viver e para continuar com os meus estudos e experiências cientificas." Embora com a leitura dessas duas "várias" e do artigo do Sr. Botet, parte de nossas dúvidas se tivesse dissipado de nossa mente, com relação à existência real dos aparelhos mencionados, ficaram-nos ainda, em virtude de nosso total desconhecimento da matéria, muitas e muitas outras, teimosas ou tlmidas, relativamente à prioridade dos inventos enunciados e à autenti27
cidade das leis por ele formuladas. Afinal de contas, até aquele momento, tudo, ali, não passava de simples notícias e artigos de jornais apenas informativos sem nenhuma autoridade científica, não obstante a austeridade dos órgãos que os estampavam e a honestidade e a sabedoria, por nós não ignoradas, do signatário da surpreendente carta. Tudo isso, entretanto, se, pelo lado histórico-científico, estava a exigir de nós investigação aprofundada daquela affaire, pelo lado afetivo e humano, a curiosidade e o respeito que votáva· mos à sua memória pediam-nos uma explicação para a duplicidade de atitudes existente entre as palavras que o Sr. Botet atribu ía ao Padre Landell de Moura, no final de seu artigo, e as que constavam da segunda parte da carta endereçada ao Sr. Lupton. Em verdade, na carta de junho, em cujas entrelinhas transparece, senão irritação, um grande desencanto da terra natal, víamos um Cientista-Padre oferecer, mediante condições, a um país estrangeiro, cinco de seus inventos; no artigo do Sr. Botet, escrito cerca de sete meses após, víamos um Padre-Cientista, desprendido, cheio de cordura, de compreensão e de piedade, numa comovente profissão de fé patriótica, dar-se "por bem recompensado" por Deus, e desejar que o fruto de seus estudos se traduzisse em proveito e glória de sua Pátria. Que teria arrastado o generoso Padre Landell de Moura a tomar a decisão - desesperada, diríamos nós - de despojar-se de seus próprios inventos e ir doá-los a um país estrangeiro ou às suas instituições? Que fatos posteriores t~riam determinado a não entrega dos mesmos? O desinteresse da Inglaterra pela doação? Pouco compensadoras as propostas recebidas? Falta de licitantes para seus aparelhos? A reconsideração de seu gesto, com a retirada pura e simples da oferta? Por quê? Caíra em si o bom padre e arrependera-se em tempo? Somente o conhecimento completo e profundo de sua vida e de suas obras, de seu caráter e de sua sensibilidade, dos acontecimentos em que se vira envolvido e as circunstâncias em que os mesmos se haviam desenrolado, poderiam dar-nos resposta satisfatória a tantas perguntas intranqüilas. E decidimos, então, de aí em diante, interessar-nos, com real e fervoroso empenho, pelo Padre Landell de Moura, no sentido de averiguar, definitivamente, e em primeiro lugar, o que
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havia de verdade verdadeira em todas as fabulosas histórias que, sobre sua pessoa e prodigiosos inventos, nos habituáramos, desde menino, a ver comentadas e debatidas, não apenas nos serões familiares, mas também nas rodas de Café de nossa cidade natal, num desafio à nossa curiosidade sempre adiada.
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A VERDADE COMEÇA A APARECER ATRAVEs DA MENTIRA CONSAGRADA
Hav ramos conhecido de perto o Padre Roberto Landell de Moura. Muitas e muitas vezes, ao vê-lo, soturno, o poncho-pala claro enrolado ao pescoço fino, mãos nos bolsos da leve batina bem talhada, passar naquele seu andar de assombração pela calçada oposta à de nossa casa (no inverno, o sol batia somente na calçada oposta, e o magérrimo padre gostava de lagartear), atravessáramos a rua, a correr, para tomar-lhe a bênção em troca de "santinhos' . Mais tarde, já em 1921, palestramos várias vezes em grupinhos polrticos e literários, e fizemo-nos amigos. A despeito disso, porém, nunca pudéramos arrancar-lhe qualquer palavra acerca dos boatos que corriam a seu respeito, nas diver' sas ocasiões em que tentáramos fazê-lo. Ele esboçava um gesto indefinrvel, com a mão comprida e descarnada, e encerrava o assunto com esta frase cortante: - Aguas passadas... E mais não dizia. Foi somente depois de ele haver batizado nossa filha que prometemos a nós mesmos (mu.ito vagamente, aliás) violar, um dia, seu teimoso silêncio, fazendo com que aquelas misteriosas "águas passadas" retornassem ao antigo manancial, para, captadas e canaltzadas, irem irrigar o seco 'e tão vilipendiado campo cientrfico do Brasil, e alimentar novas fontes para os sequiosos de saber. Esse dia chegou, finalmente. Embora há muito já lhe tenha a morte selado os lábios para sempre (para sempre?), havemos de fazer com que sua voz seja ouvida por todos os brasileiros, principalmente pelos jovens, para que seu exemplo de renúncia, de dedicação ao trabalho, de amor ao estudo, de sacritrcio à ciência e de devoção a Deus e à humanidade, seja estrmulo, força impulsionadora para quantos, desajudados da fortuna, negados pelos ignorantes, perseguidos pelos invejosos, ironizados pelos medrocres, infamados pelos pseudo-eruditos, ou crucificados pelos estúpidos, fanáticos e incréus, tenham coragem bastante e a necessária força de vontade de desejarem ser grandes, úteis, altru rstas e sábios. Estimulados por tais propósitos, metemos mãos à obra e 31
passamos a mover céus e terras, na caça fatigante de documentos, no penoso trabalho de localizar testemunhas idôneas e informações fidedignas que nos ajudassem a descobrir aquele segredo que se ocultava sob uma crosta de quase cinqüenta anos de silêncio. Depois de uma interminável série de indagações, pesquisas e até súplicas e impertinências, eis que a sorte nos brinda com uma surpresa: membros da família do Padre Landell de Moura, sabedores de nosso intento, confiam-nos o que ainda resta de seu precioso arquivo. E aqui nos encontramos hoje, para revelar uma das mais gloriosas e tristes histórias que já houve em nossa Pátria tão desagradecida. .
••• Mas - perguntar-se-á - quem era, finalmente e em real i· dade, esse Padre Roberto Landell de Moura, que conseguia inspirar a um técnico estrangeiro, a par de tão exaltada admiração, tão amargas e pessimistas considerações, e censuras tão candentes aos brasileiros que se negavam a reconhecer-lhe o valor? Que é feito desses inventos de que falam o tal artigo e as "várias" do Jornal do Commercio de 1900? A pergunta não surpreende. Pouqu íssimos jovens brasileiros, em nossos ginásios, ignoram quem foi Guilherme Marconi. Entretanto, não há, talvez, dois milhares de brasileiros adultos que saibam, ex ata ou aproximadamente, quem foi o Padre Roberto Landell de Moura, ou já tenham, mesmo, algum dia, ouvido ou lido esse nome. E um anônimo entre milhões de patrícios anônimos. Um nome que a maldade e a incompreensão procuraram apagar da terra, que tanto foi beneficiada pelo seu altíssimo gênio. Esse nome, no entanto, já foi um dia conhecido e vitoriado nos meios científicos de vários países estrangeiros, como o de um dos maiores benfeitores que a humanidade já teve. Chegou o momento, porém, de fazer justiça e de resgatar esse crime de lesa-pátria que o passado nos legou como vergonhosa herança. Estamos numa hora de renovação nacional, em que o Gigante deitado já se espreguiça e procura levantar-se de seu berço esplêndido. Já o prestígio das coisas importadas vai
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perdendo um tanto do valor absoluto, quase supersticioso, que sempre lhes emprestamos, e vamos vendo-as dentro de sua realidade relativa, dentro de seus méritos contingentes, condicionais. Chegada, pois, a ocasião de arrancar do esquecimento e da ingratidão dos homens - principalmente da ingratidão dos brasileiros - a memória do Padre Roberto Landell de Moura, reivindicamos para nós, para o Rio Grande do Sul, para o Brasil, algumas das maiores conquistas cientificas dos tempos modernos, no campo da eletricidade: a Lâmpada de 3 electr6dios, a Telefonia sem fio e a Telegrafia sem fio, afora outras de menor importância, como o Microfone moderno, o Telespeaker etc. Não faltará quem veja nessa nossa afirmação, de tão repentina e categórica que ela é, senão uma ris (vel manifestação chauvinista, pelo menos um produto de rematada ingenuidade, quando não de leviandade e ignorância, pois é por demais sabido que foi o italiano Guilherme Marconi o primeiro a transmitir, sem fios, mensagens à distância. Isso é o que quase todos garantem. No entanto, não é bem assim. Bastante contestável é a prioridade de Marconi em transmissões desse gênero, et pour cause. mais discutlvel ainda a originalidade de sua descoberta, baseada toda ela, como se sabe, nas ondas elétricas de Hertz. Não levando em conta as experiências de Henry, Hertz, sir Lodge, Branly, Righi (o mestre de Marconi e, possivelmente, causa da ida precipitada de seu disc(pulo para a Inglaterra, onde foi patentear "sua" invenção, depois de seu pa(s ter-se recusado a aceitá-Ia... l. antes de Marconi um outro já havia transmitido mensagens a distância, e sem fios, com resultados práticos positivos: o nosso patr(cio Padre Roberto Landell de Moura! Realmente, não. obstante explorar um campo diferente o das ondas luminosas - foi o desconhecido cientista brasileiro Padre Roberto Landell de Moura - reafirmamos - o primeiro e o verdadeiro realizador do T. S. F., além de haver sido o mais original. Longe de querermos apequenar o "concurso" de Guilherme Marconi nesse setor - o que seria tarefa inglória a par de vã, já agora - manda a verdade que se diga que ele foi apenas o primeiro a patentear o Telégrafo sem fio (e com que presteza o
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fezl), realização essa que, ainda a negar-se ser de Landell de Moura, não só pela data das patentes, mas também em virtude dos sistemas empregados por este, ainda assim não seria exclusivamente de Marconi. A glória dessa extraordinária realização deverá ser, de justiça, dividida, principalmente, com o grande f(sico francês Edouard Branly. Que estudioso dos fenômenos electromagnéticos desconhece, hoje, que Branly fez, em 1885, na Universidade Católica de Paris, as primeiras experiências sobre os efeitos das centelhas em circuitos fechados? Quem ignora que Marconi, aproveitando-se sagazmente dessas experiências, como utilizando-se do radiocondutor, ou coesor, descoberto pelo mesmo Branly em 1890, quando este o comunicou à Academia de Ciência, de Paris (e sem o qual teria sido imposs(vel a realização do Telégrafo sem fio), bem como do gerador de Hertz e do receptor de Popoff, ampliou apenas o raio de ação das transmissões sem fio, dando-lhe a aplicação prática da transmissão e recepção dos sinais elétricos - seu essencial e grande mérito - resultado, aliás, a que fatalmente teria chegado o próprio Branly, não fora a rapidez um tanto suspeitosa com que Marconi patenteou seu aparelho. Ora, sabe-se que foi somente em 1895, com a idade de 21 anos apenas, que Marconi fez a primeira dissertação sobre telegrafia sem fio. Sabe-se que o ainda quase adolescente f(sico italiano patenteou sua descoberta (Patente nC? 12039) logo no ano seguinte, a 12 de setembro de 1896, na Inglaterra, para onde, como já foi dito, tão inteligentemente sé transferira. Sabe-se também que seu célebre primeiro radiograma, passado em março de 1899 - ou seja cerca de três anos após a obtenção da pàtente! foi dirigido precisamente a Edouard Branly, em reconhecimento à "contribuição" do velho sábio francês à sua portentosa invenção, que, em verdade, consistia apenas em um pequeno dispositivo detector magnético, substitu (do, de resto, três meses depois de seu aparecimento, pelo detector electrolrtico, de origem alemã ... Sabem-se, finalmente, os termos dessa mensagem, em cujas entrelinhas mal se disfarça certo sentimento de culpa tentando sufocar o grito da consciência: Marconi envia a "Mon-
sieur" Branly seus respeitosos cumprimentos, através da Mancha, sendo estes brilhantes resultados devidos em parte à sua obra.
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Isto esclarecido, saiba-se agora que as primeiras experiências de transmissão e recepção sem fio, efetuadas com pleno êxito pelo nosso patr(cio Padre Roberto Landell de Moura, experiências essas baseadas nas ondas landellianas, de que falaremos mais adiante, tiveram lugar entre os anos de 1893 e 1894! Saiba-se mais que, se seus inventos só foram patenteados, um em 1900, e outros mais tarde - o que lhe tirou apenas a prioridade cientifico-oficial - deve-se isso exclusivamente às desumanas perseguições de que foi vitima aquele eminente clérigo, e às sérias dificuldades financeiras com que lutou em toda a sua existência. Entretanto, para que se tenha uma idéia do quanto os conhecimentos do Padre Landell de Moura, já nessa época, estavam avançados no campo da telecomunicação, é suficiente saber-se que de sua Patente submetida ao julgamento do The Patent Office, de Washington, em 1901, já consta, como demonstraremos na segunda parte deste livro, a recomendação do emprego das ondas curtas para aumentar a distância das transmissões! E Guilherme Marconi, a tudo isso? Ah! este insistia em declará-Ias completamenté inúteis na prática, para somente vinte anos mais tarde, em 1924, reconsi· derar seu enorme errO (tanto maior quanto quem o cometia era um sábio tido e havido como o inventor do Telégrafo sem fio). dando o que, nos meios radiofônicos, se conhece pelo célebre passo atrás de Marconi. .. Mas, afinal de contas - insistirão os leitores, com justificada curiosidade - quando se dirá quem foi esse tão louvado e ilustre desconhecido Padre Roberto Landell de Moura? Como era ele? Onde nasceu? Onde estudou? Como viveu e de que maneira morreu? E, sobretudo, que resta de .todos os seus propalados inventos? Um pouco de paciência, e lá chegaremos.
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o HOMEM, O PADRE
E O CrENTISTA SEU NASCIMENTO E O NASCIMENTO DE SUAS TEORIAS Em junho de 1933, o Jornal da Manhã, de Porto Alegre, ao iniciar a publicação da tradução parcial das três Patentes obtidas na América do Norte pelo Padre Landell de Moura, tradução essa feita pelo ilustre professor da Universidade Técnica do Rio Grande do Sul, Dr. Egydio Hervé, encabeçava-a com estas expressivas palavras do escritor gaúcho De Souza Júnior, que transcrevemos por bem caracterizarem não s6 sua bizarra figura (diremos mesmo, quase excêntrica figura), mas ainda o clima de lenda e de mistério que envolvia sua marcante e inconfund ível personalidade, e sua vida excepcional de idealista e realizador. Dizia o jornal rio-grandense:
Poucas pessoas, em Porto Alegre, terão deixado de conhecer a figura esguia, enxuta de carnes, que a batina fazia mais alta e mais magra, do Padre Landel! de Moura. Viam-no atravessar as ruas mais centrais da cidade, um pouco curvo, as mãos nos bolsos da batina, o olhar perdido, como num sonho. Mas poucos sabiam e poucos suspeitavam que ali ia um sábio que a América do Norte já consagrara, empare· Ihando-o com Marconi, com Brighton e com Ruhmer. O que todos sabiam é que o ilustre sacerdote tinha "esquisitices". Que andava sempre às voltas com inventos, com estudos complicados e que, do púlpito onde pregava, aos domingos, na Igreja do Rosário, de que era vigário, dizia verdades duras, que não levantavam celeuma, mas que eram verdades e, por isso mesmo, contundiam. Algumas pessoas afirmavam ter ouvido dizer que ele era o inventor do fonógrafo, e não Edison; mas que o sábio americano, só por ser americano, é que passava por autor do grande invento. Diziam outros que a invenção do Padre Landel! de Moura não era o fonógrafo e sim o Telégrafo sem fio, que ele descobrira antes de Marconi. E outras afirmações eram feitas, todas, porém, vagas, em determinados circulas da cidade. Assim também o descreveu o conhecido escritor e poeta porto-alegrense Reynaldo Moura, ex-diretor da Biblioteca PÚblica, de Porto Alegre:
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Aquela batina esguia como a sombra de um duende, aquele deslizar silencioso e m/stico pelos recantos da velha cidade, ou na cripta do templo tranqüilo como uma visão do mundo pacfficante do incenso, davam, à primeira vista, uma impressão forte, mas fugidia 'como a saudade de um romance morto. E assim era, efetivamente. Roberto Landell de Moura não podia passar diante dos olhos de quem quer que fosse, sem neles deixar impressa para sempre a marca visual de sua passagem. Sua figura, singular e sugestiva, riscava indelevelmente o cérebro dos que o contemplavam, atritando imaginações, sugerindo hipóteses fablllosas ou provocando conjeturas melancólicas. Vendo-o, uma só vez que fosse, era-se obrigado a pensar: - Aí vai um homem que viveu, por certo, um romance, ou sofreu uma tragédia, ou carrega consigo o cadáver de um sonho. E era verdade. Vejamos seu sonho, seu romance e sua tragédia: Nasceu Roberto Landell de Moura no dia 21 de janeiro de 1861, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande. do Sul, na então Rua de Bragança, hoje Marechal Floriano, numa casa que fazia esquina com a antiga Praça do Mercado, tendo sido batfzado, conjuntamente com sua irmã Rosa, a 19 de fevereiro de 1863, na Igreja do Rosário, de cuja freguesia, anos mais tarde, e até ao falecer, viria a ser o vigário. Era ele o quarto de doze irmãos, sendo seus pais o Sr. Inácio José Ferreira de Moura e D. Sara Mariana Landell de Moura, ambos descendentes de tradicionais famílias sul-rio-grandenses. Remediados e muito religiosos, colocaram-no seus pais no Colégio dos Jesu ítas, em São Leopoldo, localidade próxima da Capital gaúcha, onde' fez os primeiros estudos. Terminado que foi o curso de humanidades, tirado todo ele com excepcional brilhantismo, por volta de 1879 transferiu-se o jovem Roberto para a Corte, onde, segundo uns, se matriculou na Escola Politécnica, e, segundo outros. se empregou num ·armazém de secos e molhados, como caixeiro de balcão. Esse pormenor, sem dúvida importante, foi-nos impossível esclarecer. O que é certo, porém, é que ele já se encontrava, havia alguns meses, na Capital do Império, quando seu irmão
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Guilherme, que ia seguir a carreira eclesiástica, passou pelo Rio de Janeiro, em trânsito para Roma. Essa visita de Guilherme foi decisiva na vida de Roberto. Por influência daquele, Roberto, que era também dotado de fervoroso esp (rito m fstico, decidiu, de repente, abandonar o comércio (ou a Escola Politécnica) e abraçar o sacerdócio - o que ia, de resto, ao encontro dos desejos de seus pais, que sonhavam vê-lo padre. Homem de resoluções prontas e firmes, Roberto segue imediatamente para Roma, em companhia do irmão. Ali ingressa no Colégio Pio Americano, e passa, concomitantemente, a freqüentar a Universidade Gregoriana, na qualidade de aluno de trsica e qu (mica, para o estudo de cujas matérias manifestara, desde criança, a mais pronunciada' incl inação. Diante, porém, de tão repentina deliberação, não é ilógico supor-se que, embora fosse ele sincero na escolha da nova carreira e verdadeira sua vocação para o sacerdócio, Roberto jamais teria ido para Roma se, ao lado do Colégio Pio Americano, não funcionasse uma Universidade Gregoriana. A ciência e a religião, por intermédio da voz de Guilherme, teriam falado Roberto a mesma linguagem sedutora - se é que a primeira não tenha falado mais eloqüentemente. Foi em Roma que o jovem seminarista principiou a conceber as primeiras idéias em torno de suá teoria sobre a Unidade das forças físicas e a harmonia do Universo. Ordenado sacerdote a 28 de novembro de 1886, e, "já de volta para o Brasil, quando viajava de Roma para Paris, um fenômeno muito comum que se observa naquelas regiões, durante o estio, veio confirmar-lhe ainda mais fundamente o ponto de vista que, pouco mais tarde, o levaria às suas prodigiosas descobertas e invenções. Esse fenômeno é o mesmo que se verifica muitas vezes em nosso pa(s, especialmente em nossas cordilheiras, quando o ar, aquecido, parece galopar no espaço - fenômeno esse que também se observa na combustão dos campos". De retorno ao Rio de Janeiro, onde logo se espalhou seu nome comó trsico de valor, foi residir em uma casa de padres então existente no hoje desaparecido Morro do Castelo. Ali permaneceu ele cerca de dois meses, durante os quais, conforme confidenciou, certa ocasião, ao conhecido jornalista porto-ale-
a
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grense Sr. Arquimedes Fortini, nas vezes em que, por motivo de enfermidades do coadjutor do capelão do Paço Imperial, seu amigo, ali servira a pedido deste, mantivera longas palestras de caráter científico com D. Pedro II, que "desde 1856 seguia atento o trabalho dos sábios sobre a transmissão do som": e, dez anos antes, na Exposição de Filadélfia, havia feito a notoriedade e, com isso, a fortuna de Graham Bell, então passando por ser o inventor de um aparelho telefônico... já antes inventado e patenteado por 'Elisha Gray, como o reconheceu, em 1888, o Tribunal Superior dos Estados Unidos... Depois dessa curta estada na Corte, a 28 de fevereiro de 1887, foi o Padre Landell de Moura nomeado capelão do Bonfim e lente de História Universal do vetusto Seminário Episcopal, de Porto Alegre, cargo esse que desempenhou com invulgar capacidade e eficiência. Nomeado em 1891 vigário paroquial em Uruguaiana, demorou-se menos de um ano naquela cidade fronteiriça, sendo, em 1892, transferido para o Estado de São Paulo, onde, em conseqüência, talvez, de seu temperamento de bravo que não recuava diante de insolentes e valentões, de sua palavra candente como um cáustico de brasa sobre as chagas do pecado, do abuso e da impenitência, e de suas atitudes destemerosas contra os maus, os hipócritas e os falsos profetas (a exemplo de Jesus, o Padre Landell de Moura não vacilava em empunhar o azorrague para expulsar os vendilhões do templo), foi, sucessivamente, no curto período de sete anos, vigário em Santos, Campinas e San!'Ana. Era então o Padre Landell de Moura, em realidade, homem violento, destabocado, vaidosp e atrabiliário, como queriam algumas "ovelhas negras" incomodadas com a vigilância do pastor? Não. Era, apenas, um Sacerdote um tanto fora dos padrões comuns. De caráter forte e esp(rito combativo, mas movido de fé consciente e corajosa, forrado de imensa bondade, ele próprio parece retratar-se quando, em um de seus velhos manuscritos, dissertando sobre a orientação que devem seguir os confessores em relação aos penitentes favorecidos por Deus com O dom • Pedro Calmon -
O Rei Filósofo.
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extraordinário da oração de unlao mrstica, assim os descreve: "1) Estas pessoas não pecam mortalmente, nem mesmo venial-
mente, de modo franco e voluntário; 2) embora, às vezes, pareçam soberbas, cheias de si, devido ao seu temperamento e educação, quando se trata da própria pessoa ou são elogiadas por algum motivo, aliás justo, geralmente recebem isso com um certo tal qual indiferentismo se não redundar em proveito das almas ou da glória de Deus, ou se mostram constrangidas; 3) elas não têm apego às honrarias nem às dignidades, embora, geralmente falando, sejam cheias de uma edificante e respeitosa dignidade; não têm amor ao dinheiro nem aos bens caducos desta terra; são sóbrias no comer, no beber e no ocupar-se de sua própria personalidade ou de suas obras; 4) são simples, mansas, delicadas, amorosas, condescendentes, porém cheias de energia e fortaleza quando se trata de combater o erro, a mentira, a sedução, a corrupção e a imoralidade; 5) conquanto amem a modéstia e a humildade, são terrrveis quando se levantam contra a prepotência, o servilismo e o abuso de autoridade; 6) não conservam rancor, perdoam facilmente as injúrias e sentem proful1damente quando, em cumprimento de seu dever, têm de magoar ou contrariar o próximo etc." Assim era ele.
* * * Foi em Campinas, nessa época burgo tranqüilo e devoto, proprcio ao estudo e à meditação, que o Padre Landell de Moura positivou, ou melhor: deu forma definitiva às suas teorias, sobre as quais, aliás, não deixara de refletir um único momento. Ali, pois, atirou-se afoitamente ao trabalho de investigação e apuro. Por fenômenos um pouco complicados que também ali observou, mas de cuja natureza, infelizmente, não nos deixou maiores esclarecimentos (ou perderam-se?), deduziu o seguinte princrpio: Todo movimento vibratório que até hoje, como no
futuro, pode ser transmitido através de um condutor, poderá ser transmitido através de um feixe luminoso; e, por esse mesmo fato, poderá ser transmitido sem o concurso desse agente. Estabelecido este então absurdo princrpio, deduziu imedia41
tamente a lei seguinte: Todo movimento vibratório tende a transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e uniformidade de seus movimentos ondulatórias, e na razão inversa dos obstáculos que se opuserem à sua marcha e produção. Mas não parou aí o ousado padre. Espírito incontentado, sempre em busca do "mais além", formula então, audaciosamente, o seguinte grande postulado, que foi, talvez, a causa principal de todos os seus sofrimentos, pelo grande escândalo que provocou entre seu inculto rebanho: Dai-me um movimento vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sób nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá. Como? Pois então havia um Ministro de Deus que insinuava a pluralidade dos mundos habitados, com os quais se poderia falar? Esse postulado, que pretendia ser um grande bem, foi o seu grande mal. Era necessário emudecer esse padre herético. Urgia fazê-lo caiar-sei Mas de que maneira? Estrangulando-lhe a voz, antes que ela pudesse chegar até lá. E foi o que procuraram fazer. O que não puderam impedir, entretanto, foi que ela fizesse, pelo menos, uma parte, do percurso. E aí estão hoje as estações de rádio a atestá-lo!
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AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS
Quatro anos antes de sua morte, no dia 3 de novembro de 1924, declarava o já então Cônego Penitenciário Landell de Moura a um redator do extinto órgão porto-alegrense Ultima Hora, o qual o entrevistara por motivo da anunciada instalação, pela Rádio Clube Paranaense, de uma emissora de grande potência, em Curitiba: "- Deus serviu-se de minha humilde pessoa para levantar o véu que encobre os segredos da natureza,. porquanto O sistema de radiotelefonia, atualmente em uso, é baseado no princípio da superposição dos movimentos ondulatórios elétricos e na aplicação de uma lâmpada semelhante à lâmpada de Croockes, de 3 electródios, um pouco modificada, e a qual serve tanto para transmitir quanto para receber mensagens telefônicas e telegráficas, sem fio condutor." Realmente, a descoberta desse princípio e a invenção e aplicação dessa lâmpada devem-se exclusivamente ao Padre Landell de Moura, e não somente para esses fins, mas também para outros, todos de grande alcance científico. Ninguém, em verdade, antes dele, jamais se utilizara das ondas (ondas landellianas) emitidas pela lâmpada supramencionada. A glória dessa extraordinária conquista cabe, inteira, integralmente, a ele, pois só em 1907 Lee De Forest apresentava ao mundo sua célebre "Lâmpada de 3 electródios". .. Prossigamos, porém, em nossa descrição: Um dia, vindo de Campinas, surge em São Paulo o Padre Landell de Moura, a sobraçar misteriosos embrulhos que continham as peças de um aparelho por ele inventado e com o qual segundo afirmava - poderia falar com outra pessoa colocada a quilômetros de distância, sem ser necessário fio algum. Apesar da dúvida com que foi acolhida tal afirmação, houve quem nela acreditasse, em princípio. Interessados, pediram-lhe provas. Deu-as o estranho padre - com seu aparelho ainda rudimentar, realizou várias experiências de transmissão e recepção sem fio da palavra falada, coroadas, todas elas, do mais completo e retumbante êxito. Verificou-se isso entre os anos de 1893 e 18941 Essas experiências, algumas das quais levadas a efeito com a 43
finalidade de 'interessar as autoridades e conseguir financiadores para o aperfeiçoamento e exploração industrial de seu invento, tiveram lugar, como já foi dito, na capital paulista, do alto da Avenida Paulista ao Alto de Sant'Ana, numa distância aproximada de oito quilómetros, em linha reta - mais de um ano antes, portanto, da primeira e elementaríssima experiência realizada, por intermédio das ondas hertzianas, por Guilherme Marconi, em Pontéquio, perto de Bolonha, na primavera de 1B95, e cerca de seis anos antes de seu primeiro radiograma...
* * * Vencera o Padre Landell de Moura as distâncias, finalmente, sem, todavia, a despeito de toda a evidência dos êxitos alcançados, conseguir vencer, mais que a incredulidade, a má vontade da maioria de seus patrícios, que, havia já algum tempo, vinham enxergando nele um feiticeiro perigoso. E o drama de sua renhida luta contra o espírito superstici0so e rotineiro da época, ganhou de intensidade e virulência. - Ele é um impostor, um mentiroso, um mistificador I ganiam uns. - E um louco e um bruxo! - vociferavam outros. - E um padre renegado, que tem partes com o Demónio! E, em suma, mais do que tudo isso, para um Sacerdote: - E um esp írita! Se, a princípio, o bondoso padre sorriu superiormente de todos esses disparates e acusações, deixou de sorrir, de repente, quando certa tarde, ao regressar de uma visita a um moribundo, a quem fora ministrar a extrema-unção, encontrou a porta da casa paroquial arrombada e seu interior em completa desordem. Ladrões? Antes tivessem sido ladrões, pois o que ali se passara s6 encontra paralelo nas cenas bárbaras verificadas na Idade Média, durante as perseguições aos feiticeiros: tendo repercutido na cidade a notícia de que havia o padre, dois dias antes, na capital bandeirante, conseguido, através de sua máquina infernal, conversar mais uma vez com pessoas colocadas a quilómetros de distância, meia dúzia de fiéis desvairados, como um bando de energúmenos, havia invadido seu modesto mas precioso laboratório e destruído todos os seus aparelhos, ferramentas e utensílios,
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E nesse trágico dia o sábio padre chorou - chorou "como Jeremias sobre a Jerusalém de tantos sonhos", como no soneto de Raimundo Corrêa, que ele sabia de cor e tanto gostava de recitar. Mas em breve refazia-se do abalo. Não era homem que se deixasse acovardar e vencer, ele que vencera os mistérios da natureza. Dos fios arrebentados, recolhidos aqui e ali, das peças ainda aproveitáveis, peças tão custosamente adquiridas, umas, tão penosamente por ele próprio fabricadas, outras, pôs-se, em segredo, com o aux(lio de alguns amigos fiéis, a reconstruir o seu maravilhoso aparelho, e a trabalhar, com mais afinco, em outras invenções. Em 1900, finalmente, sempre perseguido por toda sorte de vexames e dificuldades financeiras, consegue obter uma Patente brasileira, sob o número 3279, expressamente concedida "para um aparelho apropriado à transmissão da palavra à distância, com ou sem fios, através do espaço, da terra e da água". Terminaram ai suas atribulações? Não. Recrudesceram, embora, já agora, aumentasse à sua volta o número de amigos e admiradores esclarecidos, campineiros ilustres que se envergonhavam do espetáculo aviltante oferecido por um grupo de conterrâneos ignorantes. Mas se o Ministro de Deus perdoava, o sábio não se resignava. Ainda ressentido com a violência de que fora vitima, ainda inconformado com a destruição de seus caros aparelhos, em cuja construção gastara todos os seus minguados proventos e anos inteiros de estudo diuturno e de labor árduo e difrcil, magoado com a hostilidade de uns e a chacota de outros, além da suspeição e do indiferentismo com que era encarado pelas instituições culturais e cientificas, pelas autoridades governamentais e pela maioria dos jornais de seu pais, decide o desiludido sábio brasileiro, num momento de amargor e de indignação compreenslveis e que explicam sua carta de junho de 1900, doar seus inventos ao Gove~no Britânico, depois de uma espetacular demonstração pública de seus cinco inventos, entre os quais seu Telefone sem fio, com que transmitiu e recebeu a voz humana, numa distância aproximada, já agora, de 40 a 50 milhas. Não sabemos que receptividade encontrou nos meios oficiais ingleses o oferecimento feito pelo eminente rio-grandense, que, pelo lado materno, era de descendência escocesa - o que talvez, em parte, também explique o sentido de sua decisão. 45
Parentes e velhos amigos do padre, por nós consultados a esse respeito, disseram-nos, uns, que o Sr. Lupton, que era homem formá lista e de poucas luzes científicas, não chegara a levar o oferecimento do Padre Landell de Moura ao conhecimento da Inglaterra, por não acreditar na utilidade prática (e comerciai, principalmente) da Telefonia sem fio; outros, que o cônsul, tão deslumbrado ficara com invento tal, que prometia revolucionar totalmente a ciência contemporânea, o aconselhara a transferir-se em seguida para a Grâ-Bretanha, a fim de lá patentear seus inventos e, depois dessa formalidade necessária, doá-los então, diretamente, à ra'inha Vitória, para o que se prontificava a conseguir de seu Embaixador as credenciais que o recomendariam ao Governo de seu país - alvitre que o padre não aceitara por ter, para isso, de custear de seu bolso todas as despesas de passagem e manutenção; outros, ainda, com certa dose de ironia, que o oferecimento fora efetivamente encaminhado, mas que, por felicidade (ou infelicidade?). a burocracia anglo-saxônica era, como a nossa, tão emperrada, tarda e ramerraneira, que os papéis referentes ao mesmo, dez anos mais tarde, ainda deviam estar transitando pelos canais competentes... Seja como for, o fato é que, até hoje, nada se sabe a respeito. E foi bom que assim tivesse acontecido, pois que, seis meses mais tarde, o cientista e o sacerdote davam-se as mãos, entravam em acordo e faziam as pazes com o Brasil, como claramente se vê do final do artigo do Dr. Botet. Sim, Agassiz não tinha razão. O Brasil não tardaria a fazerlhe justiça, e a glória de seus inventos e descobertas ele só a daria à sua querida Pátria I Muito breve, entretanto, o pobre inventor teria de compreender a dolorosa verdade do provérbio que afirma ninguém ser profeta em sua terra. Esta continuava a olhá-lo com desconfiança. Mais do que isso: corri medo supersticioso. Não havia quem ainda mu rmu rasse ter ele pacto com o Demônio, como, de resto, já havia acontecido, em 1709, com outro padre, também brasileiro, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o Voador, inventor do aeróstato? Por essa atormentada época de sua vida (e, lamentavelmente, atormentada até por alguns padres de mentalidade tacanha!). não faltou quem, revoltado, o aconselhasse a abandonar a batina para dedicar-se inteiramente à ciência. Ele, porém, repeliu
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imediatamente o conselho. Não! Isso ele jamais o faria! - declarou - "não apenas pelo fato de ser de seu dever respeitar o voto sagrado que fizera, ou pela obrigação em que se encontrava de não desgostar seus pais, para os quais seu sacerdócio sempre fora a maior aspiração, mas ainda por ser.esse, realmente, seu destino e a verdadeira vocação de sua alma. Antes, preferiria renunciar a qualquer renome ou glória que pudesse conquistar com seus inventos, ou retirar-se por uns tempos do Brasil, para ser esquecido. Além do mais, não via em que a batina fosse um empecilho para servir-se a Deus, dentro de um laboratório ou oficina, como ele, com ela, O servia dentro do templo". E peremptório: "- Quero mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é inimiga da Ciência e do progresso humano. Indivíduos, na Igreja, podem, neste ou naquele caso, haver-se oposto a esta verda· de; mas fizeram-no por cegueira. A verdadeira fé católica não a nega. Embora me tenham acusado de participante com o Diabo e interrompido meus estudos pela destruição dos meus aparelhos, hei de sempre afirmar: Isto é assim, e não pode ser de outro modo. .. - E com amargura: - Só agora compreendo Galileu exclamando: E pur si muove!"
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NA
AM~RICA
DO NORTE
Prevaleceu a idéia do afastamento temporário. Não na certeza de ser esquecido, senão na esperança de, valorizado lá fora, vir a ser, na volta, melhor compreendido e aceito pela sua terra. Percebera, finalmente, que, para ser-se levado a sério, no Brasil, se fazia mister uma viagem ao estrangeiro, como, desgraçadamente, ainda hoje acontece, embora em escala mais reduzida. E decidiu-se. Os Estados Unidos da América do Norte, como na atual idade, já era então a Meca dos inventores, motivo por que foi esse o pars escolhido pelo Padre Landell de Moura para seu banho de valor.
Deixando, pois, a terra nativa, que tão ingrata e adversa lhe vinha sendo, para lá se dirigiu o insigne cientista, em meados de 1901, sem aux(lio de quem quer que fosse. Era ele então, como o descreve um jornalista especializado norte-americano, pelas colunas do New York Herald de 12 de outubro de 1902, "um gentleman de uns quarenta anos de idade" e estava na plenitude de.seu gênio. Naquele pars, viveu o Padre Landell de Moura por espaço de três anos, durante os quais assombrou os meios cientrficos norte-americanos com seus numerosos e prodigiosos inventos, entre os quais os três da mais decisiva importância para o mundo: a Telefonia sem fio, o Telégrafo sem fio e o Transmissor de ondas.
Essa sua demora nos Estados Unidos, no entanto, também tem uma história: três meses após sua chegada à grande nação, em documento datado de 4 de outubro de 1901, requereu o Padre Landell de Moura a oficialização de seu primeiro invento - o Telefone sem fio - na crença um tanto ingénua de que, uma vez patenteado este (o que julgava poder conseguir em questão de semanas). os meses restantes seriam suficientes para obter o patenteamento dos demais inventos. The Patent Office at Washington, porém, não se satisfez com a exposição teórica de seu requerimento, de que consta a rubrica No model. "Eram tão revolucionárias suas teorias - foilhe declarado naquela repartição, segundo nos informaram seus irmãos Pedro e Dr. João Landell de Moura, pessoas bastante
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Em 1902, O Padre Landel! de Moura enchia páginas, com suas invenções, de grandes jornais estrangeiros, como o New Vork Herald.
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conhecidas em Porto Alegre, onde gozavam do mais alto conceito - que a Patente não poderia ser-lhe concedida sem a apresentação de um modelo do aparelho, para demonstrações práticas." Ora, como já foi dito, seus primeiros aparelhos haviam sido destru ídos, no interior de São Paulo, por um grupo de fanáticos em fúria; quanto aos últimos, não os havia levado consigo. Não teve pois o padre outro remédio senão demorar-se longo tempo na América do Norte, onde pretendia permanecer apenas seis meses - o que veio agravar ainda mais sua situação financeira, já então bem difícil. Dificílima, aliás. Em um dos cadernos que temos em nosso poder, nos quais o Padre Landell de Moura registrava suas observações, esquemas, resultados de suas experiências e apontamentos íntimos, encontramos, por sinal, uma curiosa previsão de orçamento para essa viagem. Pela sua leitura, podem conhecer-se os parcos recursos monetários de que ele dispunha, e ter uma idéia das tremendas dificuldades por que deve ter passado nos Estados Unidos. Vemos ali escrito, a lápis de cópia: Viagem de ida e volta Estada 6 meses 250$000 Roupa (preparativos). Extraord
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Um conto e quinhentos mil réis (mil e quinhentos cruzei' ros atuais)' para viver seis meses no pa rs dos dólares, mesmo naquele tempo de câmbio ao par, era bem pouco dinheiro, por modesta que fosse uma pessoa. Mas não faltavam ao bom padre coragem, fé em Deus e confiança em si próprio. Sem esmorecimento, pois, antes cheio de entusiasmo, apesar dos preju ízos morais e materiais que esse retardamento viria ocasionar-lhe, meteu mãos à obra na construção de novo aparelho. Foi no decurso desses três trabalhosos anos que ele requereu, em ofícios datados de 16 de janeiro de 1902 e 9 de fevereiro de 1903, respectivamente, o patenteamento de outros dois inventos: o Telégrafo sem fio e o Transmissor de ondas. 51
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Entretanto, ainda para esses, The Patent Office exigia os respectivos modelos. Fê-los. Uma vez apresentados estes, foramlhe concedidas, finalmente, as três Patentes, assim mesmo somente depois de repetidas e meticulosas provas e contraprovas, que consumiram dois anos. E que, dada a responsabilidade que aquela República assumiria perante o mundo, com a expedição do reconhecimento oficial de tão relevantes e grandiosos inventos, que, fatalmente, viriam imprimir novas e imprevisrveis perspectivas à civilização e às relações entre os povos, não seria aconselhável registrá-los sem, antes, ter tido provas materiais concludentes, positivas, da exatidão de suas teorias e da eficiência de seus aparelhos. Cumpridas essas formalidades, foram-lhe entregues as Patentes sob os números 771 917, de 11 de outubro de 1904 (Transmissor de ondas); 775337, de 22 de novembro de 1904 (Telefone sem fio), e 775 846, da mesma data (Telégrafo sem fio), conforme se prova com as fotografias, aqui apresentadas, de cada fac-srmile.
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PATRIOTISMO DO PADRE LANDELL
Em extensa crônica de viagem enviada de Nova York pelo Monsenhor Vicente Lustosa a 7 de maio de 1904, e publicada em o Jornal do Commercio do dia 19 de junho desse mesmo ano, assim se expressava aquele ilustre representante do clero brasileiro:
"Visitamos também o nosso patricia Padre Roberto Landel! de Moura, rio-grandense-do-sul, que há cinco anos foi vigário em Campinas de São Paulo, e que aqui reside há 3 anos, fazendo estudos sobre eletricidade. Montou um modesto gabinete e conseguiu descobrir novas e interessantes aplicações de eletricidade, e sobre a espécie já obteve do Governo americano dois privilégios, e está em vias de ak;ançar outros. Os jornais de Nova York já se ocuparam honrosamente de seu nome, publicando o seu retrato e diplomando-o de sábio. E distintos engenheiros, em sinal de apreço e consideração, ofereceram-lhe um jantar. (O grifo é nosso.) Entretanto, o Padre Landell de Moura está inteira-
mente abandonado de seus patricios, vive aqui com parcos recursos e sem poder alargar a esfera de sua atividade nos seus inventos e aplicações. Uma companhia exploradora já quis comprar por preço insignificante os seus privilégios, para rotular tudo como coisas americanas. O americano é muito cioso do seu gênio inventivo. "
Se de começo, porém, como revelou o Monsenhor Vicente Lustosa, houve quem quisesse fraudar a boa-fé do Padre Landell de Moura, apenas divulgada a notícia da concessão das três Patentes, diversos magnatas norte-americanos, vivamente interessados na exploração industrial de seus inventos, movimentaramse em cerrada disputa, desejosos de adquirir, por somas realmente fabulosas, os direitos de propriedade sobre eles. Mas o virtuoso sacerdote rio-grandense era, antes de tudo,
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Capa da Patente concedida pelo Governo dos EUA ao Padre Landell de Moura, acerca de seu aparelho de Telegrafia sem fio.
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antes mesmo de seu desapego pelas coisas terrenas, brasileiro e patriota. Já esquecido das violências e injustiças, dos agravos e calúnias de que fora alvo, movido pela saudade da Pátria, essa saudade avassaladora que, quando estamos longe de nossa terra, nos faz imaginá-Ia acolhedora, reconhecida, generosa e perfeita, recusou todas as propostas, desdenhou de todas as vantagens, para lembrar-se unicamente do engrandecimento do Brasil. Em sua cristian(ssima humildade de sacerdote, ficou impass(vel a todas as promessas de fausto e de relevo mundano com que lhe acenavam; em sua natural modéstia de verdadeiro sábio, o Padre Landell de Moura como que até procurava atenuar a repercussão universal que seu nome estava alcançando, quase a pedir perdão por haver nascido gênio: - Não; desculpem-me. Agradeço infinitamente tamanha generosidade; mas estes inventos já não mais me pertencem. Por mercê de Deus, sou apenas o depositário deles. Vou levá-los para a minha Pátria, o Brasil, a quem compete entregá-los à humanidade. Estas foram, aliás, as constantes de seu pensamento, os refrões de toda sua vida: Deus, Pátria e Humanidade. Nesse sentido, encontramos entre seus papéis a cópia de uma carta bastante expressiva. Nela, assim se exprimia o sábio padre, em resposta a um oHcio que, em data de 2B de março de 1905, lhe dirigira o Centro de Ciências, Letras e Artes, de Campinas:
Botucatu, 8 de abril de 1905. Exmo. Sr. Dr. J. César Bueno Bierrenbach. Digno Secretário-geral do Centro de Ciências, Letras e Artes. Amigo e Senhor. Por intermédio de V. Ex'! tenho a satisfação de notificar aos digmssimos Representantes do Instituto Cientifico de Campinas que aceito muitissimo penhorado o vosso gentil convite para fazer parte dessa bem-nascida instituição, na qualidade de sócio cor-
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• Fac·simile da Patente obtida, nos EUA,pelo Padre Landell de Moura, a
propósito de um Transmissor de ondas, de sua invenção.
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respondente, e que vos agradeço com toda efusão de minha alma; faço votos ao Criador para que, em futuro não remoto, possais ter ocasião de glorificar, não a mim, mas sim Aquele que em meus estudos e pesquisas me ilumina e guia, para decoro da sotaina que envergo, exaltação da Pátria e bem-estar da humanidade. Sou, com toda estima e consideração, de Vossa Excelência, Criado e Amigo muito agradecido. (ai f'ft Roberto Landel! de Moura
E, pois, cheio de piedosa ilusão, confiante no espírito de justiça de seus compatriotas, satisfeito do dever cumprido, que se faz de malas para o Brasil, onde aporta em princípios de 1905. Pretendia ser esse, entretanto, um regresso de curta duração. O Padre Landell de Moura pensava em permanecer apenas três meses no Rio de Janeiro, retornando então a Nova York, a fim de ali, terra de maiores recursos científicos, não s6 prosseguir seus estudos e experimentos, mas ainda patentear seis outros importantes inventos, hoje desaparecidos. Estava escrito, porém, que o futuro cônego não sairia mais do Brasil, e que, em sua Pátria, seria forçado a abandonar seus trabalhos de investigação científica.
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o TRISTE DESTINO DOS INVENTORES NACIONAIS Não é impunemente que se vence a rotina e se supera a sua época. Estava-lhe reservado o mesmo destino de tantos e tantos. outros inventores brasileiros, grandes e pequenos. Já a maldade, a inveja e poderosos interesses ocultos vinham-no, havia muito, espreitando de longe. Aqui, de perto, iriam, com renovado furor, tomar mais corpo as perseguições, e deflagrar, enfim. A v(tima, um sacerdote sem manchas, estava por derT)ais cansada para opor séria resistência às explosões de ódio dos impotentes mentais, e aos manejos do ciúme dos ineptos e dos malogrados. Nem mesmo sua nunca desonrada batina, que era o pur(ssimo escudo de sua bondade e de seu desapego aos bens materiais, nem mesmo sua fé jurada e seu sincero sacerdócio puderam livrá-lo da babugem inimiga, do vilipêndio soez e da difamação mais sórdida. E as intrigas tramadas na sombra por influentes adversários estrangeiros e nacionais, a calúnia dos frustrados e dos cretinos, o motejo baixo dos incultos e as vociferações dos fanáticos, estrugiram, de repente, fortes e inilenc(veis, cevandose em sua reputação ilibada, desvirtuando-lhe até os propósitos altru (sticos. Certo paIS, interessado por outro inventor, preocupado com as atividades do sábio brasileiro, e que já, ao que se dizia na época, à boca pequena, interviera sub-repticiamente dentro do próprio Vaticano no sentido de que não lhe fosse permitido prossegui-Ias, faz sentir sua pressão mais fortemente. E ao bom, e ao casto, e ao nobre benfeitor da humanidade, ao Padre Landell de Moura, a quem, ainda em Nova York, fora, como castigo, cassado o direito de oficiar, aguardam no Brasil a prevenção e a hostilidade dos próprios concidadãos. "Na angelica bondade que o caracterizava", na expressão de um escrito( contemporâneo, alheio à peçonha que, dentro em breve, desabaria novamente sobre sua cabeça, desembarca o diabólico padre no porto do Rio de Janeiro. Um grande amigo seu, o então popular(ssimo Almirante José Carlos de Carvalho, hoje falecido, que o conhecera na América do Norte, onde assistira às suas experiências e também, em muitas ocasiões, lhe valera monetariamente - matando-lhe mesmo a fome, algumas 61
vezes! - abre-lhe, bem contra a vontade do cientista, as colu nas do Jornal do Commercio, em memorável entrevista sobre suas invenções e descobertas. Ficaram todos alerta com aquele roupeta escaveirado, seco como um arenque e alto como um poste, que afirmava poder falar até com a China, como se seu interlocutor estivesse à sua frente, numa mesma sala. Sua reputação de ter "parte com o sobrenatural" parecia confirmar-se. Imediatamente após' sua chegada, dirigiu-se ele, por,escrito, ao então Presidente da República, Dr. Rodrigues Alves, solicitando de S. Ex~ dois navios de nossa esquadra de guerra, para uma demonstração de seus inventos. O Presidente, homem culto e superior, embora um pouco desconfiado, dias mais tarde mandou um de seus assistentes civis ter um entendimento pessoal com o padre, a fim de saber a que distância desejava ele ficasse um navio do outro, dentro da Guanabara. Ora, falar em "distância" ao homem que riscara essa palavra dos dicionários, não deixava de constituir leg(tima gafe. Landell de Moura, nessa ingenuidade que é a caracter(stica dos homens de gabinete e de laboratório, ingenuidade que ainda se "espanta de como haja alguém que faça perguntas ingênuas, pois que é um permanente estado de esp(rito dos verdadeiros sábios a convicção de que todos estejam no conhecimento de seus conhecimentos, olhou-o de alto a baixo e retrucou: - Distância? Dentro da ba(a?!. .. Não, doutor! Fora da bafa, em alto· mar, e à distância máxima que for p'oss(vel. Assombro do enviado palaciano: - Quantas milhas, por exemplo, reverendo? - As que quiserem ou puderem - afirmou com decisão. Meus aparelhos podem estabelecer comunicação com quaisquer pontos da Terra, por mais afastados que estejam uns dos outros. Isto, presentemente, porque, futuramente, servirão até mesmo para comunicações interplanetárias, Coube, desta vez, ao oficial. . .-de-gabinete olhá-lo de alto a baixo: - Muito bem, reverendo. Farei S. Ex~ ciente do que me diz, Chegado ao palácio, o assistente transmitiu sua impressão ao Presidente:
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- Excelência, o tal padre é positivamente· maluco. Imagine que ele chegou até a falar-me na possibilidade de conversar, um dia, com outros mundos.' No dia subseqüente, um telegrama muito amável da Secretaria da Presidência da República informava ao grande brasileiro não ser possivel no momento, lamentavelmente, atender seu pedido, devendo ele, por isso, aguardar a oportunidade. ..• " Por esse mesmo tempo, na Itália, o Governo daquele pais, que já em 1902 cedera a Marconi a belonave Cario Alberto, punha toda a sua esquadra à disposição do jovem eletricista bolonhês... E mais: concomitantemente, no Rio de Janeiro, onde tudo era negado ao nosso patricio, surge alguém que se encarrega de espalhar que o único mérito do padre inventor consistia em haver-se ele apressado (a exemplo do que fizera Marconi. .. ) a ir a um país estrangeiro patentear aparelhos calcados em inventos de outro - o preeminente sábio alemão Ernest Ruhmer. Quanta miséria!
• Não conseguimos apurar o nome desse oficial-de-gabinete.
...... Esse telegrama, de cuja existência muitas pessoas ainda vivas tomaram conhecimento. foi possivelmente, como ín{1meros outros documentos, destru{do pelas traças e pelos ratos, no porão onde, durante anos, estiveram os mesmos depositados.
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o
SISTEMA DE RUHMER E O SISTEMA DE LANDELL
Em realidade, mais ou menos pela mesma época (1902) em que o padre, na América do Norte, pleiteava o patenteamento de seus três inventos, o Professor Ernest Ruhmer fazia demonstrações públicas, na Alemanha, de transmissão da palavra por intermédio da luz, o que, de certa forma~ poderá levar alguém a supor prejudicada a originalidade da invenção do Padre Landell de Moura. Nada menos exato. Além de as hperiências do inventor rio-grandense serem muito anteriores às de Ruhmer, para que se veja a diferença essencial existente entre os sistemas empregados pelos dois cientistas, transcreveremos aqui, com grifos nossos, um resumo do estudo que, sobre as experiências realizadas por aquele Hsico alemão, vem escrito na edição de 12 de outubro de 1902 do New York Hera/d.
"O Prof. Ernest Ruhmer há vários anos é bem conhecido como infatigável Hsico. Há tempos, deu provas de que suas investigações não foram vãs, inventando um instrumento conhecido como "fotografofone". Conseqüentemente, os maiores eletricistas e outros especialistas da Alemanha não se surpreenderam quando ele os informou, recentemente,' que havia descoberto um método para enviar mensagens sem fio, por telefone, e que iria fazer demonstrações práticas a réspeito, e que desejava fossem por eles testemunhadas. As experiências foram feitas em Wannsee, perto de Berlim, e deram os melhores resultados, apesar da chuva pesada que caía e do ar ser constantemente perturbado pelo barulho dos navios próximos. O inventor enviou mensagens sem fio, por telefone, a uma distància, primeiro, de 2 e meia milhas e, depois, de 4 milhas e um quarto.
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• Não esquecer que a primeira Patente do Padre Landel! de Moura foí
tirada no Brasil em 1900, a segunda - requerida em 1901, e que a reportagem acima é de 1902.
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Como conseguiu o Prof. Ruhmer inventar coisa tão maravi Ihosa? - perguntam agora mu.itas pessoas. Respondem os cientistas que ele obteve esse resultado seguindo fielmente o caminho do Prof. Alexander Graham Bell, com relação à luz. Em 1880, o Prof. Bell propunha que o radiofone fosse empregado na utilização de energia elétrica, quer como luz, quer como calor irradiante, para transmissão do som. O radiofone, que então atraía a atenção de muitos, era um aparelho baseado na descoberta do Sr. 'May, quando este procedia a experiência com selênio, e, segundo o qual, quando o selênio é exposto à luz, sua resistência elétrica difere muito de quando está no escuro.
Refletindo sobre esta descoberta, o Prof. Bell concebeu a idéia de que, se um raio luminoso, partindo de uma estação, pudesse ser dirigido para uma placa de selênio, colocada em outra estação, e se sua' voz pudesse ser tornada variável pela voz de um locutor, então se fossem ligados um telefone e uma bateria em circuito com a placa de selênio, as palavras pronunciadas na estação distante seriam ouvidas no telefone. As experiências feitas provaram a exatidão da teoria. Por essa ocasião, o Prof. Simon, inventor da "lâf)1pada que canta", e o Sr. W. Dudell, cientista inglês, mostraram perfeitamente que a luz pode ser usada para transmitir o som, e que suas experiências, neste sentido, foram de grande auxílio para o Prof. Ruhmer, ao mesmo tempo que os especialistas acham muito provável o êxito do método empregado para a telefonia sem fio, desde que seja aperfeiçoado. O Prof. Ruhmer fez uma importantíssima descoberta, e, sem negar, por isto, o que possam merecer outros que realizaram experiências com a luz, ele está perfeitamente apto a receber os elogios que agora lhe fazem, visto como, se não tivesse feito esta descoberta, não poderia ter aperfeiçoado seu sistema de telefonia sem fio. Ele foi o primeiro a descobrir como obter o máximo possível do emprego do curioso metal, que é o se-
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lênio. (?) Supunha-se que o selênio era insensível às cores, ou, em outras palavras, que só sentia a influência dos raios vermelhos e amarelos. Agora (1902), entretanto, o Prof. Ruhmer descobtiu, depois de muitas experiências ·qu ímicas, que o selênio é sensível também aos raios azuis, violetas e ultravioletas, ou aos raios invisíveis. Para mostrar a importância desta descoberta, basta dizer que, se o selênio fosse apenas sensível aos raios vermelhos e amarelos, seria impossível o telefone sem fio de Ruhmer à luz do sol. Quanto mais o selênio for exposto à luz, melhor atuará como condutor de eletricidade - e b invento de Ruhmer baseia-se neste principio. (O grifo é nosso). Suas experiências em Wannsee foram surpreendentemente simples. Na estação transmissora, uma pessoa falava no diafragma de um telefone comum, e as ondas sonoras atuavam sobre a corrente elétrica que produzia a luz, sendo então esta transportada para a estação receptora. Aí, a luz atuava sobre o selênio, o qual, como já foi dito, conduz a corrente de maneira melhor ou pior, conforme a luz é mais forte ou mais fraca; e de acordo com a intensidade da corrente, que ora era mais fraca, ora mais forte, os mesmos sons gerados na estação transmissora eram exatamente reproduzidos na estação receptora. Os diafragmas vibravam de modo idêntico em cada estação, e os sons remetidos de um local eram distintamente percebidos no outro. O selênio usado na ocasião estava num espelho que tinha menos de 14 polegadas de diâmetro. As mensagens foram enviadas da "Torre do Imperador Guilherme", em Havei, para uma ilha próxima a Potsdam, e, embora o espelho fosse tão pequeno e a luz, por conseguinte, tão imperfeita, os sons foram ouvidos claramente nos dois lugares, permitindo que as pessoas conversassem facilmente entre si. A distância era de 4 milhas e um quarto." E mais adiante:
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"A única desvantagem do sistema é que a distância a que podem ser enviadas a, mensagens é reduzida." (O grifo é nosso). Ora, nem foi o Prof. Ruhmer o prim~iro a "obter o máximo poss(vel" do emprego do selênio, "em foi o primeiro a descobrir que esse "curioso metal" é sens(vel aos raios azuis, violetas e ultravioletas. Muito antes dele já o Padre Landell de Moura sabia isso e outras coisas mais, que o outro ainda não sabia, acerca do selênio, pois, embora este não constitu(sse a base essencial de um de seus mais importantes inventos, havia muito vinha ele utilizando-o em algumas de suas transmissões. De outra parte, entre os vários sistemas empregados pelo nosso padre, alguns havia - os principais - que, além de muito diferentes do de Ruhmer e de absolutamente originais (não obstante ser neles também empregad~ a luz como agente condutor do som), eram impressionantemente inéditos em seu processo de recepção: transmitindo as palavras através de um feixe luminoso, sem a mínima intervenção, seja do selênio, seja do mitrofone (simplesmente assombroso!), todas as pessoas colocadas dentro do raio de recepção, sem a utilização de receptor algum,
ouviam-nas perfeitamente, com a ajuda apenas dos próprios órgãos naturais. E o que é ainda mais importante: essas transmissões podiam, praticamente, alcançar o infinito! Para mefhor esclarecer o assunto, façamos um resumo de seus cinco sistemas de transmissões aéreas constantes, englobadamente, das três Patentes expedidas pelo Governo norte· -americano, as quais, como já vimos, levam o nome do Wireless Telegraph, Wireless Telephone e Wave-Transmitter, ou seja: Telégrafo sem fio, Telefone sem fio e Transmissor de ondas: Primeiro sistema - Transmissão acústica da voz articulada, ou fonografada, a curta distância, mediante uma corrente de ar mandada na mesma trajet6ria percorrida pela voz, ao natural, no intuito de reforçá-Ia. (Esse aparelho esteve exposto à curiosidade pública, há muitos anos, num cinema da capital sul-rio-grandense.) Segundo sistema - Transmissão acústica luminosa, através de um feixe de luz. A influência desse feixe, como .da corrente
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de ar, no primeiro sistema, foi descoberta pelo mesmo padre. Terceiro sistema --: Transmissão elétrica da voz humana, através de um feixe luminoso produzido por um arco voltaico, ou qualquer outra fonte de irradiações actlnicas. O receptor, que é uma cápsula selênica, s6 funciona sob a ação dos raios actlnicos - propriedade também descoberta pelo mesmo. Quarto sistema - Transmissão electromagnética do sistema fónico, harmónico, luminoso e da voz humana, mediante a superposição de vibrações elétricas e irradiantes. Neste caso, oPa· dre Landell de Moura utilizava-se sempre de sua lâmpada de 3 electr6dios e de vários outros aparelhos que figuram em suas Patentes, combinados entre si, e segundo os efeitos que o mesmo tinha em mente produzir quando telegrafava, ou telefonava, sem fio condutor. . Quinto sistema - Transmissão elétrica do sinal fónico da palavra ou da nota musical, mediante cintilações produzidas por uma lâmpada de sua invenção, dita cintilante, e a qual figura de seu Transmissor de ondas.
* * * Falamos anteriormente em ondas /andellianas. Expliquemos, agora, o que sejam essas ondas, de que o padre se servia em alguns de seus sistemas de telegrafia e telefonia sem fio. Essas ondas, denominadas /ande/lianas por um jornal de São Paulo que, em 1900, se ocupou das teorias científicas do padre inventor, conquanto sejam, aparentemente, do mesmo gênero das ondas hertzianas, todavia diferem muito destas últimas, porque estas são ondas mais ou menos amortecíveis e produzidas por movimentos vibratórios elétricos sem constância nem uniformidade, que vão, pouco a pouco, decrescendo, ao passo que aquelas - as ondas /ande/lianas - não estão sujeitas a tais transformações e são produzidas por movimeritos vibrat6rios elétricos cujos valores ondulatórios são contínuos, e permanecem sempre iguais. Em suas teorias sobre a superposição, a que já nos referimos, dos movimentos vibrat6rios, acústicos, luminosos, radiantes e electromagnéticos, para transmitir e receber o sinal fónico,
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luminoso, harmônico, acústico e da voz humana articulada, ou fonografada, através do espaço, da terra e do elemento aquoso, essas ondas têm uma ação definitiva, pois se projetam de modo contfnuo, entre as estações transmissora e receptora, formando um campo ondulatório permanente e uniforme. E era através dessa campo que ele enviava suas mensagens telegráficas e telefónicas. Como bem se verifica, as ondas landellianas desempenham, em seu sistema de telegrafia e telefonia sem fio, o papel de um condutor metálico. A idéia da criação desse "campo ondulatório através do espaço" não é apenas uma concepção genial; é hoje uma esplendorosa realidade cientffica, aproveitada para vários fins. Nele baseava, de resto, o Padre Landel! de Moura a possibilidade, ex·
pressa tantas vezes em entrevistas, de transmitir a imagem a grandes distâncias, ou seja a Televisão que agora se pratica. Era ainda nesse mesmo princrpio que ele alicerçava igualmente a possibil idade de, um dia, transmitir-s9 as vibrações correspondentes ao "Iogus", ou verbo mental, assim como hoje se transmitem as vibrações correspondentes à palavra falada! Este último enunciado foi que veio consolidar nas mentalidades acanhadas a sua fama de maluco. .. Mas será que ainda não veremos realizada essa absurda transmissão prevista por esse mesmo tresvairado padre que, há mais de meio-século, tinha o topete ou a insensatez de afirmar ser possrvel, por intermédio de seu "campo ondulatório", transmitir a imagem através do espaço? O futuro no-lo dirá. E no-lo dirá, estamos certos, confirmando-o!
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CONSEQUÊNCIAS DE UMA RECUSA E DE UMA CAMPANHA DIFAMATORIA
Retomamos o fio de nosso relato no ponto em que o Governo brasileiro recusava ceder ao Padre Landell de Moura os dois navios de guerra pedidos, para uma demonstração de seus aparelhos, ao mesmo tempo que se espalhava não serem seus os inventos anunciados. Diante da negativa disfarçada da Secretaria da Presidência da República e da dúvida que se lançava sobre a legitimidade de seus inventos, profundamente abalado, completamente desiludido, o Padre Landell de Moura, num rmpeto de irritação, destruiu seus aparelhos e encaixotou seus livros, cadernos e documentos, já agora resolvido a votar-se exclusivamente ao sacerdócio, em que, por certo, haveria de encontrar consolo para suas desventu ras e decepções. E retornou às antigas atividades cultuais, como vigário em Botucatu, primeiro, e Mogi das Cruzes, depois, voltando mais tarde para o Rio Grande do Sul, onde foi vigário, nos'primeiros anos, da freguesia do Menino Deus, e a seguir da do Rosário. Mas tiveram fim, aí, suas decepções e desventuras? Ainda não, desafortunadamente. Ele não nascera para ser compreendido. Muito teríamos nós a dizer acerca da última transferência de freguesia. O melhor, porém, é parar por aqui, pois, no momento, do Padre Landell de Moura, somente o cientista nos preocupa e interessa. Saiba-se apenas que, apesar das perseguições que lhe eram movidas por algumas ricas e prestigiosas "ratas de igreja", como ele mesmo dizia, moradoras do bairro, as quais não toleravam seu verbo incandescente e direto, mas feito de verdade e de verdadeira prática da religião, foi ele elevado a Monsenhor a 17 de setembro de 1927, e a Arcediago do Cabido Metropolitano seis meses antes d.e falecer, de alma limpa, como sempre vivera, perdoando aos que o haviam sempre acossado e combatido. E foi assim que findou seus agitados dias, incompreendido, ignorado - mais do que isso: negado e, freqüentemente, até mesmo ridicularizado pelos seus patrícios - um dos maiores gênios que o mundo já viu nascer. 71
Ainda em um de seus velhfssimos cadernos manuscritos, salvos milagrosamente da destruição, e que estão em nosso poder, encontramos esta página profundamente melancólica, escrita de seu próprio punho num momento de íntimo desabafo, intitulada Uma Pergunta Patriótica: "Quem foi que inventou a telefonia sem fio? A telefonia sem fio tanto a acústica como a ondulatória luminosa e elétrica ou magnética, foi o autor destas linhas. A acústica, que consiste na transmissão da voz através do ar, ele a conseguiu mediante um aparelho acústico com o qual ele transmitia e recebia a voz humana. A luminosa mediante os raios ou a luz abundante em raios actínicos e ultravioláceos e uma propriedade do selenium por ele descoberta. A elétrica ou magnética mediante ondas elétricas especiais por ele descobertas em seu transmissor fonomicrofone por ele inventado e a sua lâmpada reveladora das ondas elétricas. Além dessas invenções sobre telefonia sem fio, o autor dessas linhas foi o inventor do sistema das ondas reflexas e o descobridor dos receptores baseados no magnetismo e na sinderese magnética. Tudo quanto acaba de expor poderá ser confirmado com as três Patentes que lhe foram concedidas pelo Governo dos E. U. do Norte, as quais cobrem várias invenções. Ele é também autor de muitos outros aparelhos elétricos, tais com o 'Edifono', o 'Caleofone', o 'Teletiton', o 'Geofone' e vários outros que figuram na relação que o livro Brasil Moderno traz, conjuntamente com o seu retrato.' Assim é que o que foi Santos Dumqnt para a navegação aérea quanto ao mais leve e o mais pesado, foi o autor destas linhas para a tra~smissão sem fio tanto do sinal inteligente como da palavra articulada. Santos Dumont está bem, porém o seu colega contemporâneo vive esquecido porque cometeu um crime - o
:----.. Antiga revista brasileira, que era vertida em vários idiomas. Não nos foi passIvei encontrar o exemplar a Que se refere o Padre.
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de querer sair da sacristia, para mostrar ao mundo que a religião nunca se opôs ao progresso da humanidade, e que o sol também passou e ainda continua a passar por estas plagas... (ileg(vel). Tudo quanto tem feito o autor destas linhas obedece às suas teorias sobre a unidade da força e harmonia do universo, outrora mu ito combatida, porém hoje admitida por ele, e outros mais felizes conseguirão confirmá-Ia com os fatos. " E Monsenhor Roberto Landell de Moura, o pioneiro escarnecido, o precursor negado, o esquecido inventor brasileiro, morreu anonimamente, aos 67 anos de idade, no dia 30 de julho de 1928, num modesto quarto da Beneficência Portuguesa, de Porto Alegre, cercado apenas por seus parentes e meia dúzia de amigos fiéis e devotados. Quanto a seus inventos e descobertas, esses andam a( pelo mundo a fazer a glória de uns e a prosperidade de outros. Como pode ser isso? Responde a essa pergunta o próprio Monsenhor Roberto Landell de Moura, através da citada entrevista concedida, em 1924, ao jomal de Porto Alegre, Ultima Hora: "- Os americanos, decorridos os 17 anos de prazo que marca a lei das !:'atentes, puseram em execução prática as minhas teorias. Não sou menos feliz por isso. Eu vi sempre nas minhas descobertas uma dádiva de Deus. E como, além disso, sempre trabalhei para o bem da humanidade, tentando, ao mesmo tempo, provar que a religião não é incompat(vel com a ciência, folgo em ver hoje realizado, na prática utilitária, aquilo que foi o meu sonho de muitos dias, de muitos meses, de muitos anos."
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DOIS EPISÓDIOS DE UMA MESMA LUTA
Antes de entrarmos na segunda part~ deste livro, a qual constará da descrição minuciosa das descobertas e invenções do Monsenhor Landell de Moura, com a tradução integral das três Patentes a ele outorgadas pelo Governo norte-americano - coisa que será feita pela primeira vez - queremos narrar dois episódios bastante ilustrativos da batalha que vimos sustentando, há mais de vinte anos, com o objetivo de provar, não apenas a autenticidade dessas Patentes, uma vez que ainda há pessoas de alto nível científico que, mesmo diante delas, hesitam em darlhe crédito, mas ainda e principalmente a exatidão das leis e teorias, a exeqüibilidade dos aparelhos e, sobretudo, a perfeita sanidade mental de seu criador. Já não queremos referir-nos à prioridade de seus inventos_ Essa será sempre contestada pelos que se atêm a datas oficias_ O que desejamos assinalar é a fama de louco que, ainda hoje, com gratuita, implacável e estranha insistência, persegue a memória do grande físico brasileiro. Vejamos os dois episódios, entre muitos outros, em que aparece a palavra "'ouco", embora, no segundo, o resultado tenha sido favorável ao padre, finalmente_ Em meados de 1939, levando conosco as três Patentes, procuramos o nosso querido e saudoso amigo Prof_ Roquette Pinto, sem dúvida um dos maiores sábios brasileiros de nosso tempo, e, depois de falar-lhe longamente sobre a vida atribulada e as avançadas teorias e realizações do Padre Landell de Moura, lemos-lhe, entusiasmados, um resumo da primeira parte deste nosso trabalho - leitura que ele ouviu atentamente, sem interromper-nos uma só vez. Finda a leitura, triunfantes, apresentamos-lhe as Patentes até aquele momento conservadas em nossa pasta de couro, para armar ao efeito: - E aqui, Prof. Roquette, estão as Patentes que provam tudo quanto acabo de ler-lhe. Roquette Pinto, sem se deixar impressionar pelo nosso coup de théâtre, sorriu mansamente e respondeu-nos, sem segurá-Ias: Não é necessário, meu caro Fornari. Pode guardá-Ias.
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Pela leitura que me fez, já estou bem a par do assunto. - Mas, Prof. Roquette - insistimos - devo confessar-lhe que tenho receio de não haver exposto com bastante clareza, propriedade e exatidão cientifica as idéias e sistemas do padre, e eu gostaria que o senhor verificasse, ao menos, se a tradução das Patentes está fiel ao texto inglês. Como já lhe declarei, não fui eu quem as traduziu, pois pouco ou nada sei desse idioma. Além do mais, eu desejaria sua opinião escrita a respeito. Ela poderia até servir-me de prefácio ao livro, se o senhor o consentisse. Roquette Pinto olhou-nos demoradamente, como se se sentisse penalizado com a desilusão que ia dar-nos, e falou, por fim: - Bem, poeta, já que insiste em ter minha opinião, vou usar de toda a franqueza: não perca mais tempo com esse padre. Depois da afirmação que ele fez sobre a posslvel dispensa do selênio em tais transmissões sem fio, minha opinião é de que se trata realmente de um louco. - E mudou de assunto_ A despeito do golpe que as palavras do querido mestre desferiam sobre nossas esperanças, não esmorecemos. T Inhamos conosco a convicção (e temo-Ia ainda!) de que se Roquette Pinto tivesse lido as Patentes, outra teria sido sua atitude. Talvez 'nós é que, em nosso entusiasmo e incultura, não tivéssemos sabido transmitir ao nosso trabalho as devidas proporções, a idéia exata, o verdadeiro sentido das teorias, descobertas e invenções do padre. E prosseguimos em nosso bom combate. Um ano mais tarde, pessoa amiga, impressionada com nossa obstinação, aproximou-nos de outro eminente cientista, o Engenheiro Naval, Civil e Mecânico-Eletricista, Sr. Mário de Oliveira Penna, Doutor em Ciências pela Universidade da Califórnia, de cuja alta competência e autoridade na matéria, notoriamente reconhecidas e proclamadas nos meios técnicos do Rio de Janeiro, já muito ouvlramos falar. Embora um tanto desconfiado, recebeu-nos o ilustre Dr. Mário de Oliveira Penna, um dia, em sua casa, com o cavalheirismo, a paciência e a boa vontade que lhe são proverbiais. Repetiu-se a cena que já havlamos representado diante do inesqueclvel Roquette Pinto. Mário de Oliveira Penna, Que, como acontecera com o
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autor de Rondônia, durante todo o tempo em que estivéramos com a palavra não nos interrompera nem esboçara o menor gesto, limitando-se a ouvir-nos com atenção e a estudar-nos com curiosidade, teve, todavia, à vista das três Patentes, uma reação diferente da do falecido acadêmico. Segurou-as rapidamente, examinou-as detidamente e pôs-se a folheá-Ias com grande ansiedade. De súbito, deu alguns passos pela sala, parou, olhounos, emocionadfssimo, e exclamou: - Meu Deus, Sr. Fomari, como isto é extraordinário! E como é infeliz e descuidada a nossa pátria! Ter sido o berço de um homem como esse, e tê-lo abandonado e esquecido! Eu não podia acreditar no que o senhor me estava lendo, e devo mesmo dizer-lhe que, enquanto o senhor falava e lia, eu estava pensando que tão louco era o senhor como esse padre. Estas Patentes, porém, são o atestado de um gênio. Não pode calcular como é difícil obter uma Patente de invenção na América do Norte, o número de exigências que são feitas, o rigorismo dos estudos e investigações a que é submetido qualquer engenho, por menos· importante que ele seja, apresentado a The Patent Office, de Washington, antes de aprová-lo. E se esse padre obteve estas, é, pode crer, ;:lorque ele as merecia realmente e tinha direito de prioridade sobre o que nelas se contém. Deixe-as comigo uns dias, ;:lor favor, que desejo estudá-Ias minuciosamente. Comunicar-Ihe-ei, depois, minha opinião por escrito. Deixamo-Ias em seu poder, gostosamente, agora cheios de esperança. Um mês mais tarde, recebíamos do Dr. Mário de Oliveira Penna o seguinte Parecer: "O Reverendo Padre Roberto Landell de Moura, nascido na cidade de Porto Alegre aos 21 dias de janeiro de 1861, requereu e obteve três Patentes de invenção, nos Estados Unidos da América, a saber: a) Transmissor de ondas; b) Telefonia sem fio; c) Telegrafia sem fio. O histórico de suas atividades constantes do processo, perfeitamente documentado e justificado, assim como a análise técnica de suas invenções comparativamente ao que era conhecido na época, e ao que foi, gradativamente, integrando-se na ciência, em sua evo77
lução, até à industrialização da Telegrafia e Telefonia sem fio, provam, de modo a não deixar dúvidas, ter conseguido aquele eminente brasileiro conceber, realizar e provar os princ(pios fundamentais de exiqüibilidade da transmissão, princ(pios esses que, em essência, constituem a base de todas as conquistas e aperfeiçoamentos técnico-elétricos modernos nas comunicações sem fio. Não se pode deixar de reconhecer que o imortal Branly fez' experiências de centelhas em circuito fechado, em 1885, na Universidade Católica de Paris. Marconi, aproveitando-se dessas experiências e dos princípios fundamentais que Branly sabiamente anunciou, correu a patentear um sistema por ele organizado de transmissão e recepção, sem fio. Nem por isso deixa-se de proclamar a genialidade das concepções de 8ranly, sem as quais Marconi não teria obtido a Patente n9 12.039, de 12 de setembro de 1896, na Inglaterra. O Rev. Padre Landell de Moura, embora sem a prioridade científico-oficial, por isso que só mais tarde conseguiu suas Patentes nos Estados Unidos da América, já em 1893 realizava as primeiras experiências de transmissão e recepção sem fio, em São Paulo. A narrativa dos episódios que prejudicaram suas primeiras tentativas, o prosseguimento de seus estudos e o registro, em tempo, de seus aparelhos experimentais, mostra, evidentemente, que somente devido a razões imperiosas e superiores deixou ele de se incluir, na época, entre os pioneiros de tão relevante conquista. Estudando agora, do ponto de vista estritamente técnico, força é reconhecer - porque se demonstra de modo inequ ívoco - que suas três Patentes contêm, de fato, todas as peças essen,ciais de um sistema que se foi aperfeiçoando até constituir o núcleo científico básico que permitiu a industrialização das transmissões e das recepções sem fio. Assim, em suas Patentes sobre "Telegrafia sem fio" e "Telefonia sem fio" verifica-se, além da engenhosidade dos aparelhos demonstrativos, o princípio do 78
circuito oscilatório, sua aplicação às ondas curtas e a todas as vibrações eletro-acústicas; o princ(pio fundamentai da válvula de 3 electródios e a produção de ondas hertzianas e sua transmissão e recepção. Na Patente sobre o "Transmissor de ondas", constata-se, de forma nítida, a existência de um circuito similar aos que são empregados, ainda hoje, embora com modificações e aperfeiçoamentos, nos transmissores. E, sobretudo, observa-se o emprego de um disjuntor automático do transmissor, comandado pelas vibrações sonoras, determinando a correspondência das ondas eletromagnéticas transmitidas às ondas sonoras pelas quais aquelas são produzidas. Este processo é, assim, a característica do sistema inventado e patenteado pelo preclaro Padre Landell de Moura. E sob este aspecto, após 36 anos decorridos desde sua Patente (Este Parecer foi escrito em 1939 e a seu autor passou despercebido que, já em 1900, o Padre Landel! de Moura havia patenteado seu invento no Brasil) e cerca de 47 desde suas primeiras,experiências
em São Paulo, não é outro o princípio em que se apóiam todas as aplicações de transmissores no campo industrial. Há, pois, nas três Patentes do patrício ilustre, idéias, concepções, princípios e engenhosidade na formação de circuitos elétricos, que caracterizam, de forma incontestável, os mesmos métodos e processos que foram aplicados mais tarde, com a natural evolução no meio industrial, com os aperfeiçoamentos da técnica elétrica e dos meios materiais de execução. Assim, estou convencido de que, de justiça e de direito, cabe ao Padre Landell de Moura a glória imortal de ter idealizado o mais perfeito sistema de telefonia e telegrafia sem fio na época em que fez suas primeiras demonstrações, e que não foram outros os princípios aplicados, senão os constantes de suas Patentes, na fase inicial da industrialização dos transmissores e receptores de telegrafia sem fio (T.S. F.l." Graças a Deus! Isto dito por uma sumidade da categoria do
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Dr. Mário de Oliveira Penna, recompensava-nos de todos os imensos sacrifícios que fizéramos, de todo o duro trabalho que tivéramos e, até, do rid(culo a que nos hav(amos exposto aos olhos de tantas pessoas, em nosso teimoso e devotado empenho de querer restituir ao grande sábio rio-grandense a glória que, uns, de má-fé ou por desconhecimento, lhe negaram, e outros lhe surripiaram, de sabidos que foram. E dizemos "até do rid(culo" porque igualmente nós, muitas e muitas vezes, hav(amos passado por "loucos", embora, infelizmente, não por tão loucos como o Monsenhor Roberto Landell de Moura...
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SEGUNDA PARTE
o
TELEFONE SEM FIO
Chegamos, finalmente, ao ponto culminante desta monografia: o da tradução integral das Patentes concedidas ao nosso genial patr(cio pelo Governo dos EUA no distante ano de 1904, em virtude de pedidos por ele apresentados em 1901. Começamos pelo Telefone sem fio, de cuja Patente, que tem o n'? 775.337, já reproduzimos a capa na primeira parte deste trabalho. Agora, mediante processo fotográfico, apresentaremos a seguir, com o texto da mesma, as quatro figuras que esclarecem o pedido da Patente em apreço, Com a palavra o Padre Landell de Moura: "A quem interessar possa: Saibam que eu, Roberto Landell de Moura, cidadão da República do Brasil, residente na cidade de Nova York, distrito de Manhattan, Estado de Nova York, inventei um novo e aperfeiçoado Telefone sem fio, de que dou a seguir completa, clara e exata especificação. O objeto da minha invenção é transmitir e receber mensagens, a distância, por meio de sons e ondas elétricas, correspondentes a palavras articuladas, sem·aux(lio de fios. Nos desenhos anexos, cada número indica sempre a mesma peça. A Fig, 1 é o diagrama do aparelho, seja para uma estação transmissora seja para uma estação receptora. A Fig. 2 é um corte de certas partes do aparelho. A Fig. 3 é uma vista de frente. A Fig. 4 é um corte do di,spositivo que se destina a reforçar as ondas sonoras na recepção dos sinais. Tal aparelho, de um modo geral, consiste num conjunto de elementos capazes de receber e transmitir sons vocais e palavras, e inclui um sistema de sinalização para atrair a atenção do operador. Este sistema de sinalização está aqui indicado simplesmente, para mostrar a sua ligação com o telefone. Um pedido parcial de prioridade a respeito dele foi apresentado em 16 de janeiro de 1902, sob o n'? B9.976. 81
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Considerando primeiramente a transmissão e a recepção' telefônicas, e referindo-se particularmente à Fig. 2, a base (1) serve de apoio a um cilindro (2), sobre o qual desliza telescopicamente outro cilindro (3), ajustável por meio de uma manivela (4), um eixo e um pinhão (5), que permitem levantá-lo e baixá-lo à vontade. Sobre o cilindro 3 é que está disposto o transmissor (Cj. Um telescópio (6), uma bússola (7) e um nível (8) acham-se montados sobre este transmissor, a fim de o mesmo poder ser apontado na direção de qualquer estação distante. Um tubo (9') ramifica-se na extremidade inferior em duas extensões, providas'de um bocal (9) e um fone (10); liga-se o mesmo a outro tubo (12). Ambos esses tubos são conectados à extremidade inferior isolada de um tubo (15). O tubo 12 possui uma válvula que abre para cima (14), e tem, em sua parte mais baixa, meios para produzir uma corrente de ar, por força de um ventilador (11) encerrado na câmara E. Quando alguém faz funcionar o ventilador (que trabalha sob ação de corrente elétrical, e fala pelos bocais 9 ou 10, logo uma corrente de ar abre a válvula 14 e segue, juntamente com os sons emitidos em 9, através do tubo 15. As ondas sonoras, com a corrente de ar, são projetadas pelo funil (16) sobre o defletor (17), e por este são impulsionadas para a frente, dentro do corpo da peça C, que também é atravessada interiormente pelo feixe luminoso complexo proveniente da fonte (18). Em 17, mostro uma placa de quartzo, adequadamente adaptada e suscetível de ajustamento pelos parafusos (24). 18 é uma fonte luminosa, de preferência uma lâmpada de arco, cuja luz é rica em raios violetas. • Em 19, está um espelho, constitu(do de um dorso (20), que pode ser de metal polido ou de vidro, e de forma parabólica, para que reflita somente os raios actínicos ou violetas. Não me limito a essa espécie de luz, ou aos meios indicados para tornar seus raios paralelos, ou aos meios esPEtciais para eliminar todas as radiações fora das faixas dos raios violetas ou actínicos, pois quaisquer meios podem ser empregados desde que produzam raios violetas ou actínicos, ou lhes aumentem a intensidade. Por trás do espelho e a intervalos em volta do corpo do transmissor, há aberturas·de ventilação (22 e 23), sendo a última
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provida de anteparo (26) para vedação da luz. O referido corpo é formado de duas oecas (110 e 111) - (108 e 109). estas funcionando juntas, telescopicamente. A placa de quartzo (17) pode ser substituída por outras substâncias que não s6 possam desviar as ondas sonoras e sejam, ao mesmo tempo, ressonantes, mas ainda permitam a passagem dos raios violetas ou actfnicos da luz. As ondas sonoras, trazidas pela corrente de ar que chega, são projetadas contra o defletor (17j, através do funil (16). Uma grelha (25j, de placas metálicas de pouca espessura, e cobertas essas placas de negro-de-fumo (fuligem). cruzadas entre si, dividem a luz em feixes paralelos, o que, a meu ver, aumenta a eficiência do aparelho. A peça 25 (Fig. 2) é isolada em suas extremidades, como também a sua última placa metálica central, na qual se ajusta a peça D. A peça 25 da Fi9. 1 é eletricamente ligada com os fios 44 e 39 por dois fios isolados, que passam através do centro da camisa isolada que existe entre as duas paredes metálicas, que, movendo-se telescopicamente uma na outra, constituem a peça D. Os dois fios conectores, assim como a peça 25, não têm comunicação com as paredes exterior e interior da peça D. A placa 17, como foi mencionado, é em todos os casos constru (da de modo a não obstruir a passagem dos raios violetas. Isto é importante, pois a minha descoberta consiste
em que, por meio dos raios actinicos de luz, as ondas-sonoras que os modulam podem ser transmitidas a distâncias consideráveis. (O grifo é nosso). No eixo longitudinal do corpo transmissor, há outra estrutura menor, que é o corpo do receptor (29j, tendo na parte interna uma extremidade curva que contém o refletor (30), preferentemente de metal. O referido corpo do receptor é mantido em seu lugar por aparafusamento a um suporte filetado (28) que existe no tubo vertical (15). No foco do espelho (30) existe uma peça semi-esférica (32). hermeticamente fechada e com vácuo interior, "Coberta de quartzo ou de qualquer outra substância permeável aos raios violetas, e contendo uma placa ou grelha de selênio (40), em posição vertical. A célula de selênio dispõe dos bornes 41 e 42, e mais um terceiro (52), que é usado, às vezes, com um fio de ter-
ra, pelo qual são eliminadas as descargas estáticas indesejáveis. 86
(O grifo é nosso). A célula de selênio e seus acessórios são fixados pela haste isolada 53 ao suporte. 78. Dois aparelhos, como o da Fig. 2, ajustados um diante do outro e a uma distância relativamente curta, podem ser usados para transmitir e receber acusticamente - quer dizer, sem o telefone (50) e também sem a cooperação da placa de selênio (40). Então, para transmitir, o operador, depois de pôr em funcionamento o ventilador (11) e a luz de 18 (Fig. 2), falará através de um dos bocais 9 ou 10, fechando o outro. Para receber, parará o ventilador, e levará os bocais 9 e 10 aos ouvidos. O ventilador só é usado na transmissão. O aparelho, nesse ensejo, trabalha baseado nos assaz conhecidos princípios dos espelhos conjugados; e acho que a adição de certas qualidades de luz melhora os efeitos, assim na transmissão como na recepção. O aparelho assim considerado talvez não tenha grande valor comerciai; mas eu o reivindico, porque, a bem dizer, constitui O transmissor de meu telefone sem fio, da mesma maneira que a minha célula de selênio, aqui descrita, constitui o seu receptor. No meu telefone sem fio - isto é, com a cooperação de meus dispositivos fotofônicos - minha luz clara actfnica é absolutamente necessária. Eu digo - "luz clara actfnica", isto é: luz composta de radiações claras e radiações actínicas, como a que é produzida por uma lâmpada de arco, ou por um vidro azul em frente de uma fonte luminosa comum. Para transmitir a uma longa distância, dou preferência à luz composta gerada numa lâmpada de arco. Para produzir raios actínicos ou luz violeta, posso ajustar interna ou externamente ao defletor 17 uma fina pel (cula feita de apropriada substância diáfana. Assim, no alto do tubo 15 está montado um receptor telefônico (50), ligado ao circuito local (55), contendo uma bateria (51) e também incluindo a célula de selênio (40 - 50). E mais do que sabido que a resistência do selênio amorfo varia inversamente à quantidade de luz a que está exposto, aproximadamente. Descobri que essa resistência varia mais particularmente de acordo com a intensidade ou densidade dos raios violetas ou actínicos, acusando com bastante precisão a presença dos mesmos. Neste aparelho, quando uma luz proveniente de estação distante atinge o selênio, a resistência dele varia de acordo com as variações da intensidade da dita luz, intensidade que, de seu turno, varia com as ondas 87
sonoras que incidiram sobre a sua fonte, como já se descreveu; o receptor telefônico (50) reproduz esses sons com grande fidelidade. A pessoa que recebe pode então ouvir, utilizando-se do telefone (50). ou dos bocais 9 e 10 colocados aos ouvidos. Neste último caso, deve fechar a comunicação entre as peças 16 e 15 (Fig. 2). Constitui fato singular e importante o seguinte: Se o receptor for completamente removido, e não empregar-se o selênio, ainda assim o aparelho reproduzirá os sons, tal como foi descrito acima. Acho isto uma descoberta importante, e considero-me em condições de lhe dar (lteis finalidades. (O grifo é
nosso.) Montado no corpo 29 (Fig. 2) e no foco do espelho, há um tubo de Crookes, ou lâmpada catódica (31). Uma série de fios (35), em forma de coroa, envolve a lâmpada e projeta sobre o espelho (30). As pontas desses fios são dobradas para dentro, umas sobre as outras, radialmente, em ângulos retos com o eixo do corpo, e terminam num pequeno círculo, cujo eixo coincide com o c(rculo de seu suporte. Uma das extremidades desta coroa é contra (da para receber em seu interior a célula de selênio. Estas duas séries de fios são ligadas eletricamente uma com a outra e com os bornes 44 e 39. Elas têm comunicação apenas com um dos bornes da placa de selênio (40). Os bornes 38 e 43 são destinados ao tubo de Crookes, e os de números 39 e 44 à coroa de fios. O tubo Crookes é sustentado por uma haste (53). montada num suporte (78), e é ligado a um oscilador (56 - Fig. 1). munido de acessórios próprios, inclusive centelhadores (57) e condensador (59). A bateria primária do oscilador está representada ·em 58, com um adequado interruptor (60). O centelhador, como um todo, está designado pela letra A. Quando o interruptor 60 é levado à posição indicada, as centelhas, que passariam normalmente entre as esferas (57), dirigemse para o tubo de Crookes, de maneira usual. Os raios produzidos no tubo são transmitidos em todas as direções, mas os que ~aem diretamente e os que são defletidos pelo espelho são reunidos num feixe, juntamente com os da luz composta.'
•
Relembremos, mais uma vez, que somente em 1907 De Forest "descobria" sua válvula de 3 electródios, cujo sistema, composto de filamento, grade e placa, é, mutatis mutandis, o mesmo descrito, em 1901, pelo Padre Landel! de Moura.
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Em B (Fig. 1), vê-se outró aparelho centelhador. A bateria (65) está ligada pela chave transmissora (66) e pelo interruptor (70) com o condensador (67) e à bobina de Ruhmkorff (68). tendo a distância explosiva e centelhadores, como é de uso. Um dos centelhadores é ligado à terra pelo fio 106, e o outro pelo fio 69' aos pontos 34 - 35. Estando o interruptor (70) colocado na posição indicada, e a chave (66) - premida de acordo com um código preestabelecido, haverá uma descarga oscilatória entre os centelhadores (69). e os pontos 34 - 35 enviarão ondas etéreas. Acho que o refletor (30) serve para tornar paralelas essas ondas, ou, pelo menos, praticamente paralelas, e para aumentar a distância de transmissão, especialmente em se empregando ondas curtas. • A chave 66 serve, assim, para enviar ondas correspondentes aos sinais Morse, ou outros quaisquer, ou para chamada. Um coesor (71) está ligado pelos fios 96 e 97 com os fios 39' e com a coroa de fios acima descrita. Esses fios agem como antenas, não somente transmitindo mas recebendo as ondas hertzianas. O modo de usar tal coesor, para receber sinais, assim como o das suas pa,rtes associadas, serão apreciados claramente através do relato de seu funcionamento. As ondas que chegam são remetidas ao coesor (71). como ondulações electrostáticas ao longo dos fios, a partir dos pontos 34,35, 65 e 61, e produzem a sua coesão. A corrente da. bateria (Li passa então através do coesor e dos enrolamentos da bobina de indução (Ni, tam*
Esta afirmac5d do Padre Landell de Moura é particularmente Importante, pois é sabido que, até há rela"tivamente bem pouco tempo, os técnicos consideravam a onda curta praticamente inserv/vel, e só aproveitável em experiências de laboratório, por amadores e curio-
sos. O pr6prio Marconi, aliás, declarou, profeticamente. em entrevista, que foi transcrita no número de maio de 1930 da revista brasi-
leira Ciência Popular: Em 1914 eu dizia que o problema do Telefone sem fio estava praticamente resolvido. A profecia cumpriu-se. Em 1924, em iI_
discussão na Sociedade Real das Artes, previ a revolução nas transmissões sem fio, assinalada pela volta às ondas curtas (o grifo é nosso). Como observa um critico, demos um passo atrás, para marcar um progresso na evolução do rádio . .. " Como se vê. Marconi estava um pouco atrasado. ..
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bem para o electro(mã (H), e efetua a descoesão do coesor (71). Da bobina N são tiradas ligações para o "chamador harmônico", ou "uivador" (M), que descrevo a seguir: CO(lsiste o mesmo num receptor telefônico e num microfone colocados juntos, com uma coluna de ar interposta, de tal modo que, quando um começa a fazer vibrar o seu diafragma, logo faz vibrar O outro, e como estão ambos num circuito fechado reagem mutuamente, para produzir um formidável ru(do, de considerável altura, capaz de servir para a chamada do operador. O "uivador" está representado separadamente na Fig. 4. Com a chave 75, como se vê na Fig. 1 a corrente pode ser dirigida para a campainha (100); mas com ela ligada para 103, o "uivador" fica em circuito. Um registrador Morse (K) pode também ser empregado, com sua chave própria (74), e ligado ao contato inferior da chave 75. Suponha-se agora que o operador distante calque a sua chave de sinalização (66), produzindo ondas etéreas que serão lançadas das pontas dos fios 34 e 35. Tais ondas chegam, como foi descrito, e vão atuar sobre a campainha 100 ou sobre o "uivador" M, chamando a atenção do operador local. Este responde por meio de sua chave (66), e a conversa tem in (cio por meio do bocal 9 e do fone 10, ou então sinais telegráficos são trocados com o aux (lio das .cMves próprias, que podem ser ligadas diretamente ao "uivador", em se querendo. Para transmitir os impulsos elétricos, o operador fecha o comutador 69' sobre o terminai 69. Para os receber, coloca a mesma chave no terminal 96 e fecha a chave 61. Para enviar sons articulados, acende a lâmpada e· fala através de um dos bocais 9 ou 10, fechando o outro. Para os receber, fecha a chave 53 e leva o 50 ao ouvido, ou os dois bocais 9-10, fechando, nesse caso, a ligação acústica entre 15 e 16, como foi dito acima. A bobina 56 serve para aumentar o potencial nas extremidades dos fios secundários, quando são usados, juntamente com a outr'l bobina (68), através dos fios secundários, com o intuito de telegrafar por meio das ondas elétricas e dos feixes luminosos, como está amplamente explicado nas especificações das minhas aplicações de telegrafia sem fio, série nO 89.976. Os fios 96 e 97 são munidos de terminais comuns, e as partes H, k, 72 e 100 são conectadas a resistências convenientemente calculadas. 90
Com relação à Fig. 4, o número 88 é uma caixa para conter carvão por trás do electródio 90, ajustável por meio do parafuso 92 e da porca 95; e o número 86 é um diafragma de carvão, com uma mola de retenção (87). Interpõe-se carvão granulado entre o dorso do electródio e o diafragma, como habitualmente, e fazem-se as ligações através dos terminais 89. O número 78 é outra caixa contendo o magneto-receptor 79, que atua no diafragma 81 e dispõe dos terminais 80. As caixas 88 e i8 são ligadas pelo tubo 82, que transporta uma coluna de ar e tem um alargamento (83), com aberturas de pressão (84), que também servem para expelir as vibrações. Em alguns casos, as aberturas (84) podem ser feitas numa extremidade, para que a coluna de ar forme uma coluna compacta. Quando se faz vibrar o diafragma-receptor a coluna de ar vibra, e então o diafragma-transmissor produz mudanças na corrente do receptor, que reage, e assim por diante, harmonicamente, produzindo uma longa e modulada nota musical, de altura cada vez maior e sustentada. Por esta descrição se verifica que meu invento consiste, falando de modo geral, em projetar ondas querelétricas, quer de natureza ainda desconhecida (o grifo é nosso), de alta força de penetração, entre estações, e imprimir, na coluna assim estabelecida, as vibrações correspondentes às ondas verbais. Neste sentido, descobri que o som é perfeitamente transmiss(vel e aparentemente receptível sem aparelhos especiais. Não afirmo que todas as ondas sonoras ou vibrações produzidas por meu aparelho sejam limi·tadas ou afetadas pela coluna luminosa, mas sim que todas as ondas sonoras que partem de um mesmo local, e .se transportam juntamente com esta coluna, chegam à estação receptora. Pode ter havido várias formas de concebê-lo, mas o que reivindico é a sua aplicação. Peço, também, a prioridade dos meios de tornar paralelos todos os raios por meio de uma grelha, tais como os descrevi, e de alguns detalhes da estrutura do "uivador". Tendo assim descrito minha invenção, eis o que reivindico e desejo assegurar por Carta Patente dos Estados Unidos: 1Çl - Um sistema de transmissão de ondas, um gerador de ondas e uma grelha com as suas partes recobertas de negro-de-fumo (fuligem), como foi descrito pormenorizadamente. 2Çl - Um sistema de telefonia sem fio, um dispositivo para 91
chamada, compreendendo um microfone, um tubo que contém o referido microfone em uma extremidade e um receptor na outra, e, ainda, um alargamento no tubo intermediário, entre as extremidades, e aberturas no dito alargamento, para permitir a comunicação entre o ar exterior e a coluna de ar interna, como foi descrito pormenorizadamente. 31? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte lu· minosa comum, uma placa de vidro colorida em violeta, para in· terceptar os raios luminosos e caloriferos da dita luz, quando transmitindo os raios actinicos, e ainda os meios para produzir sons vocais na passagem dos ditos raios actrnicos, e um disposi· tivo receptor de luz controlada, sensivel aos ditos raios actini· cos, como foi descrito pormenorizadamente. 41? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte lu· minosa capaz de produzir raios actinicos, outra fonte para gerar raios catódicos, justamente na passagem dos ditos raios actini· cos, meios para produzir sons vocais na passagem dos ditos raios catódicos, e um dispositivo receptor de luz controlada, para reproduzir os sons vocais supramencionados, tal como foi minuciosamente descrito. 51? - Um teiefone sem fio, compreendendo um aparelho de iluminação comum, um tubo de Crookes, meios pata produzir sons vocais, adjacentes ao dito aparelho de iluminação, e um dispositivo para receber luz controlada, colocado a certa distância, como foi descrito pormenorizadamente. 51? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte de luz comum, meios de tornar paralelos os raios de luz, uma fonte de luz catódica, meios para produzir sons vocais, ligados à fonte de luz comum, e um dispositivo receptor de luz controlada colocado a certa distância, como foi descrito pormenorizadamente. 71? - Um telefone sem fio, compreendendo uma fonte de luz comum, meios de tornar paralelos os raios da referida luz, uma fonte de luz catódica, meios para tornar paralelos estes seus raios, uma grelha colocada na passagem da dita luz comum para modificá-Ia, um dispositivo acústico para produzir sons vocais na passagem da dita luz assim modificada, e um dispositivo receptor localizado a certa distância, e sensivel à dita luz assim modificada, como foi substancialmente descrito. Em testemunho do q"ue, assinei meu nome nestas especifi-
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cações, em presença de duas testemunhas subscritas. ROBERTO LANDELL DE MOURA
Testemunhas: Jno M. Ritter. Walton Harrison. "
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UMA EXPERII:NCIA DE 1893 REPETIDA EM 1933
Neste ponto, abrimos um parêntese na transcrição que nos propusemos fazer das três Patentes do Padre Landell de Moura. I: que, a despeito da existência das mesmas, do testemunho de dezenas de pessoas idôneas, algumas ·das quais ainda vivas, * e das notrcias estampadas em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro, no fim do século passado e princípios deste, relatando o êxito das experiências do padre, ainda há quem duvide não apenas haver aquele sacerdote alcançado qualquer sucesso com seus aparelhos, mas ainda da possibilidade de transmitir sons inteligentes através de um feixe luminoso. Em tal sentido, vamos, data venia, transcrever aqui um artigo publicado pela revista carioca Ciência Popular (o Cei Ary Maurell Lôbo, seu diretor, é um dos raros e obstinados combatentes da causa Landell de Moura), em seu número 14, de novembro de 1949, ao ensejo da publicação, em suas acolhedoras páginas, do primitivo texto deste livro. Assim está redigido esse sensacional artigo, em que é relatada a transmissão feita, em 1933, em Nova York, de um programa musical, por meio de um feixe de luz: NOS CALENOÁRIOS OFICIAIS DA RADIOTELEFONIA, DA RADIOTELEGRAFIA E DA TELEVISÃO ESTÁ FALTANDO UM NOME: - O DO MONSENHOR ROBERTO LANDELL DE MOURA
"A história triste do nosso genial patrício Monsenhor Roberto Landell de Moura, que nos vem sendo relatada pelo ilustre teatrólogo e escritor Ernani fornari, está despertando extraordinário interesse, assim no meio civil como no meio militar. E não é para menos. Por dois motivos, sobretudo. Primeiro, as injustiças que sofreu o santo sacerdote, por haver, sob a inspiração de Deus (foi ele quem o disse), formulado uma nova teoria - a da unidade física do Universo, e,
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Este cap"ru/o foi escrito em 1949.
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com essa teoria, idealizado e constru ído, ainda no século passado, quando os cidadãos comuns nem sequer desconfiavam da possibilidade, aparelhos capazes de transmitir a distância, sem fio, sons articulados e sinais telegráficos, o que lhe valeu de seus concidadãos e de seus pares a acusação de ter pacto com o Diabo, ou o epíteto de maluco. Segundo, a glória que advirá para o Brasil, incluindo um seu filho no rol dos grandes pesquisadores que tornaram possível a telefonia sem fio, a telegrafia sem fio e a televisão, e justamente antes de Marconi, antes de Lee De Forest, antes, enfim, de tantos nomes famosos que assinalam vultosos progressos no campo da eletrônica, e isto quando as mais poderosas nações do mundo estão, numa guerra fria, a reivindicar para os seus naturais todas as invenções notáveis. Monsenhor Roberto Landell de Moura conseguiu nos EUA, mediante pedidos feitos em 1991, três cartas patentes, abrangendo a radiotelefonia, a radiotelegrafia e a transmissão de ondas. Esses documentos estao hOJe em nosso poder. Mas muito antes ele já fizera experiências em São Paulo, e será fácil às autoridades desse importante Estado documentá-Ias rigorosamente, em qualquer tempo. Também as autoridades cio Rio Grande do Sul, donde era natural o sábio Monsenhor, muito poderão contribuir para a reconstrução dos seus trabalhos. Uma coisa é de toda urgência e será vergonhoso para o Brasil não executá-Ia: Impõe-se a imediata construção dos aparelhos patenteados nos EUA pelo Monsenhor Landell de' Moura. Muito convém que colaborem em tal empreitada a Escola Técnica do Exército, O Serviço de Transmissões do Exército, o Departamento de Eletrônica da Marinha, o Departamento Nacional dos Correios e Telégrafos, o Instituto Tecnológico de São Paulo, a Ordem dos Inventores do Brasil, afora outras organizações, e também técnicos eminentes no campo da eletrônica, sejam nacionais, sejam estrangeiros aqui radicados.
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Afirmamos que não será perdido o tempo, nem postos fora os poucos recursos que se fazem necessários. Os aparelhos do Monsenhor Landell de Moura, ninguém duvide, funcionarão excelentemente, dentro de suas possibilidades. Os princípios em que se baseiam estão certos. Ademais, nos EUA, várias experiências já foram realizadas, utilizando "os raios de luz como fio telefônico", com feliz sucesso, apenas sem que o nome do nosso genial patrício fosse sequer mencionado. Prestem atenção os brasileiros à fotografia, que aqui estampamos, da página 37 da edição de abril de 1933 do conhecido mensário norte-americano Popular Science, onde sob o título - "Um feixe de luz transporta a música", se dá conta da "nova idéia" (!) que permitiu a uma orquestra, tocando no edifício Chrysler, da cidade de Nova York, diante de um microfone, ter suas músicas transportadas para uma estação de broadcasting, situada a meia milha de distância, através de um projetor luminoso de 50.000 velas. Na citada página do Pooular Science. além na nescrição da experiência dos nomes dos cidadãos norte-americanos que vinham dedic~ndo-se ao assunto, há quatro fotografias, a saber: 1~) Na janela do edifício Chrysler, o projetor luminoso de 50.000 velas, destinado a fornecer "o feixe de luz para o transporte da música até o estúdio"; 2~) na recepção, "a lente que concentra o feixe luminoso que chega sobre a célula fotelétrica , destinada, por seu turno, a converter as ondas luminosas em impulsos elétricos, e estes em ondas sonoras; 3~) a célula fotelétrica; 4~) a fonte lumi· nosa empregada - não: uma lâmpada de arco, e sim: uma lâmpada especial, criada por Elman B. Hyers, funcionando com vapor de mercúrio dentro do campo gerado por uma bobina de alta freqüência. Não há esquecer que as invenções do Monsenhor Landell de Moura permitem as comunicações a qualquer hora e com qualquer tempo. E com o emprego de radiações invisíveis (a impropriamente chamada -
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"luz invisível") talvez que se prestem para fins militares. Não podemos terminar este apelo que dirigimos às autoridades e ao grande público do Brasil sem fazer uma referência ao grande drama também vivido por Emani Fomari: depois de concluir o seu trabalho acerca de Landeil de Moura, não achou quem lhe desse maior atenção, e até os jornais em que pretendeu publicá-lo não cederam o menor espaço. Iô que os brasileiros em geral não acreditam nos patrícios, e supõem que todos sejam da mesma estreita bitola. O assaz conhecido teatrólogo e escritor teve de guardar durante dez anos a monografia que escrevera e os documentos que a fam íl ia do notável Monsenhor confia· ra à sua guarda, até que nós, de Ciência Popular, fomos formar a seu lado, para a grande batalha da reivindicação. Nos calendários oficiais da radiotelefonia, da radio· telegrafia e da televisão está faltando um nome: o do brasileiro Monsenhor Roberto Landeil de Moura."
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TELEGRAFIA SEM FIO
Novamente com a palavra o Padre Roberto Landell de Moura, através das Especificações que formam parte da Carta Patente N'? 775.846 concedida pelo Governo dos Estados Un i· dos da América, a 22 de novembro de 1904, em conseqüência de requerimento apresentado a 16 de janeiro de 1902, série 89.976, em que é desdobrado o requerimento original entrado no Departamento de Patentes a 4 de outubro de 1901, série 77.576: .. A quem interessar possa: Saibam que eu, Roberto Landell de Moura, cidadão da Re· pública do Brasil, residente no distrito de Manhattan da cidade de 'Nova York, Estado de Nova York, inventei um novo e aperfeiçoado Telégrafo sem fio, 'de que dou a seguir completa, clara e exata especificação. Minha invenção relaciona·se a um sistema de telegrafia sem fio que emprega ondas elétricas comuns, quer em transmissões diretas - isto é: não refletidas - quer refletidas e de curto com· primento, em combinação com certos aparelhos e disposrtivos próprios para gerar e, da mesma maneira, transmitir e receber sinais gráficos, harmônicos ou fonéticos, através do espaço ou, possivelmente, através da neblina e da água. De acordo com a minha invenção, está previsto um circuito local que pode ser fechado, tanto constante quanto intermiten· temente, e ao qual está ligado um dispositivo produtor de som contínuo, ou intermitente. Este, que recebe energia de uma bateria local, tem sua ação modificada, quanto à intensidade, de acordo com os imp't!sos elétricos intermitentes da estação trans· missora, que atua sobre um dispositivo de resistência variável, que pode ser um coesor. Para os sons contlnuos, a resistência variável não atua especificamente como coesor, mas, mais pro· priamente, como um microfone granular muito sensível, cuja resistência é controlada pelos impulsos da estação transmissora, sendo que essas variações de resistência afetam a intensidade do som, por afetarem a corrente local que alimenta o produtor do som. Embora eu assim especifique e, a seguir, descreva o modo de usar um circuito local, desejo, contudo, declarar que há outros 101
meios de utilizar o meu invento. O princfpio básico repousa simplesmente nas modificações da resistência do microfone, e as funções de receptor podem ser exercidas por qualquer detector de rádio do tipo do de Branly, provido de um electródio controlável. Se bem que eu fale, adiante, de impulsos refletidos e de ondas de curto comprimento, estas não são essenciais, não obstante eu as empregue em alguns casos e a distâncias relativamente curtas, de modo a obter melhores efeitos. O mesmo vale com relação aos raios de luz, ou outros raios ativos, usados conjuntamente com as ondas refleti das. Minha invenção é ilustrada pelos desenhos anexos, nos quais os números e as letras indicam sempre as mesmas peças em todas as figuras. A Fig. 1 é o esquema elétrico de todo o aparelho usado em uma estação. A Fig. 2 vem a ser o corte que mostra parte do receptor e do transmissor. A Fig. 3 é uma vista, de frente, da parte superior do mesmo, e a Fig. 4 é um detalhe do dispositivo de produzir, foneticamente, os sinais telegráficos. Comporta o aparelho um suporte (A), uma estrutura maior (8), uma estrutura menor (C), um centelhador (O), o receptor (E) e outro centelhador (F). A peça 1 do suporte A está montada sobre tubos concêntricos (2), dispostos verticalmente, sendo o de fora móvel e comandável por um dispositivo de manivela (4), pinhão (3) e cremalheira, de tal jeito que a estrutura 8 pode ser levantada ou baixada à vontade. A estrutura 8 consiste em duas caixas, cil índricas ou cúb, cas (5), ajustáveis telescopicamente uma dentro da outra, sobre uma das quais estão montados um telescópio (6), um nível de bolha de ar (6 a ) e uma bússola (7~). cam o fim de orientar a estrutura na direção de uma estação distante. Dentro, há um espelho parabólico (8) e uma fonte luminosa (9), para ser empregada em meu Telefone sem fio descrito detalhadamente em outro requerimento meu. Uma grelha (10), feita de metal recoberto de negro-de-fumo, está colocada na extremidade exterior da estrutura, com o intuito de tornar paralelos os raios de luz do espelho (8). A estrutura menor (C), cil índrica ou cúbica, montada sobre o suporte 11, concentricamente à estrutura maior (8), consiste numa cobertura intermediária de material isolante (12), na qual es102
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tá montado um cilindro metálico (13), com uma das extremidades hemisféricas, na qual está disposto um espelho côncavo (14), feito preferencialmente de metal. No interior dessa estrutura, há um suporte isolado (15), e sobre ele um feixe de fios (16 e 18), em forma de coroa, tendo uma extremidade contraída para suportar uma célula de selênio (21), e as extremidades da coroa terminadas em pontas ou antenas (17 e 19), dobradas radialmente e em ângulos retos, na direção do eixo do cilindro. Um tubo de Crookes (20) e uma célula de vidro hermeticamente fechada (21), em que foi feito vácuo, não tendo essa peça nenhuma comunicação pneumática com a outra, estão previstos para ficar parcialmente envolvidos pelos fios (estes equivalem a caixas de Faraday). A célula de vidro hermeticamente fechada tem a forma hemisférica e é empregada para conter uma placa de selênio, como descrevi em meu outro requerimento. A célula de selênio é aqui indicada porque pode ser usada para telegrafar-se com luz intermitente, em conexão com a lâmpada 20, que exerce ação nas placas de selênio das estações transmissora e receptora. O fio 23 está Iiqado ao feixe de fios 16 e 18 e também ao 44 sozinho, para transmitir, e ao 46 sozinho, para receber. O interruptor 38 é aberto para a transmissão, mas fechado para a recepção. Os fios 46 e 25, e as peças 55, 58, 56 e 60 são providos de resistências convenientes. Estão previstas as conexões elétricas 24 e 25 para o tubo de Crookes, da maneira usual. Este é excitado, como habitualmente, por meio de um centelhador (D), que consiste em uma bateria (30), uma bobina de Ruhmkorff (31) - a ele ligada e controlada por um interruptor (32) - um condensador (33), um par de esferas polidas (34) e um fio de terra (35) munido de um interruptor (36) para quando se desejar tirar de função, como excitadores, as esferas polidas, e para ligar os fios à terra, como proteção contra relâmpagos ou acidentes. O fio 22 está ligado ao fio 37, que se acha munido de um comutador de terra (38), que deve ser fechado para receber, como foi dito. O interruptor 32 pode, às vezes, ser substitu (do em lugar da chave 41 - isto é, quando as conexões secundárias das bobinas 43 e 31 cooperam para aumentar a diferença de potenciai entre os terminais dos secundários da bobina 31. Então, estando 44 fora de ação, a conexão é feita somente com a antena, por meio de 23; 24 liga 23 e 22 a 25, e à sua outra extremi106
dade (22) liga-se apenas a 37; 37 liga-se a 38, e este a 45, pela terra. Neste caso, o interruptor 36 está ligado a 34, onde se produzem as descargas oscilantes, e as interrupções convencionais são feitas pela chave 32. Para transmitir por lampejas luminosos, uso o mesmo dispositivo, estando o interruptor 36 em posição neutra, assim como os terminais 34. Para receber por lampejas luminosos, uso os mesmos dispositivos descritos em meus já mencionados requerimentos anteriores. Ainda hão de ser especialmente assinalados: um dispositivo próprio de sinalização (F), consistente de uma bateria local (39), um interruptor (40), uma chave de Morse .(41), um condensador (42) e uma bobina de Ruhmkorff (43), munida de esferas polidas (44), de modelo comum. De uma dessas esferas, um fio (45) liga à terra, e outro fio (46) liga à coroa de fios 16 e 18. Essa coroa, que pode variar indefinidamente de forma, é usada na parte interior da peça C somente quando trabalha com ondas curtas e, então, somente quando se desejar usar a luz de 18 ou de C. O coesor 50 está ligado a uma bateria local (51), munida de um comutador (52), sendo este adaptado de modo a pôr em cantata a bateria, ora com 53, ora com 54. O descoesor está indicado imediatamente à esquerda do coesor, e consiste em um electroímã (55) munido de uma armadura (56), do modelo geralmente usado nos coesores, sendo a referida armadura adaptada para bater no tubo do coesor 50. O descoesor é ligado, pelo fio 57, ao fio 25, e 57 pode ligá-lo a 53, 59 e 54, por meio do comutador 52. O cantata 58, que está adaptado para estabelecer cantata com a armadura 56, está ligado ao fio 25'. O fio 59 serve para estabelecer comunicação entre a bateria 51 e a campainha 60. Um aparelho registrador Morse, de modelo comum e munido de todas as peças auxiliares que acompanham tal aparelho (61), é controlado por um interruptor (62), conectado, quando fechado, ao cantata 54 do interruptor 62. Do cantata 53, um fio (63) conduz ao primário (64) de uma bobina de indução, partindo, desse primário, um fio (65) para o receptor sonoro 66. Esse receptor está indicado com maiores detalhes na Fig. 4. Sobre a armação do receptor e~tão montados terminais (67), sendo que o parafuso do lado esquerdo é isolado, como está indicado. Um diafragma (68), protegido por um disco (70) de material isolante, está montado diretamente sobre a armação, e 107
sobre ele existe, espalhada, uma camada de carvão mordo (69). Esse carvão é mantido pelo botão de carvão 169a l. sobre o qual está montada uma caixa isolada (loa). Uma mola de lâmina (71) comprime normalmente o diafragma 68, suavemente, sobre o carvão mordo, e uma mola semelhante (72) comprime o botão 69 a para baixo. Uma peça, tronco-eônica (731. é toda perfurada em anéis concêntricos, destinando-se esses furos (74) à emissão de sinais fonéticos. Por sobre a armação está montado um diafragma (75) de ferro, e, conectados ao magneto 77 existem os terminais 76 e 78. Eis como se opera com o meu aparelho, empregando-se ondas curtas refletidas ou ondas luminosas: - o interruptor 36 é ligado ao fio 35, e o interruptor 32 é fechado~como mostra a Fig. 1; desse modo, excita-se o tubo de Crookes que entra a emitir raios catódicos. O manipulador 41 está agora disposto da maneira adequada em telegrafia Morse. Em conseqüência, a bo· bina de Ruhmkorff (43) faz com que salte a centelha entre as esferas. Estando o fio 45 ligado à terra, as antenas 17 e 19 emitem ondas etéreas, semelhantes às ondas hertzianas. Calcando a chave 41, o operador faz centelhar a bobina de Ruhmkorff (43) continuamente, interrompendo-se as centelhas todas as vezes que for a dita chave levantada. Os raios catódicos, produzidos pelo tubo de Crookes, são naturalmente refletidos pelo espelho (14) e seguem a direção geral do eixo da armação. Esses raios catódicos, como as ondas actrnicas e etéricas acima descritas, aparentemente se reforçam umas às outras, em seus efeitos, e o resultado é que o telégrafo é mais eficiente quando todas as radiações são empregadas. Os raios catódicos, emitidos em oscilação contrnua, não são controlados diretamente pela chave transmissora; eles apenas facultam a propagação das ondas hertzianas, controláveis pela citada chave. Quando o centelhador D está parado, os sinais telegráficos não são tão distintos como quando o mesmo está em ação. Agora, o funcionamento do receptor: ·as ondas que chegam da estação transmissora, produzindo efeitos nas coroas de fios 17 e 19 e na peça 10, que age como uma capacidade ligada às coroas de fios ou antenas, causam perturbações nos fios 23, 46, 38, 37 e 25, e vão ao coesor 50, por isto mesmo afetando a sua resistência. O resultado é que, quando o aparelho está na posição indicada na Fig. 1 em E, a bateria 51 envia corrente 108
por 50, 60, 59, 57, 56 e pelo fio 58, de volta à bateria. Em sendo excitado o coesor, a campainha toca. Advertido, o operador apenas move o comutador 52, para receber a mensagem: para baixo, de modo a empregar o contato 54 e fechar o interruptor 62, caso deseje recebê-Ia pelo aparelho Morse: P31ra cima, empregando o contato 53, se quiser utilizar o receptor fonético. Para receber as mensagens por meio de modificações produzidas em um som continuo, em concordância com os impulsos intermitentes enviados pelo transmissor, o contato 58 deve ser firmemente comprimido contra a armadura 56, o interruptor 62 deve ser aberto e o comutador '52 colocado sobre o contato 53. Sendo o coesor excitado pelo fechamento da chave, na estação distante, estabelece-se o seguinte circuito: 51, 50, 50, 66, 65, 64, 63, 57 (através de 52 por 53), 58, para a bateria. O primário 64, recebendo assim energia, excita o secundário 79 e estabelece uma corrente alternada secundária, local, através dos fios 80 e 81 (Fig. 4), e do magneto 77. Este, agindo sob a ação dessa corrente, faz o diafragma 75 vibrar violentamente. As vibrações do diafragma 75 fazem com que seja a coluna de ar da peça 73 alternadamente comprimida e rarefeita, e cQnseqüentemente vibre o diafragma 68 e varie a resistência de carvão mordo. O comprimento da coluna de ar deve ser tal que o diafragma 75 provoque a vibração do diafragma 70 dentro de certo espaço de tempo predeterminado, com o fim de amplificar as variações da corrente da bateria que atravessa o carvão mordo. Esse receptor fonético age, até certo ponto, como "relay" automático. E claro que a ação mecânica da coluna de ar em vibração pode ser aplicada para aumentar ou diminuir a resistência do carvão mordo, e, se isso for feito em momento oportuno, o efeito da corrente que passa através do carvão mordo pode ser aumentado. A vibração do diafragma 75, produzindo na peça 73 a condenSação e a rarefaçâo da coluna de ar já mencionada, faz com que os furos 74 emitam uma nota musical, que descobri ser semelhante a uma nota de flauta. O efeito geral é mais ou menos o mesmo que seria produzido se uma pessoa fizesse emitir um sinal Morse por uma flauta, representando uma nota curta - um ponto, e uma nota relativamente longa - uma linha. A ligação de um interruptor é necessária para os efeitos prolongados. 109
Tendo assim descrito minha invenção, reivindico, como novos, e desejo assegurar por Carta Patente: 1c.> - Um sistema de telégrafo sem fio, compreendendo: os meios de gerar duas ou mais espécies de ondas, de comprimentos diferentes ou de perrodos diferentes; os meios de dirigir as ditas ondas para uma estação distante, e de modificar uma ou mais das espécies, de acordo com um código; e mais os mei.os de, na estação distante tornada sensrvel por algumas das ondas, corresponder com mudanças ou modificações em outras, para assim reproduzir o sinal; 2c.> - num sistema de telegrafia sem fio, ou seja: um transmissor compreendendo um conjunto de antenas de ondas hertzianas, uma fonte de raios catódicos, uma fonte de ondas acHnicas, meios pelos quais as mudanças de um código preestabelecido possam ser impressas em um ou mais dos ditos sistemas de ondas, e meios para dirigir todas as ondas a uma estação distante; 39 - num sistema de telegrafia sem fio, ou seja: um receptor compreendendo elementos sensrveis a ondas etéreas, devidas à projeção da luz e às perturbações elétricas ou às descargas oscilatórias; meios para combinar os efeitos dos referidos elementos, e meios de efetuar o alinhamento com uma estação transmissora; 4c.> - num aparelho de telegrafia sem fio, ou seja: uma caixa em que estão internamente colocadas uma fonte de luz, uma fonte de raios catódicos, terminais de descarga para propagação das ondas hertzianas; meios de controlar a produção de ondas e de raios, e meios de dirigir a dita caixa para uma estação distante; 5c.> - um telégrafo sem fio, compreendendo um aparelho centelhador para produzir ondas hertzianas; meios para atuar, à vontade, sobre o dito aparelho centelhador, com o fim de produzir sinais; meios para produzir uma luz catódica substancialmente na passagem das ditas ondas hertzianas, e um receptor sensrvel às ditas ondas hertzianas, e colocado numa estação distante; 6c.> - um telégrafo sem fio, compreendendo um aparelho centelhador para transmitir ondas etéreas para o espaco; meios para atuar, à vontade, sobre o referido aparelho centelhador, a fim de produzir sinais; um tubo de Crookes para produzir raios 110
catódicos, essencialmente na passagem das referidas ondas etéreas, e um aparelho receptor distante, sensível às mencionadas ondas etéreas; 7C? - num aparelho de telegrafia sem fio, ou seja: uma caixa exterior tendo um refletor e uma fonte de raios violetas, dispondo, a parte interior da caixa, de pontas de descarga e de um elemento sensível às ondas de luz; meios de produzir variações nas ondas de luz ou nas ondas produzidas pelas descargas das pontas, e conexões do elemento sensível e das caixas para aproveitamento das ondas que chegam, ou de seus efeitos resultantes, a aparelhos receptores convenientes; BC? - um telégrafo sem fio, compreendendo um mecanismo para produzir raios catódicos; um aparelho centelhador para produzir ondas etéreas, essencialmente na passagem dos referidos raies catódicos; uma chave manual (manipulador) para controlar as referidas ondas etéreas, e um aparelho receptor, sensível às referidas ondas etéreas; 9C? - um telégrafo sem fio, compreendendo um aparelho centelhador, um tubo de Crookes por este atuado, um refletor adjacente ao mencionado tubo de Crookes; meios de gerar ondas etéreas no referido refletor; uma chave telegráfica para controlar a produção das referidas ondas, e um aparelho receptor, sensível às mencionadas ondas etéreas. Em testemunho do que, assinei meu nome nestas especificações, em presença de duas testemunhas abaixo assinadas. ROBERTO LANDELL DE MOURA
Testemunhas:
Walton Harrison. Everard B. Marshall. "
111
TRANSMISSOR DE ONDAS Especificações que formam parte integrante da Carta Patente NÇl 771.917, datada de 11 de outubro de 1904. Requerimento de 9 de fevereiro de 1903 Série NO 142.440 "A quem interessar possa: Saibam que eu, Roberto Landell de Moura, cidadão da República do Brasil, residente no distrito de Manhattan da cidade de Nova York, Estado de Nova York, inventei um novo Transmissor de ondas, de que faço as seguintes especificações: Minha invenção relaciona-se à transmissão de mensagens, de um ponto a outro, sem auxflio de fios, ou, resumidamente, à sinalização através do espaço. Tem como objetivo produzir melhores resultados com aparelhos simplificados, utilizando certos princ(pios que eu mesmo descobri. Até agora, quando se tinham de transmitir sinais, a transmissão era feita por meio de aparelhos de funcionamento manual. Em alguns casos, estes foram substitu idos por mecanismos automáticos; mas o manejo de tais mecanismos, ou a manipulação de uma chave, requer certa habil idade e experiência do operador. De acordo com a minha invenção, produzo, primeiramente, oscilações elétricas e tremulações de luz, por meio de vibrações sonoras, que podem ser as da voz humana ou as de outros sons. Emprego, então, essas oscilações elétricas ou luminosas assim produzidas, para telefonar ou telegrafar através do espaço. Em tal transmissão, e especialmente telefonando, posso usar invenções semelhantes às que descrevi em meu requerimento anterior, protocolado a 4 de outubro de 1901, Série NÇl 77.576. Para produzir as duas espécies de oscilações mencionadas, inventei uma disposição de circuitos e de certos aparelhos que denominei "interruptor fonético". Meu interruptor fonético consiste, essencialmente, em um par de contatos capazes de reproduzir os tons da voz ou as vibrações partidas de qualquer fonte que possa controlar o ci rcuito primário de uma bobina de indução de alta-freqüência,
113
primário este que está ligado ao primário de uma bobina de Ruhmkorff, para transmissão. As vibrações sonoras no interruptor são transformadas em ondas elétricas ou luminosas, as quais, passando para a estação-receptora, são a ( recebidas e atuam sobre aparelhos adequados, por meio dos quais podem elas tornar-se perceptrveis com o emprego de um receptor telefõnico, de uma lâmpada, de um registrador Morse, ou coisa semelhante. Minha invenção está detalhadamente descrita nas seguintes especificações, e ilustrada nos desenhos anexos: A Fig. 1 é um corte de meu interruptor-fonético com todas as partes representadas. A Fig. 2 representa uma chave-reguladora para o núcleo da bobina de indução. As Figs. 3 e 4 são diagramas que mostram as conexões do circuito primário do interruptor. A Fig. 5 é um diagrama dos circuitos-transmissores, com os aparelhos representados em seus lugares. A Fig. 6 é um diagrama semelhante, mostrando as ligações do aparelho, mais detalhadamente. Com relação à Fig. 1, A é uma caixa, ou invólucro não-condutor, e A' é uma tampa. Esta tampa é feita de modo a conter uma câmara ressonante, na base da qual existe um disco perfurado A 2, correspondente ao bocal do telefone comum e preenchendo as mesmas funções, quando a tampa A' é retirada. Por baixo do disco A 2, e sustentado pelo invólucro, está um diafragma (a), tendo em seu ponto central uma ligeira depressão (a'). Colocada no interior do invólucro e apoiada em saliências adequadas, há uma bobina de indução (O), que tem o enrolamento primário d e o secundário d', em volta de um núcleo de ferro doce (d 2 ). Esse núcleo é oco, e em seu interior existe um eixo central (8), suportado, em sua extremidade superior, pela extremidade perfurada do núcleo, e, em sua extremidade inferior, é fixado interiormente por meio da porca b atarraxada na extremidade inferior do núcleo, e da guia b 4 • O eixo tem uma cabeça (8'), pela qual pode ser manipulado. A função do ajustamento é permitir que a estreita abertura de ar, entre a extremidade do eixo, em b 2 , e o diafragma a, em a', seja de tal modo disposto que as vibrações da palavra articulada produzam um movimento contrnuo, rápido e regular, e interrompam o circuito. Por meio da chave K (representada na Fig. 2), a porca b pode ser aparafusada quando o 114
PATENTED aCTo II. 1904.
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eixo está ajustado, introduzindo as hastes k e k 4 da chave nos oritrcios b 3 da porca. Fixado na extremidade superior da tampa A', existe um tubo flex(ve! (el, com um bocal (e). Para fazer uso do aparelho, o operador fala de acordo com um código preestabelecido, ou de qualquer outra maneira, pelo bocal e. As ondas sonoras propagadas através do tubo, e passando através da abertu ra central da tampa A', atuam sobre o diafragma a, produzindo uma vibração correspondente, em conseqüência da qual, se os ajustamentos tiverem sido corretamente feitos, uma série rápida de contatos e interrupções ou de sucessivos contatos terá lugar entre o diafragma e a extremidade b' , correspondendo sua freqüência às ondas que produzem. Esses contatos e interrupções determinam impulsos ou variações da corrente no circuito primário 12, estando as conexões do circuito claramente representadas nas Figs. 3 e 4. Na figura 3, o fio terminal 2 da baterial local m está ligado ao eixo B em sua extremidade inferior ou cabeça, enquanto o fio primário 1 passa diretamente pará o enrolamento, e dar para a ligação n com o diafragma. Na Fig. 4, o fio primário 1 passa através da bobina para o diafragma, e o fio 2 está ligado à extremidade b' do eixo. E ela· ro que, em ambos os casos, a produção e as interrupções de contatos têm como conseqüência produzir pulsações de corrente no enrolamento primário, correspondendo muito aproximadamente aos tons da vo·z ou aos sons por ela produzidos. Certamente é imposs(vel obter um ajustamento de contato tão perfeito que reproduza todos os harmônicos e torne perfeita a articulação; mas, por outro lado, para obter os efeitos da descarga a que vou agora referir-me, penso ser melhor obter interrupções positivas do que simples mudanças de resistência no circuito. Não é necessário dizer que posso ajustar os contatos de modo a produzir contatos constantes e pressão variável, requisitos para que seja perfeito o trabalho microfônico; mas, com intuitos práticos, acho que é melhor produzir os impulsos do modo que descrevi. Considerando agora a Fig. 5, vou descrever as conexões de meu aparelho, para obter um sistema eficaz. Como a Fig. 6 mostra as mesmas partes, com maiores detalhes, as referências podem aludir também às conexões detalhadas. Nessas figuras, F é uma bobina de Ruhmkorff ou outra qualquer bobina de indução e de alta potência, ajustada de maneira a produzir uma 117
centelha de certo comprimento - digamos de cerca de um quarto de polegada ou mais. O enrolamento primário (f) dessa bobina está ligado ao circuito 15 16, que inclui a bateria principal M e o interruptor fonético A. O enrolamento secundário da bobina F, assinalado por (', está ligado pelos fios 7 e 8 aos terminais 21 e 20 do feixe de fios irradiantes, que podem ser de forma comum ou especial de qualquer condutor aéreo, com ou sem terra de um dos lados. Um par de terminais (11 e 12), para produzir centelha, está previsto, para ser intercalado no circuito 7 8, pelo simples fechamento do interruptor S', por meio do contato s', estando os fios de ligação marcados (9 e 10). Está também ligado ao circuito secundário, por meio dos fios 13 e 14, um condensador (G), de capacidade conveniente. O circuito primário 15 16 vai da bobina de Ruhmkorff aos terminais primários da bobina de indução D, no interruptor fonético. O enrolamento secundário d' está ligado a um circuito local (19), que contém um receptor telefônico (Ti, e o circuito primário inclui uma lâmpada (E), que pode servir tanto para transmitir quanto para receber mensagens. Existe também um condensador (G), de capacidade conveniente, intercalado no circuito primário. A maneira de usar o sistema descrito, é a seguinte: Para transmitir ondas hertzianas, correspondentes a vibrações sonoras, o interruptor S' é fechado, o interruptor S é aberto, e o operador passa a produzir os sons desejados, por meio do bocal c do interruptor fonético. Url)a sucessão de impulsos é assim produzida no circuito primário da bobina F, efeito este que é aumentado pela presença do condensador G, que absorve o excesso de corrente, contribui para a rápida desmagnetização da bobina de indução, e impede, ainda, a produção de centelhas entre o diafragma e a ponta do eixo. Estes impulsos no primário, que são muito rápidos e que atingem cerca de quinhentos a novecentos por segundo, quando a ·ajustagem é adequadamente feita, produzem impulsos de alto potencial no secundário. Para produzir oscilações de luz por meio do interruptor, na estação transmissora, emprego a voz humana natural, de preferência, porque as tremulações produzidas, correspondendo, em forma e freqüência, aos sons iniciais, e sendo estes convenientemente reprodu118
zidos com o aux (lia de aparelhos adequados, na estação receptora, permitem o reconhecimento mais ou menos perfeito dos sons originais, e visto como mu itas palavras ou tons podem ser reconhecidos por seu valor intr(nseco, tanto como por qualquer valor que lhes possa ser emprestado por meio de qualquer código arbitrário, um número suficiente de palavras distintas pode ser selecionado, para constituir um código completo e muito eficiente. Iô claro que outras fontes de vibrações sonoras podem ser empregadas para substituir a voz humana. Assim, para produzir oscilações elétricas por meio do mesmo interruptor, pode ser usada, na mesma estação transmissora, uma fonte de sons constitu (da de um instrumento· musical semelhante a um pequeno órgão, tendo um conjunto de palhetas ou de tubos com dispositivos de controle e um ou mais tubos acústicos ligados ao bocal do tubo-interruptor. Fazendo vibrar então fortemente o diafragma do interruptor, este produz oscilações de luz ou de eletricidade que podem ser recebidas, depois de transmitidas, por meio de qualquer aparelho convenientemente sens(vel. Em adição a este método de transmissão por meio de ondas elétricas ou luminosas, como disse, algumas das particularidades aqui descritas podem ser usadas juntamente com os meus outros sistemas. Em um desses sistemas, emprego ondas ou sinais intermitentes de luz, para transmitir sinais de código. No caso presente, posso empregar a lâmpada E, de modo análogo, produzindo as variações iniciais de corrente por meio do interruptor fonético. Se as pulsações de luz forem demasiadamente rápidas, pode-se regular o ajustamento dos terminais fixos e do diafragma, até que a amplitude das vibrações seja suficiente para eliminar todos os tons, menos os fundamentais. De fato, pode ser dado mais peso ao diafragma, se assim for preciso, ou suas pulsações podem ser, de outro modo, retardadas. No caso da transmissão ser feita com ondas de luz, emprego o ~efletor e posso usar também telas de vários materiais, tais como lâminas de vidro colorido, e, se me aprouver, substituir a lâmpada indicada por uma lâmpada catódica, do tipo descrito em meu outro requerimento, ou qualquer outra espécie de luz. Observe-se que o mais importante e, de fato, o aspecto essencial de meu invento é o emprego de um transmissor que se 119
liga e desliga por efeito das vibrações sonoras, fazendo com que as ondas de luz ou electromagnéticas transmitidas correspondam, de modo bem aproximado, às ondas sonoras pelas quais são elas produzidas. (O grifo é nosso.)
Tendo assim descrito meu invento, o que reclamo, e desejo assegurar por Carta Patente, é: 1? - Em um sistema de sinalização sem fios, uma bobina de indução, um circuito de descarga ligado ao secundário da referida bobina, um circuito de interrupção e um gerador de corrente ligado ao primário da referida bobina; e os meios para acionar o mencionado interruptor de circuito, para ligar e desligar o circuito primário, de acordo com as vibrações sonoras, por meio das quais as pulsações de corrente podem ser produzidas no primário, correspondendo aos sons por elas produzidos, ou deles se aproximando, como substancialmente descrevi; 2? - em um sistema de sinalização elétrica, sem fios, uma bobina de indução, um circuito de descarga, tendo um fio terminai irradiante, ligado ao secundário da referida bobina, um gerador apropriado de corrente, ligado ao primário da bobina; e meios para estabelecer e cortar a ligação com o circuito primário, adaptados para serem atuados pelas vibrações sonoras, como foi substancialmente descrito; 3? - em um sistema de sinalização elétrica, sem fios de ligação, um circuito primário gerador de energia, um circuito de descarga, secundário; meios para ligar e interromper, rápida e repetidamente, o circuito primário, dispostos e adaptados estes meios de modo tal que possam entrar em funcionamento por meio de vibrações sonoras, como foi substancialmente descrito; 4? - em um sistema de sinalização elétrica sem fios, uma bobina de indução, um circuito de descarga secundário, um circuito primário e um gerador de corrente, um dispositivo fonético dispondo de cantatas incluídos no referido circuito primário, e meios para fechar e abrir periodicamente os referidos cantatas, e assim produzir as correspondentes pulsações de corrente nos circuitos primário e secundário, como foi substancialmente descrito; 5? - em um sistema de sinalização elétrica sem fios, uma bobina de indução e um circuito de descarga secundário, portan120
to, um circuito primário, portanto, com um gerador de corrente e um circuito interruptor periódico, nele inclu ído, juntamente com os meios inerentes ao referido circuito primário, para produzir raios de luz de intensidade variável, correspondentes às pulsações de corrente nos circuitos primário e secundário, como foi substancialmente descrito; 69 - um interruptor fonético ou transmissor para ligar e desligar, para circuitos de sinalização, compreendendo uma caixa ou invólucro, uma bobina de indução em seu interior, um par de cantatas montado sobre ela, conexões de circuito para o circuito secundário e outras ligações de circuito, partindo do primário para o par de cantatas, como foi substancialmente descrito; 79 - em um sistema de sinalização elétrica sem fios, a combinação dos seguintes componentes: - uma bobina de indução; um circuito secundário de descarga, para a dita bobina; terminais de descarga, ajustáveis, e um condensador intercalado no dito circuito; um circuito primário e um gerador de corrente nele inclu ído; um interruptor de circuito periódico no referido circuito primário; uma lâmpada elétrica intercalada no referido circuito primário e um condensador também ligado no circuito primário, como foi substancialmente descrito; 89 - um interruptor fonético para telegrafia sem fio, compreendendo uma caixa ou invólucro, um diafragma, uma tampa perfurada, cobrindo o diafragma; uma câmara sonora, dentro de uma segunda tampa com um tubo-condutor e um bocal, portanto; um eixo de cantata, ajustável, alcançando uma distância muito próxima ao diafragma e formando com este as terminais de um circuito primário, juntamente com os meios de fixar o dito eixo ao núcleo, quando ajustado, como foi substancialmente descrito; 99 - em um sistema de sinalização elétrica sem fio, uma lâmpada elétrica, um circuito e um gerador de corrente para ele, e um interruptor de circuito periódico adaptado de modo a estabelecer e interromper o referido circuito, com os meios de atuar sobre o referido interruptor, por meio de vibrações sonoras ou tons musicais, por intermédio dos quais podem ser produzidas variações de irradiação da referida lâmpada, correspondentes às referidas vibrações ou tons, como foi substancialmente descrito;
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10<:> - em um sistema de sinalização elétrica sem fio, uma lâmpada elétrica, um circuito e uma fonte de corrente a ele destinada; um interruptor periódico no dito circuito, adaptado de modo a estabelecer e interromper o mesmo, quando atuado; um condensador conectado ao circuito, e meios de atuar sobre o interruptor por intermédio de vibrações sonoras ou tons musicais, por meio dos quais pode ser produzida uma série de pulsações de corrente, com as correspondentes variações de irradiação da lâmpada, como foi substancialmente descrito; 11<:> - em um aparelho de transmissão para sistemas de sinalização sem fio, um circuito primário, um interruptor periódico e, indu ída, uma lâmpada elétrica, um circuito secundário tendo terminais de descarga adaptados de modo a produzir ondas electromagnéticas; uma bobina de indução tendo os seus enrolamentos nos circuitos primário e secundário, respectivamente, e meios de atuar sobre o referido interruptor de circuito, por intermédio de vibrações sonoras, como foi substancialmente descrito. Em testemunho do que, aqui assinei meu nome. ROBERTO LANDELL DE MOURA.
Testemunhas: Daniel B. Tamagno. Eugene M. Berard."
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TERCEIRA PARTE OUTROS TRABALHOS DO PADRE LANDELL DE MOURA
Esta terceira parte figura na presente monografia não apenas a trtulo de curiosidade, ou seja: para que os leitores tenham um conhecimento mais perfeito da complexa e altrssima personalidade desse "incr(vel" Padre Landell de Moura, como investigador infatigável dos fenômenos da vida e da morte, como sacerdote sempre atento à conduta e aos problemas de consciência de seu rebanho, e como pensador continuamente de esp(rito voltado para os mistérios da alma humana. Figura também à guisa de defesa. De mais uma defesa, sim! Entre as acusações que lhe eram feitas, uma havia, e das mais graves para um sacerdote, como já dissemos na primeira parte - a de que ele era espirita. E esta nunca foi desfeita, permanecendo até hoje, 30 anos após seu falecimento, como indesmentrvel para certas pessoas que o conheceram. Que o conheceram "de vista", diga-se de passagem, por isso que os que tiveram o privilégio e a ventura de privar de sua intimidade ou de contar com sua estima sabem quanto é ela falsa e malévola. Em verdade, criaturas ignorantes e supersticiosas, propensas, por isso mesmo, a confundir alhos com bugalhos, informadas (em cidades pequenas, como era então Porto Alegre, coisas como essas logo se espalham e adulteram) de que era ele dotado de excepcional poder hipnótico, de que se valera· realmente algumas vezes para acalmar histéricos, curar enfermos imaginários, ou, por meio de reservadas demonstrações práticas, esclarecer amigos e fiéis ameaçados de se deixarem arrastar por falsos credos e ca(rem em erro, cochichavam ser ele médium e, como tal, freqüentador de sessões esp(ritas. Se o Padre Landell de Moura, na tranqüilidade de sua consciência, na superioridade de seu gênio, nunca deu maior importancia a esses boatos, como era de seu feitio, nem se preocupou em desfazê-los, o que, em verdade, lhe teria evitado muitos dissabores, desfazemo-los nós agora, documentadamente. Entre os manuscritos e documentos do sábio padre, salvos das traças e dos ratos, como já dissemos, encontramos um curioso caderno que traz o trtulo "Caderno A", em que, sem preo-
123
Fac-símile de duas pdginas do "Caderno A
N.
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cupação de ordem cronológica, a não ser nas primeiras páginas (faltam nesse caderno as primeiras 16 folhas), ia ele anotando o resultado de seus estudos filosóficos, investigações cientificas, observações, resumos de prédicas e até registro de despesas e rascunhos de cartas. Constam desse caderno os seguintes capítulos, ora escritos a tinta, ora escritos a lápis, de decifração dificflima em virtude da escrita nervosa, intrincada e, por vezes, sintética e abreviada do autor: Sobre o elemento R. - O Perianto. - Sobre a influência da circulação em relação a certos estados anormais. - Sobre a mudança da personalidade. - Sobre o fenômeno da reversibilidade sensorial. - Sobre a causa das perturbações da vida psíquica ou de relação. - Sobre a enfermidade de Estado ou a nevrose dos dirigentes. - Sobre as principais modalidades ou espécies de caráter. - Sobre os estados anormais (extáticos). - Sobre a oração ordinária e extraordinária. - Sobre os músculos, em geral e particular, e os nervos. - Sobre a analogia existente entre a eletricidade e a estenicidade ou elemento R. Sobre a indução estênica. - Sobre os efeitos da estenicidade à distância. - Sobre a capacidade dos nossos sentidos e pequenez dos nossos conhecimentos em relação ao mundo exterior ou externo. - Sobre a matéria. - Sobre os átomos. - Sobre os íons. - Sobre os átomos de outrora. - Sobre a percepção intelectual ou a idéia e suas conseqüências na vida do espírito ou da moral cristã. - Sobre o elemento universal. - Sobre os corpos sólidos e líquidos. - Natureza do éter. - Sobre o éter, o átomo-suporte e a fricção primária dos corpos. - Origem da terra e dos demais sistemas planetários - Sobre os sentidos da alma. - As extremidades opostas do mundo. - Nas regiões ultra-etéreas. - O domínio da vontade sobre os sentidos. - Sobre os estados perextáticos. - Sobre a mastu rbação nas crianças, nos adolescentes e nos adultos. - Amor e desenQano. - Sobre o ideal e a ficção. Sobre o belo e o bom. - Sobre a natureza dos corpos. - Sobre as duas inclinações ou poderes existentes no homem. O falso suposto em que vivemos. - Sobre os movimentos psíquicos de nossa alma. - Sobre a graça. - Sobre a unidade das forças e a harmonia do universo. - A gênese das causas. E outros e outros mais. Pois bem; pela transcrição que vamos fazer agora de alguns dos referidos capítulos - de alguns, apenas - poderão os leitores certificar-se de que o digno sacerdote jamais deu mão aos es125
píritas, chegando mesmo, além de considerá-los anormais, a apresentar uma explicação cientifica para os chamados "fenômenos mediúnicos". Antes, porém, de iniciarmos essa transcrição, queremos chamar a atenção dos leitores para os seguintes pontos: 1'? que esses capítulos foram escritos no princípio deste século, motivo por que talvez a mu itos parecerão superadas algumas afirmações neles expressas; 2'? - que, para melhor compreensão das idéias e teorias do autor, bem como para melhor clareza de sua redação, fomos obrigados, por vezes, a intervir em seu texto, seja completando frases inacabadas ou apenas sugeridas, seja eliminando redundâncias e repetições (muito naturais, de resto, em um borrão), seja, ainda, àcrescentando, aqui e ali, palavras ilegíveis, apagadas ou esquecidas de grafar, mas que, pelo sentido da oração, deveriam ser, necessariamente, as que empregamos. Isto explicado, damos a palavra ao Padre Landell de Moura: A - SOBRE O ELEMENTO R
Como o urânio, o hélio, o rádio e tantos outros corpos radioativos, O elemento R, também ele, se mostra dotado de certas propriedades que nos inclinam a admitir que elas residem no átomo dos corpos que o revelam, como propriedades que lhe são inerentes. Disse "dos corpos", porque penso que ele se encontra em todos os corpos, conquanto não manifeste com igual intensidade as suas propriedades radioativas do elemento R. Encontrei-o pela primeira vez no corpo humano, e por muito tempo prosseguindo as minhas pesquisas, com o fim de conhecer a sua natureza, tive, um dia, a feliz idéia de verificar se os corpos magnéticos naturais ou artificiais permanentes possuíam ou não o elemento R, pela analogia com o espectro magnético que me ofereciam estas radiografias que eu obtivera, mediante o elemento R. E tendo obtido de um electromagnético permanente em forma de U e nas mesmas circunstâncias que obtivera o espectro do corpo humano semelhante ao do electromagnético, cheguei â conclusão que no corpo humano, como nos diamagnéticos, existia o elemento R, e que as suas propriedades resi126
diam no átomo do elemento R. Dai cheguei a estas conclusões: 1~ - Que, como já disse, todos os fenômenos que se observam nos corpos diamagnéticos são devidos a esse elemento R; 2~ - que esse elemento R, tanto nos corpos inorgânicos como orgânicos, se transforma em energia magnética, elétrica, calorifica, luminosa, ondulatória e radiante; 3~ - aue se não há atração ou repu Isão entre os corpos diamagnéticos é devido a esses corpos se acharem em estado que impossibilita o fenomeno da coercibilidade. Os outros fenômenos, porém, de indução e de transformação da energia do elemento R em magnéticos, elétricos etc., podem se dar, como de fato se dão.
B - O PERIANTO
1 - Todo o corpo humano está como que envolvido de um elemento de forma vaporosa, mais ou menos densa, segundo a natureza ou o estado do individuo ou ambiente em que ele se acha. t=sse elemento, quando adquire uma tensão capaz de vencer os obstáculos que se opõem à sua expansão, escoa do corpo humano sob forma de descargas disruptivas ou silenciosas, tal qual como sucede com a eletricidade. E os fenômenos que nestas ocasiões se dão, têm mu ita analogia com os elétricos estáticos e dinâmicos, com relação aos outros corpos semelhantes. 2 - Pelo que, cheguei à conclusão de que se trata de unI fenômeno que constitui uma variedade dos fenômenos produzidos pela eletricidade ou pela causa da eletricidade, do calor, da luz etc. 3 - Em todo caso, para facilitar o estudo do elemento R que existe no corpo humano, atribuo-o ao perianto, porque, como o seu nome está dizendo, ele é um efeito do elemento R, como a tensão elétrica é um efeito da eletricidade que se acumula em volta dos condutores. 4 - Não posso atribui-lo à eletricidade existente no corpo humano, porque, como veremos em outros lugares, se de um lado oferece muita analogia com a eletricidade, por outro lado apresenta-se com certas e determinadas caracteristicas que me 127
obrigaram a distingui-lo, ou dar-lhe o nome de Perianto ao efeito e à causa do elemento R, isto é, da vida de relação entre o psiquismo superior e o inferior. 5 - O perianto é por si invis(vel; mas, por intermédio de certas luzes, pode tornar-se vis(vel, e até mesmo ser fotografado, se usarmos ou intercalarmos entre o corpo, cujo perianto estudamos, e a luz especial, uma plancha ou papel apropriado. 6 - Um pequeno animal, preferivelmente de pêlo curto, posto nestas circunstâncias e dentro de um tubo apropriado, se mediante uma máquina pneumática a mercúrio for se fazendo pouco a pouco o vácuo, ver-se-á, quando o animal permanecer quieto, em estado de agonia, que na plancha se desenhará, sob forma vaporosa, a figura do animal. Ver-se-á mais que, ao expirar o mesmo essa forma vaporosa elevqr-se-á na pi ancha. 7 - Poder-se-á ver também diretamente quando, mediante certas luzes, se puder conseguir o fenômeno da interferência dos raios. E há casos em que, quando a condensação se torna bem densa, com certas e determinadas luzes, removendo o animal, no lugar em que ele se achava permanecerá, por instantes, o seu perianto, formando um duo dele, que, não raras vezes, em vez de se apresentar 'sob a forma branca vaporosa, se mostra compacto e colorido, com as cores naturais do animal, devido também à luz. O que prova que o perianto é devido a uma vibração de um elemento mais sutil do que o ar. a- Do que acabamos de dizer, podemos tirar os seguintes corolários: 19 - que o perianto, em circunstâncias apropriadas, pode ser fotografado, justificando seu nome, isto é: coisa que envolve o corpo humano sob uma capa ou zona vaporosa, mais ou menos densa; 29 - que ele pode ser transportado. da placa natu ral da retina para ii de uma câmara fotográfica. E da f as seguinteS conclusões: a) que no corpo humano existe um elemento que dá origem aos fenômenos do perianto e conseqüentes corolários; b) que pode ser fotografado di reta ou indiretamente; c) que certas qualidades de luzes influem para que ele possa ser fotografado, como também para que se torne vis(vel a olhos nus; d) que ele pode, à semelhança de um duo do indivfduo, representá-lo sob formas unicamente vaporosas, ou também com as cores naturais; e) que, se esse indivfduo estiver sob a ação do hipnotismo ou de qualquer outro estado anormal capaz de mudar-lhe a personalidade, o seu perianto, neste caso, apresentará 128
as feições da personalidade que ele supõe ser no momento; f) que, devido ao perianto, não repugna que, em certos estados anormais, o individuo possa apresentar o seu duo sob formas vaporosas mais ou menos condensadas e mais ou menos duráveis, consciente ou inconscientemente, como geralmente sucede, junto a si ou distanciado; g) que, segundo o grau de condensação, poderá tornar-se palpável e resistente, simulando todos os fenômenos da vida psico-orgânica devido ao prolongamento dinâmico, não sendo o que ele então apresenta senão um reflexo do corpo do indivrduo que o produziu, de forma que se o indivrduo falar ou mover qualquer parte do corpo enquanto o seu perianto age aparentemente, este último deixará de agir incontinenti; h) que tanto os bons como os maus anjos podem dele se utilizar para simular os fenômenos da vida de relação, mas que neste caso (ã exceçãode um milagre) é que se verifica o que acima dissemos: quando o perianto, sob a ação do bom ou do mau esp(rito, age, se o corpo do indivrduo que o produziu age, ele deixará incontinenti de agir, precisamente na forma que o individuo age; i) que, provavelmente, o fenômeno da bilocalização tem seu principio na condensação do perianto, quando o fenômeno se opera naturalmente, muito embora por leis ainda não bem conhecidas. E muitos outros fenômenos como do hipnotismo, do magnetismo, do espiritismo, dos sonhos em ação, do sonambulismo etc.
SOBRE A INFLUI:NCIA DA CIRCULAÇAO EM RELAÇAo A CERTOS ESTADOS ANORMAIS 1 - Quando, em virtude da ação de qualquer agente trsico ou moral, a circulação no cérebro sofre qualquer modificação mais ou menos acentuada, o indivrduo entra em um estado especial, diferente daquele em que jazia antes' que nele se operasse tal modificação. E nesse estado permanecerá, enquanto subsistir a referida modificação, ou o agente que a produziu ou promoveu continuar a influir sobre o trsico ou o moral do indiv(duo, e as faculdades tanto intelectuais como trsicas ou orgânicas continuarem a apresentar os fenômenos que caracterizam esses
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estados, com maior ou menor intensidade, com maior ou menor freqüência, segundo· o agente moral ou físico ser mais ou menos apropriado para produzir essa atividade que determinou ou provocou a modificação da circulação cerebral. 2 - Neste estado, o indivíduo tem conhecimento do que se passa dentro e fora de si. Porém não tem consciência. porque não está em condições de poder refletir, não pode verificar se o que se passa com ele é ou não real. Aceita, porque nesse estado o critério da consciência sensitiva é unicamente o que o assiste e nas circunstâncias em que se acha, o seu organismo e o seu psiquismo não lhe permitem conscienciar, refletir, verificar, numa palavra, se é realmente exato o que com ele se passa. 3 - Então ele age sob a ação e impressão do automatismo psíquico, como agiria um cadáver no qual ainda existisse algum resíduo de vida orgânica ou vegetativa; agiria, digo, sob a ação e impressão do automatismo, neste caso - fisiológico. No primeiro caso, ele age como um autômato por conta das idéias que lhe foram sugeridas pelos centros nervosos ou periféricos. Pensa, raciocina, reflete sobre tudo, menos sobre o estado em que se acha; e se porventura reflete sobre ele, tem-no como o mais normal deste mundo. Não sucederia assim, se ele pudesse refletir, conscienciar intelectualmente ou sensivelmente sobre o que lhe sugerem tanto os sentidos internos como externos. Daí, a impossibilidade de refletir sobre o estado anormal em que se acha. No segundo caso, ele age, em toda a extensão da palavra, como verdadeiro autômato, cujo maquinismo, atuado por um agente capaz, o põe em ação; e isto só até quando a corrente de vida orgânica, ou de relação, circula pelo seu organismo. Quando essa corrente deixar de animá-lo de alguma forma, como um aparelho, em que a corrente elétrica já não percorre, cessa de mover-se - assim também sucederá com ele. No primeiro caso, há conhecimento sensitivo; no segundo, nem sequer existe este conhecimento. Entretanto, o organismo, ou parte dele, põe-se em movimento, porque o agente, de um modo mecânico, embora fisiológico, pelas impressões no estado de vida preadquirida, logo que o órgão seja impressionado, se porta como um nervo reflexo, dando pelo nervo motor a resposta. Tal qual como sucede com um cadáver, quando se lhe aplica a eletricidade em um dos nervos reflexos. Aqui, em vez da corrente, pode ser a 130
impressão do nervo produzida, por exemplo, pela palavra, que faz vibrar aquele órgão, o qual, transmitindo essa vibração aos centros nervosos, irá traduzir-se pelos nervos motores na periferia com este ou aquele movimento deste ou daquele órgão. 4 - Voltando agora ao primeiro caso, direi que, no automatismo psiquico, o individuo pode agir não só sob as irlJpressões das faculdades intelectuais, mas também sob as impressões dos sentidos tanto externos como internos. Em tal caso, ele tem um sonho em vigília, e basta vê-lo para perceber-se que ele está de fato completamente alienado de si próprio, não se sente, e quase não presta atenção ao que se passa em volta de si. 5 - Esse mesmo estado sói acometer-nos em certa fase do sono, e então temos um sonho no sono, mais ou menos encadeado e nítido, segundo ·nos achamos mais aquém ou mais além do sono profundo. 6 - As manobras do hipnotismo, do chamado magnetismo, do espiritismo e da sugestão etc., enfim de tudo que pode contribuir, moral ou fisicamente, para acelerar ou retardar a circulação, levará o indiv iduo a estes estados anormais, tão apropriados para as manifestações ou realização dos fenômenos do hipnotismo, do magnetismo, do espiritismo, da sugestão etc., os quais, até certo tempo, permaneceram como que misteriosos e inexplicáveis, e não raras vezes sobrenaturais. . 7 - Há casos em que o individuo, entrando nestes estados anormais, vive de uma vida completamente diferente da trivial ou normal. Então, ele age, pensa e sente, sob as impressões e conhecimentos adquiridos nestes estados anormais, inteiramente obliterado da vida, pensamentos e sentimentos do estado normal. E quando estes estados anormais se reproduzem freqüentemente, chega a ter, muitas vezes, as suas relações muito intimas e particulares de pessoas, fam rijas, lugares preferiveis, as suas casas, seus estudos e predileções. Faz grandes excursões, prolongadas viagens por terra, pelo mar, pelos espaços, pelos planetas, vê e ouve coisas inauditas, e, não raras vezes, percorre lugares por ele desconhecidos, porém cheios de encantos e felicidade. Fala e escreve coisas que só por ele são faladas e pelos seres subjetivos de sua intimidade e relações. Quando volt2 ao estado normal, não se lembra de coisa alguma; e se porventura alguma vez se lembra de algo, é sempre de um modo muito incompleto e confuso. Todavia, conhecemos o que com esse indivíduo se 131
passa, porque nestes estados anormais ele fala e age como se estivesse em si. 8 - Nestes estados, notam-se modificações mais ou menos pronunciadas de personalidade, seja pelo frsico, seja pelo moral, porque, geralmente falando, ele toma o porte, a atitude, os gestos, a voz e, até, os mesmos defeitos ou imperfeições caracteristicas dos individuos que ele supõe ser. Ele dá corpo, vida, expressão, numa palavra, a todos os fantasmas da imaginação, e com eles conversa, come, ri e se diverte, como o faria na real idade se se achasse em tais circunstâncias e em seu estado normal. SOBRE A MUDANÇA DA PERSONALIDADE
1 - Compreender-se-á de algum modo estes fenômenos aparentemente tão maravilhosos e misteriosos se tivermos em mente que a impressão de um órgão periférico suscita a imagem correspondente ao objeto que a produziu (a impressão do órgão). e é precisamente neste momento que a inteligência, voltando-se para o fantasma da imaginação, percebe o que se passa no mundo exterior. 2 - Há ocasiões, porém, em que, devido ao meio, ela percebe uma coisa por outra, e aí temos a ilusão; há também ocasiões em que, devido ao estado dos centros nervosos, a inteligência percebe uma coisa que não existe senão na imaginação. 3 - Mas como não podemos pensar sem nos voltarmos para o fantasma da imaginação, e pensamos então de acordo com esse fantasma, segundo o que, pela percepção, apreendemos, segue-se que o indivíduo externar-se·á convencido do que ele diz e pensa. Na ilusão, porque t€ve uma impressão viciada de um objeto, porém mal apreendido pelo vício do meio; na alu· cinação, devido à hiperexcitação da imaginação, que não dá lugar à reflexão, por causa do estado mórbido do paciente, ou a falta de atenção, ou por causa da excessiva convergência do mes· mo indivíduo sobre um dado objeto com o qual jaz inteiramente e nimiamente preocupado. 4 - Neste caso, o automatismo e a associação das idéias, das imagens que se sucedem e se agrupam, às vezes de um modo ordenado, outras vezes desordenadamente e sem a direção da inteligência, fazem com que o individuo, baseando-se em um 132
falso suposto inicial, aja e pense como se se tratasse de uma realidade concreta. Daí o convencimento que ele manifesta em seus gestos, em suas palavras e ações. Estes estados anormais, com o volver dos tempos, se tornam como que normais, constituindo para o paciente uma como que segunda vida, em que, sempre que ele entra, se encontra com os lugares, os sítios, as regiões, os indivíduos, as fam(lias, com as quais, em seus vôos fantásticos, ele se entretém. 5 - E de tudo que acabamos de expor, não nos será mui difrcil enveredar por essas sendas outrora tão misteriosas e maravilhosas do hipnotismo, da sugestão, do suposto magnetismo e espiritismo, como, outrossim, da mística natural ou diabólica, e encontrar para todos esses fenômenos, às vezes tão transcendentais, uma explicação, ou, quando menos, uma interpretação capaz de nos arrancar desse caos de dúvidas e incertezas em que tais fenômenos soem arrojar-nos. 6 - Por último, direi que é preciso estarmos muito precavidos e muito bem aparelhados para não nos deixarmos levar pelas aparências e as mistificações, não só dos indivíduos que apresentam tais fenômenos mas também dos interessados ou entusiastas partidários dessas idéias, maximé se são ignorantes quanto à religião e mostram muita falta de conhecimentos relativamente ao assunto, a não ser os que eles possuem exclusivamente e os professam e propagam como um dogma de fé cientrfica e religiosa. A essa classe de infelizes idiotas ou ignorantes pertencem os hipnotizadores, sugestionadores, magnetizadores, materialistas, ocultistas, ou espíritas. SOBRE O FENOMENO DA REVERSIBILIDADE SENSORIAL
1 - Segundo o curso natural, primeiro dá-se a impressão dos órgãos periféricos, segue-se então a sensação que se bifurca produzindo o fenômeno da percepção sensitiva ou sensorial e o da percepção intelectual. Tem-se, então, uma imagem do objeto externo que impressionou o órgão igualmente externo, e a idéia desse mesmo objeto. 2 - Quando o fenômeno se dá de dentro para fora, primeiro aparece a idéia, produto da inteligência; essa idéia suscita na 133
imaginação uma imagem correspondente, e esta imagem, impressionando o órgão sensório, faz que ele reaja, produzindo uma sensação que, por um fenômeno de reversibilidade, pelo processo que se dá segundo o curso natural, segue a sua marcha natural. E tem-se então a ilusão de que o órgão externo foi, com efeito, impressionado por um objeto externo. E a alucinação, tão freqüente nos febricitantes ou delirantes. 3 - Este fenômeno se dá quando a consciência intelectual não funciona, o que pode ser produzido ou ocasionado por uma lesão dos aparelhos das funções correspondentes, ou pqr uma abstração sui generis devido a um excesso de concentração da atenção, que acaba por deixar o paciente alheio a tudo que se passa em volta de si, ou pela perda da noção do tempo e do espaço, ou, finalmente, pela sopitação dos sentidos, com exclusão de um só, que se encontra em atividade, e através do qual se opera, nos órgãos internos sensoriais ou intelectuais, o fenômeno inverso da percepção ou direto pela associação das imagens intelectuais ou sensitivas das sensações, dos movimentos etc., das idéias, dos conceitos e dos sentimentos. SOBRE A CAUSA DAS PERTURBAÇOES DA VIDA PSrOUICA OU DE RELAÇAo
1 - As perturbações da vida de relação podem ser ocasionadas pela falta de funcionamento ou mau funcionamento: 19 - por parte dos órgãos sensoriais externos e internos; 29 - por parte dos órgãos correspondentes às faculdades intelectuais; 39 - por parte, finalmente,. dv~ órgãos do grande simpático e de suas ramificações ou desdobramentos. 2 - No primeiro caso, pela falta ou mau funcionamento dos órgãos dos sentidos, dos do senso comum, dos da imaginação e dos da memória, dos da estimativa e do instinto natural; no segundo caso, pela falta ou mau funcionamento dos órgãos correspondentes à inteligência, à memória intelectual, à vontade e às emoções; no terceiro caso, pela falta ou mau funcionamento dos órgãos correspondentes ao grande simpático. 3 - NOTA: Pela palavra "percepção" (intelectual), isto é, a apreensão, entendo a impressão produzida por uma idéia ou pela atividade de algum órgão, impressão produzida por uma emoção de ordem moral, impressão, disse, porém acompanhada, 134
ao mesmo tempo, do conhecimento não só da impressão, mas também do conhecimento da impressão que experimentamos. Este fenômeno é o que constitui a consciência dita de nossos atos, própria do ser racional. O irracional não pode ter este conhecimento, porque pressupõe a reflexão, que é um fenômeno imaterial que só pode ser produzido por uma faculdade igualmente imaterial, qual é a inteligência.
SOBRE A ENFERMIDADE DE ESTADO, OU NEVROSE DOS DIRIGENTES 1 - Há uma enfermidade muito comum, que chamarei "enfermidade' de Estado" ou "nevrose dos dirigentes", porque, de preferência, acomete os dirigentes, ou as pessoas que exercem algum cargo de muita responsabilidade, e que só o indivIduo pouco escrupuloso no cumprimento dos deveres do próprio estado ou posição social poderá ignorá-Ia. 2 - Tem a sua gênese na violência ou nas privações que, por dever, ou conveniências sociais, ou, finalmente, por prudência, cada individuo deve necessariamente fazer a si próprio, ou amoldar-se. Resulta dai que, se o individuo não exercer sobre si mesmo uma rigorosa fiscalização para conhecer de qual forma ela o afeta, acabará por criar em si próprio uma como que segunda natureza, principalmente se nele já havia uma certa tal qual disposição natural. 3 - A virtude, o saber, os firmes propósitos, apenas terão força para fazer com que ela, em certas circunstâncias, quase sempre por motivos puramente humanos, não se manifeste sob a forma costumada. Mas isto é como um tanque cujas águas fazem forte pressão contra as paredes, e irá talvez suscitar uma paixão, uma tendência que parecia completamente amortecida. 4 - Para vencer-se é preciso lançar mão não só dos meios naturais, mas principalmente dos sobrenaturais, sobretudo do exame de consciência, da oração e da meditação cotidiana, e não precipitar-se no extremo oposto, quase sem esperança de poder atingir a meta tão desejada. I: preciso, além disso, que tenhamos mu ita paciência conosco mesmos e, sem nunca desanimarmos, nos levantemos, por mais numerosas que sejam as nossas recaldas, não obstante os nossos bons propósitos, pois não 135
é a falta de vontade, propriamente falando, senão o mau hábito contraído, que cria em nós uma segunda natureza, que muito se parece com o instinto natural dos irracionais, maximé com relação ao irasdvel. 5 - E necessário também, como uma condição sine qua non, que removamos para longe de nós tudo quanto pode contribuir, quando menos diretamente, para fomentar esse nosso caráter ou temperamento vicioso, natural ou adquirido, e procuremos, inter pares, sendo possível, a companhia das pessoas que possuam um caráter tal qual como o que desejaríamos. Pois é singular e, ao mesmo tempo, assaz prodigiosa e eficaz a influência que podem ter sobre nós as pessoas com quem tratamos ou convivemos. Daí, o ditado: "Dize-me com quem andas, e eu te direi as manhas que tens." Porque, sem percebermos, pouco a pouco copiaremos em nós mesmos tudo quanto mais avulta e nos impressiona em essas pessoas. 6 - E o resultado será que, não constituindo esse caráter ou temperamento o nosso caráter ou temperamento individual, muito e muito teremos que sofrer, se não metermos mãos à obra, porque a cada passo teremos que nos contrariar e mudar de caráter, contra a nossa vontade ou inclinações, por isso mesmo que esse caráter, para nós estranho, não tem raízes na nossa natureza individual. E, neste caso, o único remédio que temos é fugir às ocasiões e preveni-Ias, para não nos contrariarmos, e procurar pessoas de caráter e temperamento semelhantes aos nossos, alegando-se serem esses o nosso caráter e o nosso temperamento. Mas isso, em certas circunstâncias, seria o mesmo que nos condenarmos ao ostracismo, tornando-nos, com o tempo, misantropos e insuportáveis. 7 - E certo que não podemos mudar o nosso caráter ou temperamento, mas é também certo que podemos modificá-lo, educando-o, corrigindo-o de todas as suas asperezas e de tudo quanto a sociedade ou traquejo social repele - o que facilmente conseguiremos se pusermos em prática o que acima fica exposto. E já que se falou em caráter, digamos alguma coisa sobre este assunto de magna importância.
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SOBRE AS PRINCIPAIS MODALIDADES OU ESPECIES DE CARATER
1 - Há três espécies ou modalidades de caracteres: o superior, o intermediário ou médio, e o inferior ou baixo. O primeiro é muito raro encontrar-se inato, porque.é produto da educação ou do meio em que vivemos. O segundo, é o pior de todos, muito embora, à primeira vista, pareça ser o melhor e até o mais desejável pela magia da sua exterioridade tanto do gesto como da palavra. E o caráter dos parvenus, ou dos que se têm em conta de grande coisa ou que desejam passar por tal. Seus possuidores são geralmente preSunçosos, afetados, cheios de si, maquiavélicos, amam as exibições baratas como meio para remontar-se às mais altas posições, ou produzir efeito quando menos ao longe; são servis para com as pessoas das quais dependem, e arrogantes, ásperos, severos, para com os que deles dependem, dos quais exigem um tratamento a que eles não têm direito. 2 - São covardes, e amantes das delações. Desejam e se esforçam para estar sempre em foco; gostam de ser elogiados, que todos falem de seus feitos e se ocupem de sua pessoa, muito embora compreendam que tudo isso não passa senão de pura bajulação. Gostam desses elogios, principalmente quando são feitos pela imprensa, e chegam, com o tempo, a convencer-se de que são, com efeito, o que afirmam os seus bajuladores e, muitas vezes, os seus próprios inimigos, em tom de ironia e sarcasmo. Temem e detestam as críticas, maximé feitas pela imprensa, e apesar de serem geralmente muito vinagres, gastam somas avultadas só para que os jornais não se ocupem de sua pessoa com desvantagens. O terceiro, é o dos homens vis, delatores larvados, egoístas, maldizentes, rancorosos, irascíveis e vingativos; dos que gostam de passar bem, mas à custa dos outros, porque são sovinas e a tal ponto que, por questão de dinheiro, fazem figuras, às vezes, mui ridículas e vergonhosas. 3 - Para eles só tem valor quem, de alguma forma, lhes pode ser útil ou prejudicial. São, geralmente, muito orgulhosos, mas de um orgulho baixo, e capazes de tudo, até das mais humilhantes ações. São desleais e ingratos, por isso, como tal considerados por todos, deles todos fogem e se acautelam. Eis por 137
que, apesar de possu (rem um caráter aviltante, não são tão perigosos e prejudiciais à sociedade como os do segundo grupo, os quais podem perfeitamente insinuar-se, já que têm muita lábia e fizeram um estudo muito especial para atrair e agradar ainda aos seus próprios inimigos, quando isso lhes convém, e sabem também ladear obstáculos sem que, não obstante, se saiam mal. E se porventura não são felizes, têm sempre em volta de si a turma de bajuladores, que, muito antes que eles se externem, se põem em campo, para os agradar ou, quando menos, para lhes merecer a confiança. 4 - E são estas duas últimas modalidades de caracteres as que mais se descortinam aos dirigentes ou aos que têm algum cargo de muita responsabilidade, os quais, di~nte das dificuldades, desilusões e dissabores, acabarão por contrair a "nevrose dos dirigentes", que os tornará imprestáveis a si e aos que os rodeiam. Como acima dissemos, só a virtude do Alto, quando em tempo O procuramos, poderá livrar-nos dessa nevrose, pôr um lenitivo a esses males, tornando-nos, em nosso posto, dignos dele, dignos de nós mesmos e dos que nos circundam ou de nós dependem. SOBRE OS ESTADOS ANORMAIS 1 - Eu os divido em..... (i1eg(vel), semi-extáticos, extáticos e perextáticos. Todos estes estados podem ser obtidos artificialmente pelo dito hipnotismo, o pressuposto magnetismo, a sugestão e até mesmo pelas manobras do espiritismo, ou por qualquer outro meio capaz de fazer passar o paciente do estado .normal a esses estados anormais. Segue-se daqui que o êxtase natural que muitos indiv(duos apresentam, sem que tenham sido submetidos a processos especiais, não tem nada de extraordinário, ainda mesmo quando provocado pelos meios artificiais ou naturais. O que pode haver a( de extraordinário são certas respostas, certas revelações, certas ações, numa palavra, que, por mais que se procure explicar sem apelar para o supra-sens(ve!, nunca se conseguirá. ~ aqui que os dom(nios da ciência terminam; e é aqui que a biologia, sem absolutamente discutir sobre a causa eficiente, estuda os fenômenos sob as luzes dos conhecimentos da ciência e emite
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seu veredictum, quando diz: "Não contestamos os fatos, e por isso mesmo, não encontrando para eles exolicacão, não apelamos tampouco para o supra-sensível, que desconhecemos, mas para a ciência do futuro, que talvez possa encontrar a explicação para estes fenômenos." E se se instar com o biologista sincero, ele dirá: "Segundo as minhas crenças religiosas, eu explicaria os fatos desta forma; agora, segundo as vossas crenças, não sei nem quero saber como os explicais, porque a explicação que tenho é-me mais que suficiente para orientar-me nestes páramos, onde não é Iícito nem possível penetrar sem a orientação do Alto, comprovada, não pelo que se ouve nessas manifestações, mas o que as nossas crenças dizem sobre elas."
SOBRE A ANALOGIA EXISTENTE ENTRE A ESTENICIDADE, OU O ELEMENTO R E A ELETRICIDADE
1 - Como a eletricidade, a estenicidade acumula-se sempre na superf(cie do corpo humano. Como a eletricidade, a esteni· cidade nos corpos esféricos distribui-se homogeneamente por toda a superf(cie, e nos corpos de forma elipsóide ou oval acumula-se nas extremidades do diâmetro maior. 2 - Como a eletricidade, quanto mais alongado for o elipsóide maior será a quantidade de estenicidade acumulada nas extremidades de maior diâmetro, resultando, como sucede com a eletricidade, que, se o corpo estenizado terminar em ponta, como os de forma ovóide, a estenicidade adquirirá nela a tensão necessária para vencer a resistência do ar escapar-se. 3 - Por isso, aproximando-se a mão desse ponto, logo a reconheceremos pela sensação de um sopro capaz de fazer oscilar o pêndulo estênico especialmente preparado para esse fim. E esse sopro - que por analogia chamei vento estênico - é o resultado da repulsão que a estenicidade exerce sobre as moléculas do ar, carregado de igual estenicidade positiva ou negativa. 4 - E há indiv(duos que, devido talvez a um fenômeno de interferência, vêem, no escuro e ainda em plena claridade, uma luz pálida ou colorida acompanhar o escoamento da estenicidade, ou melhor: a estenicidade escoar-se sob a forma vis(vel de
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uma luz pálida ou colorida. 5 - Como a eletricidade, a estenicidade é retida à superficie dos corpos e não se irradia, como o calor, em virtude da pouca condutibilidade do ar seco. 6 - Isso levou-me a considerar o corpo humano revestido de uma camada de estenicidade que, como a eletricidade, sendo novamente acrescentada, se torna mais espessa ou mais densa dai o ter-lhe eu dado, por analogia, o nome de espessura ou densidade estênica. 7 - Considerando-se - como se supõe em relação à eletricidade - que a estenicidade seja um fluido, cujas moléculas estão em um estado de continuo movimento de repulsão, devemos admitir que, quando ela está acumulada no corpo humano, se esforce por abandoná-lo, o que não consegue em virtude da resistência que o ar lhe oferece. A este fato, também por analogia, dei o nome de tensão estênica. 8 - A estenicidade, como a eletricidade, manifesta-se por efeitos mecânicos, Hsicos e quimicos que ocorrem no corpo humano. Iô possivel até que tenham uma e mesma origem, e que não sejam senão modalidades ou variedades de manifestações de uma mesma causa eficiente material, ainda não bem definida. Isto quanto à sua origem remota. Quanto à próxima de seus fenômenos, como a eletricidade, a estenicidade, nos efeitos mecânicos, se manifesta pelo atrito, a fricção, a pressão, a torção etc. 9 - Nos efeitos de origem fisica - pelo calor, a mudança de temperatura e o estado moral, Hsico e intelectual da pessoa. 10 - Nos efeitos qu imicos - em todas as reações que se dão no organismo humano, as quais constituem das mais copiosas fontes da estenicidade dinâmica. 11 - Por último, verificamos que, como a eletricidade, assim também a estenicidade manifesta os fenômenos ditos de atração e repulsão, e que, como na eletricidade, estão sujeitos às leis seguintes: 10 - As atrações e repulsões variam na razão inversa do quadrado das distâncias; 2~ - as atrações e repulsões estênicas são proporcionadas às quantidades de estenicidade de que os corpos estão animados.
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SOBRE A INDUÇAO ESTI:NICA E A ANALOGIA QUE EXISTE ENTRE ELA E A ELETRICIDADE
1 - E também admirável a analogia que existe entre os fenômenos de indução elétrica e estênica. Chamo influência estênica estática ao fenômeno estênico semelhante ao que se observa com a eletricidade, isto é: ao fenômeno da ação estênica exercida a distância pelos corpos estenizados. Os corpos que exercem esta ação chamam-se, como em eletricidade, indutores, e os que a experimentam - induzidos. 2 - Isola-se o corpo de uma pessoa, mantendo-a suspensa no ar, sem tocar o chão, por meio de uma armação semelhante a um balanço ou rede, tendo na mão um aparelho que acusa a existência da estenicidade. (Vide o cap(tulo intitulado Sobre os aparelhos capazes de acusar a existência da estenicidade.J * Se uma outra pessoa, que se supõe carregada de estenicidade conhecida, igualmente colocada sobre uma plataforma ou estrado isolados, aproximar a mão em sentido horizontal do aparelho que a pessoa isolada tem na mão, ver-se-á que ele é atra(do e logo em seguida repelido, tal qual como sucede quando se fazem estas experiências nos cursos de eletricidade. 3 - Isto dá a entender que as duas extremidades estão carregadas de estenicidade, e que a mais distanciada se carrega de estenicidade positiva, e, a mais próxima, de negativa. E verificar-se-á que há um ponto ou linha de expansão quase média, e mais próxima do corpo indutor. 4 - Este estado estênico cessa logo que o indutor deixa de agir ou influir sobre o corpo induzido. Mas se comunicarmos - é o caso de usarmos o corpo isolado suspenso no ar o corpo induzido com a terra, ele perderá a estenicidade do mesmo nome do indutor, e ficará carregado da estenicidadé contrária, que se espalhará por toda a superfrcie, tal qual como sucede em eletricidade.
• Não encontramos esse capftulo entre SftU$ manuscritos.
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5 - Este fenômeno se interpreta da mesma forma que o seu análogo em eletricidade, ou seja: o corpo indutor, cuja estenicidade é positiva, decompõe, por influência, a estenicidade do corpo induzido; atrai a si a estenicidade de nome contrário e repele, para a outra extremidade, a estenicidade de nome igual ou homogênea, separando-se, assim, as duas estenicidades pela influência do corpo indutor ou estenicidade contrária do corpo indutor. 6 - Mas se fizermos comunicá-lo com a terra, as duas estenicidades se recompõem e o corpo volta ao seu estado neutro.
SOBRE OS EFEITOS DA ESTENICIDADE
A DISTÂNCIA 1 - Há mu itos fenômenos que não encontrariam a sua explicação sem a existência desse elemento ainda' não bem definido, a que dei o nome de estenicidade. 2 - E este elemento que, em certas circunstâncias, produz, no espaço ambiente, movimentos, perturbações idênticas às que lhe imprimem os fenômenos maximé psfquicos, devido às grandes ou intensas modificações da alma humana, modificações essas que se propagam ondulatoriamente através do mesmo elemento etéreo em que as ondulações elétricas ou magnéticas se propagam, as quais, encontrando um outro organismo em perfeito sincronismo com o que produziu tais ondulações, por um fenômeno de reversibilidade, se transformam nos mesmos fenômenos que ocasionaram tais modificações no elemento estênico. Tal qual como sucede com uma máquina de projeção, a qual projeta na tela aquelas mesmas figuras que provocaram, através do raio luminoso, as vibrações correspondentes à figura que as produziu. 3 - Os fenômenos de telepatia, de visão a distância, como também o da transmissão do pensamento, isto é: dos movimentos correspondentes cerebrais sobre a ação do pensamento, têm neste elemento a sua origem.
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SOBRE A CAPACIDADE DOS NOSSOS SENTIDOS E PE~UENEZ DOS NOSSOS CONHECIMENTOS COM RELAÇAo AO MUNDO EXTERIOR
1 - E muito fraco o poder dos nossos órgãos sensitivos e também muito limitado, com relação aos fenômenos conhecidos e por conhecer, que se dão no mundo, e ainda mais com relação a este mesmo mundo. E muito fraco o poder dos nossos cinco sentidos, porque, além de certos movimentos ou vibrações aéreas ou etéreas, eles permanecem insensíveis a miríades de outros movimentos vibratórios, e ficariam ainda insens{veis a mir{ades destes movimentos vibratórios se, como o sentido do tato, pudessem adaptar-se à percepção ou conhecimento de objetos diferentes. Porque ainda aqui a sua adaptação seria apenas com relação aos objetos tang{veis; porém, além dessas vibrações, há muitas outras, superiores ou inferiores às que esse sentido percebe na variedade dos objetos correspondentes, a que ele permanece, com relação a seus movimentos vibratórios, completamente estranho. 2 - E muito limitado porque, além das vibrações produzidas pelos objetos correspondentes, os sentidos não percebem nenhuma outra. Assim, a vista não percebe as vibrações do calor, nem as do calor são percebidas pelos ouvidos etc. 3 - Da{ resulta que o conhecimento que temos do mundo exterior é muito limitado e está muito aquém do que o mundo é realmente. Há neste mundo que conhecemos um aluvião de outros mundos mais cheios de encanto e maravilhas do que este, que, em comparação ao mundo real, ou à totalidade do conhecimento do mundo real, é quase nulo, para não dizer nulo. E Deus quis que só tivéssemos este conhecimento do mundo, enquanto habitamos a Terra, porque o conhecimento universal, total, completo, constitui uma parte integrante da felicidade que ele reserva aos futuros compreensores da mansão dos justos. Todavia, o conhecimento que temos é mais que suficiente para que, da contemplação das maravilhas do Universo, possamos fazer escala para as do mundo invisível. 4 - Assim é que, não podendo os órgãos auditivos perceber as vibrações sonoras aquém das 32 e além das 32.768 emiti143
das pelos corpos num segundo, ficamos privados de um número de conhecimentos e verdades que superam, incomparavelmente, os conhecimentos e as verdades relativos ao mundo ex- . terior Ciue possu (mos e hão de possuir todas as gerações de perscrutadores que venham habitar a superfrcie da Terra. 5 - De fato, se dispuséssemos de outros sentidos capazes de perceber certas vibrações, ou os nossos sentidos tivessem a faculdade de adaptar-se a essas variedades de vibrações, o órgão, por exemplo, da audição poderia perceber sons tão surpreendentes e maravilhosos que o deixariam como em uma espécie de êxtase continuo. E dado que só pudesse perceber esses sons, então outra singularidade: não perceberia nenhum dos sons compreendidos entre 32 e 32.768 vibrações emitidas pelos corpos sonoros e percept(veis. Reinaria dentro e em volta de nós um silêncio profundo; nada do que ouvimos agora poderíamos ouvir, nem mesmo a voz do nosso semelhante, nem o grito das feras, nem o tiro do canhão, nem o retumbar do trovão ou o estalar do raio. Mas, em compensação, perceberíamos a harmonia que existe no canto das aves, perceberíamos mesmo ao longe o zumbir dos insetos, mais forte ainda do que o canto dos pássaros agora. 6 - E se nossos ouvidos se adaptassem à percepção das vibrações sonoras entre 32.768 e 34 milhões, as maravilhas da audição ainda iriam mais longe e tocariam, até, às extremas fronteiras do sobrenatural. Porque, além da harmonia do canto dos pássaros, do zumbir ao longe dos insetos, além de todos os fenômenos sonoros, perceberíamos os fenômenos elétricos e magnéticos agora imperceptíveis, tais como os que se produzem ao despontar da aurora, ao surgir do Sol, ao aparecer dos astros ou desaparecer deles, ao relampejar, ao produzir-se a chispa elétrica etc. etc. Perceber(amos todas essas vibracões tão clara e talvez ainda mais nitidamente cio q"e percebemos as do nosso limitado mundo de percepções auditivas. 7 - Daí, podeis deduzir que proveitos, que vantagens não colheriam as ciências, sobretudo a medicina, a cirurgia, a psicologia, a moral, a teodicéia. E quão diferente não seria a humanidade, quão diversos os seus costumes, as suas tendências, as suas aspirações e, por conseguinte, quão especial não seria a lei que o Criador ditaria à sua Criatura! Ainda mais se o órgão da 144
vlsao, por exemplo, .ampliando e como que completando esses conhecimentos, pudesse perceber, não as vibrações entre 400 e 700 trilhões, e sim as vibrações correspondentes a 4 ou 5 quatrilhões. Como com o órgão da audição, não perceberíamos. as cores que percebemos, nem tampouco os objetos correspondentes, senão de um modo indireto, porque com ondas luminosas de tal amplitude não se verificam os fenômenos de reflexão que com as inferiores se manifestam. E que essas ondas do éter, que, por serem de uma ordem e grandeza dos interstícios moleculares, não podem ser refletidas, têm um comprimento muito inferior à décima-milionésima parte de um mil ímetro - pelo que não podem ser detidas em· sua marcha pelos corpos, quaisquer que eles sejam. Mesmo um prisma, por exemplo, para elas não passa de um grosseiro bloco, cujas moléculas elas atravessam com a mesma ou maior facilidade com que as bagas de chumbo miúdo passam pelos interstícios de uma mão cujos dedos estejam distendidos e abertos. 8 - E é por essa mesma razão que na ampola de Crooke.s os raios catódicos atravessam os corpos opacos. Assim é que, quando nossa vista olhasse para os nossos semelhantes, eles pareceriam esqueletos ambulantes; veríamos todo o seu interior e o movimento de suas vísceras; perceberíamos os movimentos, agora imperceptíveis, que se propagam em forma ondulatória e que o nosso organismo emite, correspondentes às modificações de nosso corpo e de nossa alma, maximé nos fenômenos de ordem superior, tais como os psíquicos. Por esses movimentos, poderíamos avaliar o estado do nosso corpo, bem como conhecer e classificar as paixões ou as grandes emoções de nossa alma. Agora, se passarmos às vibrações correspondentes ao extremo oposto do espectro solar (infravermelhas, ou térmicas), em vez de percebermos os fenômenos que afetam o bolômetro, as estrelas que vemos, perceberíamos astros outrora verdadeiros sóis e hoje apagados, há muitos séculos flutuando no espaço, quais negros e imensos blocos de carvão que semente o espectroscópio nos revela. 9 - O próprio Sol se mostraria um outro, isto é: circunda-o do de uma aréola vasta, variável pela forma e posição, como essa coroa misteriosa que observamos no momento dos eclipses totais. As correntes de ar quente tornar-se-iam visíveis como turbilhões de neve, e desapareceriam os mistérios ou segredos da 145
ciência do calor. 10 - Vivemos, relativamente, na ignorância do que sucede no Universo, e ainda mesmo dentro e em volta de nós. Não obstante isto, falamos com tanto orgulho e insensatez dos conhecimentos que temos pelos "sábios" do mundo exterior. 11 - E no entanto a ciência de ontem como a de hoje e também a do futuro não passa senão de um acervo de hipóteses, de convenções. Numa palavra: não é senão um simbolismo inventado pela inteligência humana para significar o que os sentidos nos revelam de um modo muito limitado, e que, não entendendo nem podendo dar uma explicação cabal tomamos por causa o que não passa de um efeito. 12 - Humilhemos portanto a nossa fronte diante de Deus, e digamos: 'Tu solus Deus tu solus altissimus J. Christe. Porque Tu és aquele segundo o qual tudo foi criado, e sem o qual nada do que existe, existiria."
o ELEMENTO UNIVERSAL 1 - Tenho-me ocupado por várias vezes desse elemento, principalmente quando falei sobre o radium. Mas só agora procurarei defini-lo. 2 - Esse elemento a que me reporto não é, como talvez supõém os que me lêem, o éter. Este, conquanto muito se pareça com ele pela sua subtilidade ou iminente fluidez ou estado de desagregação, todavia, difere mu ito do elemento universal de que falo, sobretudo quanto ao seu estado de fluidez ou desagregação. Se afirmamos que o éter constitui a partrcula'mais pequena a que se pode reduzir a matéria, tal afirmação é apenas relativa aos meios que possu rmos; quanto ao elemento universal, este sim, constitui a extrema divisão a que se pode realmente reduzir a matéria. 3 - Assim é que afirmamos: 1Çl - que esse elemento universal, ou melhor: que as partrculas que o constituem são, por sua natureza insecável, absolutamente indivisrveis; 2Çl - que o elemento universal, conquanto material, é um corpo simples, porque não se compõe de outras partfculas; 3Çl - que por isso mesmo não tem extensão, propriamente falando; 4Çl - que é o átomo-suporte em que reside aquilo por que-os corpos são o que 146
são e se diferenciam uns dos outros; 59 - que é idêntico em todos os corpos, variando somente devido a sua interna estrutura nos corpos, dos quais ele é a célula-mãe onde reside o protoplasma, ou aquilo em virtude do que os corpos são o que são, segundo as leis secundárias que regem o universo; 69 - que as mesmas leis que regem a composição e decomposição dos corpos são também aplicáveis a ele, com relação à composição e decomposição dos átomos e moléculas que ele define na categoria dos corpos simples e compostos, seja quanto às suas qual idades, seja quanto às suas propriedades trsicas, qu(micas e biológicas; 7 0 - que é esse o elemento sobre o qual atuam os agentes frsicos, qu (mlcos ou biológicos, dando, sob sua ação, origem ao mineral, ao vegetal e ao animal. 4 - E o que se opera nesse microcosmo, em escala sempre crescente opera-se e observa-se em todos os corpos, desde os mais simples e rudimentares até aos mais complexos, desde os mais pequenos e imperceptrveis à vista aos maiores e gigantescos, tais como os que flutuam nos espaços, em volta de nós. 5 - De maneira que podemos afirmar, sem temor de erro, que há no mundo somente duas coisas que são realmente indestrutrveis: o átomo-suporte primário, ou substancial, da forma substancial, ou primária, o qual serve de suporte à matéria-suporte, e a forma primária, ou substancial, dos corpos. 6 - Pelo que diremos: 19 - que não pode haver no mundo nem subsistir matéria-suporte sem sua forma primária, nem forma primária sem seu suporte material, ou primário; 29 - que, mutatis mutandis, a forma primária ou substancial está para o seu suporte primário material como os acidentes ou formas secundárias estão para o corpo que ela materialmente define, a não ser por milagre; 39 - que assim como, para que a forma material possa subsistir, se faz preciso o corpo em que ela adere (visto ser uma forma acidental), assim também, para que a forma primária ou substancial do átomo-suporte substancial possa subsistir, é de mister esse átomo-suporte substancial; e assim também para que subsistam tanto esse átomo-~uporte quanto a forma primária que nele subsiste e que define os corpos, é necessário admitir a existência de um Ser Supremo, autor da torma primária dos corpos e do átomo-suporte dessa forma primária ou substancial, que, por isso mesmo que é simples, difere mui147
to da matéria, que, sob a ação desse átomo-suporte, toma as diversas formas secundárias e diferentes entre si; 49 - que o concurso desse Ser Supremo se faz indispensável porque se Ele faltasse - tudo voltaria ao nada. 7 - Embora existam em nós as aptidões adequadas ã nossa vida orgânica, assim como deixar{amos de existir se faltasse o oxigénio no meio em que vivemos, assim também, se nos faltasse o concurso divino, tudo voltaria ao nada, apesar de Ele haver criado e plasmado todas as coisas com os requisitos necessários para a sua vida, conservação e reprodução. O concurso de Deus, pois, é a suprema lei que rege, governa e conserva o Universo.
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A REPERCUSSAO DOS INVENTOS E O RECONHECIMENTO AO AUTOR "Talking ower a gap of miles a ray of light" (falando através de um abismo de milhas ao longo de um raio de luz) - sob este título. em matéria de página inteira. em sua edição do dia 04/10/1904, o New York Herald. importante jornal nova-iorquIno, anunciava aos americanos do norte o invento do Padre Roberto Landell de Moura. Era a repercussão, no exterior, do trabalho desenvolvido pelo cientista brasileiro. Dos principais trechos da notícia, um merece especial destaque: "A telefonia sem fio é corolário natural da telegrafia sem fio. As mesmas leis da natureza são as bases de ambas as invenções. Porém, a telegrafia sem fio é um fato, aceito pelos cientistas e pelo público. A telefonia sem fio. por outro lado, paira no ar. Cientistas, na Inglaterra e na Alemanha, estão interessados em estabelecê-Ias. As várias tentativas públicas nunca tiveram um chefe que as conduzisse a finalidades positivas. Por entre os cientistas o brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles têm dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações elétricas. Brighton, na Inglaterra, e Ruhmer, na Alemanha, tinham recentemente empenhado o seu saber em experi"mentos de telefonia sem fio. Porém, depois de Brighton e Ruhmer, foi ouvido o Padre Landeli: após anos de experimentação. tinha conseguido obter uma patente brasi leira para a sua invenção, que foi denominada "gouralphone" . Este mesmo jornal, dois anos antes, em 12/10/1902, publicava uma entrevista do Padre Landell de Moura e informava aos leitores que as suas teorias foram tão revolucionárias que as patentes não seriam concedidas sem a apresentação de modelos em funcionamento. para uma demonstração prática da sua viabilidade. E uma marcante demonstração de reconhecimento da intelectualidade brasileira aos serviços prestados li Humanidade pelo cientista patrício foi a criação da Fundação Educacional Padre Landell de Moura - FEPLAM, da qual trataremos mais adiante. 149
Mas, ao correr dos anos, na imprensa brasileira, a figura e os .inventos do Padre Landell de Moura foram e vêm sendo focalizados por veículos de informação de diversas partes do País, por escritores, personalidades e entidades dos mais importantes setores da sociedade, do que apresentamos a seguir um resumo ou partes mais importantes de algumas dessas manifestações. O Jornal da Manhã, de Porto Alegre, de 25/06/1933, em ampla reportagem revelava caber a um brasileiro a descoberta da telegrafia sem fio. Ilustrada com a fotografia do inventor Padre Landell de Moura e com o fac-símile da carta-patente que lhe forneceu o Governo dos Estados Unidos sobre a sua invenção do telefone sem fio, a reportagem traça o perfil do Padre Landeli de Moura e explica como foi que o Dr. Egydio Hervé, lente da Universidade Técnica de Porto Alegre e Presidente do Instituto de Previdência, chegou à espantosa conclusão de que Landeli de Moura era o inventor da telegrafia sem fio. A Gazeta, de São Paulo, na sua edição de 15/07/1933, transcrevia uma carta, dirigida a um jornal do Rio de Janeiro, A Nação, por Jayme Leal Velloso, na qual este fazia as seguintes referências ao Padre Landell de Moura e às suas descobertas científicas realizadas no século passado em São Paulo: "Tendo residido 30 anos no Estado de São Paulo, dos quais 25 na capital, ouvi, muitas veles, falar, ali, das experiências realizadas por aquele ilustre sacerdote, de transmissões de telegrafia e telefonia sem fio, do alto da Avenida Paulista para o Alto de Sôm'Ana, numa distância aproximada de uns oito quilômetros em linha reta, fatos esses ocorridos, mais ou menos, entre os anos de 1890 e 1894. Deve existir ainda muita gente naquela capital, contemporânea dessas experiências e que muito poderá revelar e esclarecer a respeito de tão importante assunto. Conviria, pois, que se procedesse a minuciosas investigações a fim de deixar bem patente a precedência brasileira do genial sacerdote na descoberta dessa grande maravilha da ciência." Manhã do Rio, do Rio de Janeiro, edição de 02/10/1933, louvava a idéia externada pelo Jornal da Manhã na sua reportagem do dia 25/06/1933, de ser efetuada uma sindicância pelo Governo brasileiro junto ao Departamento do Interior e no Sureau of Standards, da capital americana, através de nossa Em-
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baixada nos Estados Unidos, com o fito de reivindicar para nosso patrício a glória exibida por Marconi. E afirmava o citado jornal: "O título de 'inventor da telegrafia sem fio', atribuído a Marconi, segundo tudo indica, não lhe cabe por direito. 10 que, antes do ex-sábio italiano e atual caixeiro-viajante fascista, houve um homem no mundo que possuiu a patente do 'gouralphone', aparelho 'apropriado à transmissão fonética da palavra à distância, com ou sem fios, através do espaço, da terra ou da água'. Esse homem foi o padre brasileiro Landell de Moura, que foi durante muito tempo vigário da Iqreja do Rosário, em Porto Alegre. Sua patente foi fornecida pelo The f'atent Office of Washington, em 1900, e está registrada sob o n9 3 279.. nos arquivos qrasileiros." Quase trinta anos depois, em 1960, Ernani Fornari lançava sua obra O "Incrível" Padre Landell de Moura, a qual deu origem a diversas manifestações objetivando demonstrar o reconhecimento público ao cientista patrício. O escritor Manoelito de Ornei las, na sua coluna "Prosa das Terças", do Correio do Povo, de Porto Alegre, edição de 23/08/60, assim se referia à monografia de autoria de Ernani Fornari: "Nem todas as criaturas humanas poderão ter a ventura de Flaubert, para dizer: 'vingar-me-ei das dores, descrevendo-as em meus livros'. Muitas angústias humanas morrem sufocadas na boca, sem encontrarem evasão sequer na forma escrita, que foi o privilégio de Flaubert. " "O pensamento nasce da leitura do livro de Ernani Fornari: O "Incrível" Padre_ Landell de Moura. E a cristalização desse pensamento, em letra de forma, vem de um apelo recebido, dentro de meu gabinete de trabalho, de Dona Carlinda Leite Borges de Lima e da Profa Elida de Freitas e Castro Druck, que abnegadamente tomaram o encargo, a um tempo cívico e humano, de dar à passagem do primeiro centenário do Padre Landeli de Moura a repercussão que a justiça está a exigir." E em 15 de outubro do mesmo ano de 1960 o Orbis Clube de Porto Alegre realizava concorrida sessão, que contou com a presença, como convidada especial, da Sra. Carlinda Leite Borges de Lima, iniciadora do movimento para ,festejar o centenário de nascimento do físico Monsenhor Roberto Landell de Moura. Durante a reunião, que obedeceu a uma extensa proqramação, sendo inclusive noticiada pelo Correio do Povo de 151
16/10/60, a Sra. Carlinda Leite Borges de Lima leu trechos da monografia de Ernani Fornari alusiva à vida de Landell e seus extraordinários inventos. Efetivamente, o lançamento do livro de Ernani Fornari suscitou, na época, extraordinário interesse geral. Entidades representativas e personalidades de expressão no cenário sóciocultural e científico constitu iram uma comissão, encabeçada pela Sra. Carlinda Leite Borges de Lima, o escritor Manoelito de Ornei las, o General José Lopes de Lima e o Coronel Abdias Arruda dos Santos, destinada a reverenciar a memória do saudoso brasileiro que muito contribuiu para a marcha da ciência e conseqüente progresso da humanidade. Esta comissão recebeu o imediato apoio do então Comandante do III Exército, General Osvino Ferreira Alves, somandose esta participação à do Lions Clube de Porto Alegre, sob a liderança da Mesa-Redonda Pan-Americana, presidida pela Sra. Carlinda Leite Borges de Lima. Integraram também o movimento o próprio autor da obra recém-lançada e o Presidente do I BAI - Instituto Brasileiro de Assistência ao Inventor, Professor Otávio Francisco Pinheiro, que fez os seguintes pronunciamentos a jornais do Rio de Janeiro sobre o Padre Landell de Moura e seus inventos: Ao Diário de Notrcias, de 15/10/61, declarou: "O Padre brasileiro Landell de Moura foi realmente o inventor do telégrafo sem fio e da lâmpada fotoelétrica e não Marconi, e tenho em meu poder documentos que comprovam a veracidade destas afirmações. As pesquisas e os estudos do Padre Landell foram registrados no próprio The Patent Office, repartição dos Estados Unidos encarregada de registrar.todas as patentes de invenções, cerca de dois anos antes dos trabalhos de Marconi e, além dessas invenções, centenas de outros trabalhos de cientistas nacionais ficam sem valor, em virtude da falta de fé do brasileiro na capacidade de seu povo." Continuando, afirmou que "o brasileiro é um dos povos de maior capacidade inventiva do mundo, comparável mesmo e, às vezes, superior à dos americanos, japoneses, russos e ingleses. Entretanto, o inventor nacional sofre da falta de amparo e de assistência. Além do exemplo do Padre Moura, gaúcho que estudou no Rio e aqui realizou seus estudos tendo sido tachãdo de louco, quando pediu aux í1io ao Governo e um navio para fazer 152
experiências, ci10 também o de Bartofomeu de Gusmão - o Padre Voador -, que primeiro realizou experiências com balões fora do Brasil e completamente desamparado pelas autoridades do Pa is." A O Globo, de 20/11/61, reiterando suas declarações, o Professor Otávio Francisco Pinheiro disse de sua convicção de que "Landell é, realmente, o inventor do telégrafo sem fio e que quem quiser se convencer disso basta ler o livro O "Incr(vel" Padre Landell de Moura." Mas, prosseguindo na suce~ão de eventos que marcaram os cem anos do Padre Landell de Moura, temos ainda a homenagem da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, que instituiu, naquele Estado, que 1961 fosse considerado o Ano Landelliano, em face do transcurso, a 21 de janeiro, do centenário de nascimento do Padre Landell de Moura. O Exército esteve presente às comemorações, não só com o seu apoio já mencionado, como também pelo fato de o General Osvino Ferreira Alves haver determinado que no Boletim do citado dia, dos corpos que faziam parte das guarnições do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, fossem feitas referências à personalidade do Padre Landell de Moura e ao valor de seus inventos. Por sua vez, o Arcepisbo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, em ofício dirigido ao Ministro da Viação, solicitara a emissão de um selo comemorativo do centenário de nascimento do grande cientista, pedido que viu imediatamente satisfeito. Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, da qual o Padre Landell de Moura foi pároco por vários anos, houve a celebração de uma missa solene na data que assinalava os cem anos do seu nascimento. A Livraria Globo, de Porto Alegre, de propriedade da Editora lançadora da obra de Ernani Fornari, associando-se às comemorações do centenário de nascimento do Padre Landell de. Moura, efetuou, em uma de suas vitrinas, uma interessante exposição de documentos pertencentes ao mesmo. Poucos anos mais tarde, em 6 de maio de 1967, um grupo de educadores gaúchos criou a FEPLAM - Fundação Educacional Padre Landell de Moura, numa homenagem ao nome esquecido do sacerdote porto-alegrense que, antes mesmo de Guilherme Marconi, descobriu inventos importantes dentro do
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campo das telecomunicações. Fundamentados em experiências vitoriosas de utilizar o rádio, a TVe o jornal como instrumentos de transmissão de cultura e promoção social, executadas pela Diretoria do Ensino Industrial, alguns educadores gaúchos, entre eles: Nélson Marchesan, Jorge Alberto Furtado, Zilah Mattos Totta, Francisco Machado Carriou, Nilo Ruschel, Frederico Lamachia Filho, lôrica A. W. Coester, Ana Maria Duzzo, Paulo Paiva de Oliveira e mais de cinqüenta coordenadores municipais, apoiados por entidades privadas e pelos principais órgãos públicos, criaram a FEPLAM, com a finalidade de ampliar os limites da comunicação e da cultura, com vistas à educação e participação de todos para o bemestar e o progresso da nossa sociedade. E na edição de 02/08/69, do Correio do Povo, de Porto Alegre, vamos encontrar, na coluna "Caderno de Sábado", assinada pelo jornalista e professor Nilo Ruschel, uma exaltação aos memoráveis feitos do Padre Landell de Moura. Iniciando seu artigo com uma frase muito adequada, afirma Nilo Ruschel: "Vinha cansado de andanças, o Padre Landell. O fardo que carregava era pesado demais para os seus ombros - e para a época. Corria o ano de 1901 e ele estava chegando dos Estados Un idos, onde permanecera por três anos". E prossegue numa detalhada recapitulação das dificuldades e sofrimentos do Padre Landell para trazer dos Estados Unidos, devidamente sacramentadas, as três famosas patentes de invenção, lembrando, finalmente, as privações que o cientista teve de enfrentar, a fim de "satisfazer às exigências das atónitas autoridades do "The Patent Office at Washington". A revista An"tena, do Rio de Janeiro, edição de novembro/ dezembro de 1969, publicava, sob o título "Um museu para nosso pioneiro", uma carta assinada pelo Professor Francisco Machado Carrion, Presidente do Conselho Administrativo da FEPLAM, e pelo Sr. Alvacir Ribeiro.da Rocha, do Departamen· to de Orientação Técnica, na qual manifestavam a imensa satisfação da Fundação pelo artigo publicado na edição de janeiro/ fevereiro do mesmo ano, sob o título: "Na história das telecomunicações um lugar de honra pertence a um brasileiro: Padre Roberto Landell de Moura". Na carta apresentavam também três sugestões: "Se possí·
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vel, ampliar as pesquisas de documentação e registro das atividades do Padre Landell de Moura e reeditar, bem mais ampliado, o livro O "Incr(vel" Padre Landell de Moura, de Ernani Fornari, tornando-o assim bastante conhecido a todos os brasileiros. Fazer uma ampla campanha no sentido de procurar em todo o Pais, e mesmo nos EUA, aparelhos e objetos autênticos utilizados pelo Padre Landell de Moura, a fim de constituir um museu baseado em seus trabalhos. E procurar uma data significativa nas atividades desempenhadas pelo Padre Landell de Moura e escolhê-Ia como o dia de homenagem ao seu impereci· vel e não reconhecido pioneirismo, o que poderia ser estabelecido pelo Ministério das Comunicações." Em 10/08175, o Diário Popular, de São Paulo, publicava um reportagem intitulada "Um padre brasileiro e não Marconi, inventor do rádio", do jornalista Tarcisio Machado Carvalhaes, que informava: " - Dois anos antes de Marconi iniciar suas experiências de transmissão de sinais com o telégrafo sem fio, o padre brasileiro Roberto Landell de Moura procedeu à primeira transmissão da voz humana através de um aparelho sem fio, da Av. Paulista para o Alto de Sant'Ana. A surpreendente revelação é feita pelo Prof. Júlio Zapata, um chileno radicado no Brasil desde 1973. Zapata leciona radiojornalismo, telejornal ismo, relações públicas e relações com a imprensa nas Faculdades de Comunicações Armando Alvares Penteado, Cásper Libero e Objetivo. E foi pesquisando nesse seu setor de atividades que descobriu este importante fato, marginalizado pelos brasileiros. " - Quando vim para o Brasil, a fim de in'teirar-me do aspecto brasileiro em relação às telecomunicações, procedi a uma pesquisa minuciosa e, para meu grande espanto, li qualquer coisa a respeito das experiências do Padre Landell nesse campo. Mas as fontes ~ram muito vagas, imprecisas. Apenas um único livro O "Incdvel" Padre Landell de Moura, do escritor Ernani Fornari, abordava o assunto". EI Diario, de Buenos Aires, dedicou ao assunto, em sua edição de 14/05/76, uma matéria intitulada "Sacerdote norteno inventó la radio", da qual transcrevemos o seguinte trecho: "Quando em 1895 Marconi comenzó sus experiencias con transmisiones tipo telégrafo y a una distancia nunca mayor de 6 metros, nadie podia imaginar que dos anos antes, en un país sudamericano, más C'Oncretamente Brasil, ciudad de San Pablo, 155
um hombre ordenado sacerdote, pero también cientifico de jerarquia, tenia ya construidos el teléfono sin hilos, el telégrafo y el trasmisor de ondas, precursor de la radio" "V con este último invento, el Padre Roberto Landell de Moura logró ante asombrados paulistas, propagar música, palabras y el tic-tac de un reloj a una distancia de 8 kilómetros." Para encerrar esta série de registros e transcrições de homenagens e manifestações de reconhecimento ao Padre Landell de Moura, nada melhor do que a reprodução integral da mais recente crônica sobre o cientista brasileiro, de autoria da escritora Dinah Silveira de Queiroz, membro da Academia 8rasileira de Letras, publicada na sua coluna Mensagem, da revista O Cruzeiro, de setembro de 1982, sob o título: "O Padre Landell de Moura. Os equívocos da história": "(De Lisboa) - Nosso bom amigo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão levantou seu dedo, decerto já luminoso de tanto apontar estrelas, para tentar fazer justiça a um brasileiro de Porto Alegre, Padre Roberto L-andell de Moura. Antes das experiências de Marconi, realizadas perto de Bolonha, em 1895, o padre já fazia espantosas experiências de transmissão e recepção sem fio, da voz a uma distância de cerca de oito quilômetros. E onde se faziam essas experiências? Na Avenida Paulista ao Alto de Sant'Ana, em São Paulo, nos anos de 1893 e 1894." "Ele havia patenteado a invenção nos Estados Unidos no começo deste século. Logo depois voltava ao Brasil e o nosso velho e bem-amado Jornal do Commercio dava-lhe oportunidade para descrever as suas invenções na transmissão do rádio. Mas houve um triste equ ívoco até certo ponto compreens ível quando o sacerdote procurou o Presidente Rodrigues Alves. Um dos oficiais-de-gabinete do Presidente perguntou ao Padre Landeli qual seria a distância desejada por ele para que dois navios trocassem suas mensagens e a resposta parecia mesmo a de um louco - "A distância máxima possível. As que quiserem ou puderem. Os meus aparelhos podem estabelecer comunicação com quaisquer pontos do planeta, os mais afastados que estejam uns dos outros. Isto atualmente, porque no futuro servirão até mesmo para comunicações interplanetárias" "Eis a impressão que teve o oficial-de-gabinete do Presidente Rodrigues Alves: "- Excelência, o tal padre é totalmente maluco. Imagine que ele chegou até a falar-me em conversar 156
com habitantes de outros planetas". Nosso astrônomo do Observatório Nacional diz, com razão, que hoje, quando se fala em comunicaçâ'o interplanetária e mesmo interestelar, o nome mundialmente citado é o de Marconi. Nem mesmo no Brasil o nome do Padre Landell de Moura é reconhecido como inventor da radiotransmissão. Mas em Portugal existe uma ·fundação educacional com o nome de Padre Landell de Moura. O engenhei ro Arnaldo do Nascimento, dessa fundação, escreveu sobre o nosso sacerdote. "Houve um momento grandioso em que o nome do ilustrissimo sacerdote bem se expandiu pelo mundo. Foi neste mesmo ano de 1982 que a Fundação Padre Landell de Moura, pela orientação de Arnaldo Nascimento, que é· radioamador, de Belmonte, fez a irradiaçâ'o das solenidades de mais um aniversário - quatrocentos e oitenta e dois anos - da primeira missa no Brasil, mandada aos ares para as comunidades portuguesas do mundo. Era maravilhoso pensar que esse engenheiro do Porto, na noite em que se deu a festa comemorativa, em Belmonte, a própria vila de Pedro Alvares Cabral, mandou a tantos lugares a comunicaçâ'o dos acontecimentos ocorridos no sítio onde, velhinha mas ainda de pé, está a casa de Pedro Alvares CabraL"
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OBRAS 00 MESMO AUTOR: Missal da Ternura e da Humildade poesias - 1923 - 1932 Trem da Serra poesias - 1928 Guerra das Fechaduras contos - 1931 - 1932 19:)1 Praia dos Milagres poemas em prosa - 1932 O Homem que era dois romance - 1935 Enquanto ela dorme novela - 1936 - 1951 O que os brasileiros devem saber civismo - 1936 - 1938 - 1940 Nada! teatro - 1937 - 1942 - 1958 laiã Boneca teatro - 1938 - 1942 - 1954 Sinhã moça chorou teatrO - 1941 - 1953 Quando se vive outra vez teatro - 1947 Sem rumo teatro - 1951 INEDITDS,
Os filhos julgam teatro Quatro poemas brasileiros poesias Teoria da Bengalada cOntos
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eiRAPHOOm-un _ _ e.-.1WN_T....
borou com diversos órgãos de imprensa e foi fundador e primeiro diretor da revista Cocktai!. Internacionalmente, o literato gaúcho projetou-se graças à apresentação de diversas peças de teatro de sua autoria no exterior; à sua atuação, durante vários anos, como secre· tário do Instituto Brasileiro para a Educação, Ciência e Cultura (Comissão Nacional da UNESCO); e ao trabalho que realizou, ao lado de Olegário Mariano, então Embaixador do Brasil em Lisboa, no setor cultural da nossa representação diplomática. Ernani Fornari construiu uma fecunda obra literária, onde se destacam os livros de poesias Praia dos Milagres e Trem da Serra (além do já citado Missal da Ternura e da Hu· mildade); o romance O Homem Que Era Dois; a novela Enquanto Ela Dorme; a seleção de contos Guerra das Fechaduras; a obra paradidática O Que os Brasileiros Devem Saber; a biografia O "Incrível" Padre Landell de Moura; e, especialmente, as peças teatrais Nada, laiá Boneca, Sem Rumo, Quando se Vive Outra Vez e Sinhá Moça Chorou. O escritor era membro de várias sociedades culturais e profissionais (como o Pen Club do Brasil, Asso· ciação Brasileira de Imprensa etc.) e conselheiro vitalício da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Deixou inéditos, ao falecer, em 15 de julho de 1964, Teoria da Bengalada, um livro de contos, Quatro Poemas Brasileiros, uma seleção de poemas e Os Filhos Julgam, um drama teatral. No ano de sua morte, as Câmaras Muni· cipais das cidades de Rio Grande (RS) - onde nasceu -, de Pelotas - onde iniciou sua caro reira literária -, e de Petrópolis (RJ) onde vi· veu seus últimos anos, após aposentar-se votaram leis dando seu nome a logradouros públicos naquelas três cidades, enquanto que no Rio de Janeiro foi homenageado com a criação do Centro Cívico Ernani Fornari e uma escola estadual carioca.
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Coleção General Benicio Volume 224 ISBN 85-7011-