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típica das essências metafísicas com todas as suas impÌicações, em grande sentido, tamÉm rcpressivas (na medida em que perman€ciam necessariamente transcendentes). Uma verificação da imporúncia deste ideal da autotranspiúên cia na çultuÌa contelÌìporânea pode encont?r-se na estrutura conceptual que rcge a grande inv€stigação de Sarhe sobÌe a raáo dialéctica, onde o problema é pÌ.ecisamente o de c:ìIacterjzar os nìeios concrctos segundo os quais o saber em si da sociedade se constitui em fomas não alienadas, €nquanto efectivamente participadas por todos os membros daquela sociedade: Sartre pensa nâtuÌaÌmente ta revolução, enquanto Flabemâs e Apel pensam na capacidade emancipadora das ciências sociais; mas o ideal de autotransparência é o mesmo. Será este, portanto, o ideal da autotransparência, a direcção paü a qual aponta hoje a relação entre a sociedade da comunicação e ciências sociais? Estaremos linaúmente em çondìções de reaÌizar um mundo em que, como diz SiLnÌ-e em Questão de Método, o sentido d^ história se dissolva naqueÌes que a fazen em concreto? (5) De facio, urna tal possibiÌidade par.ece ao alcance da Dìão: bastaria que os mass mzdú, que sâo os modos em qÌle a autoconsciência da sociedade se transmite a to, dos os seus membros, nâo se deixassem já condicionar por ideologias, interesses de sectores, etc., e se tomassem de alguma forma <<órgãos> das ciências sociais, se sujeitassenì à medida crítica de um saber figoroso, dìfundissem uma imagem <
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llrnrìlc cxpectativa, isto é, do ideaÌ normativo da autolranspa I rrirì, encontramo-nos perante um conjunto de factos paÌo
,|rnlis: os mesmos factos, por exemplo, que encontram
os
Nico(6), lu lìanlìglia <<paÌadoxalmente, no momento em que o rrro|rllc desenvoÌvimento da comunicação e da troca de infoÌlrrr,t()riirdores do mundo contemporâneo. Como escrcve
culturais e políticas, tornav0m possível um projecto de l it(iÍiir autenticamente mundial, o declínio da Europa € o Íl,n irncnto de mil outÍos cenÍos de história anulavam essa lrìssil)ilidade e levavam a historiografia ocidental e europeia a , (ìlllrrn]taÍem-se com a necessidade de uma fansfoÌmação I'r olÜì(lâ na própria concepçâo do mundo)r. Em geral, o de '! rìv(ìlvimento int€nso das ciênçias hununas e a intensificação ,lrr r'orrrunicação social não parecem produzir um aumento da iIrlolrirnsparência da sociedade, mas, pelo contrário, parecem lllor ioniÌr em sentido oposto. Tratar-se-á apenas como asnruitas vezes uma socioÌogia cítica t41v€z- demasiado ',rrrrrt rrlìsrrvicntemente herdeiÌade esqueÍnas daZiúlísatío s-Kritt,( ,l(rs primórdios do século XX do facto de que o desen\,rlvrììcnto tecnológico tem uma intrínseca tendência para de'í rrlx rìhar as funçõcs de apoio ao poder tal como é, toman,1,ì ,,(. lirtâlmente escmvo da propaganda, da publicídade, da , 0lr,.rvação € intensifìcação da ideologia? E, no entanto, a lrrtxrssibilidade de fazer veÍdadeiramente uma história unir, r r,rrl, por exemplo, perante a quaÌ se encontiam os historiai l, r s r lir contemporaneidade, não paÌece ligada principâlmente 'r ,r lr ì rilcs deste tipo, mas a razões opostas; há uma espécie de ì rrr,t)ia Ìigada à pÌópda multiplicação dos cenÍos de história, t',ro (, {los lugares de recolha, unificação e transmissão das trrl,rrrrrções. A ideia de uma história mundiaÌ, nesta perspec tl\ r, rcvcla-se aquilo que de facto sempre foi: a redução do , rrr,r) rk)s acontecim€ntos humanos sob uma peÌsp€çtiva unilrtllir rlrc ó tamMm sempr€ função de um domínio, seja ele ,l,,rrrrrio de classe, domínio colonial, etc. Algo do género, rrrrrçrrcs
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provavflmen!e. sení válido também para o ideal de auÌotrans_ parencra da sociedade: ele funciona apenas do ponÌo de vi\ta oe um su1elo central. e que se toma poÍém cadã vez mais im_ pensavet. â.medida que. no plaro técnico. se tomaria - possr_ vel' reaLzá-lo eÍèctjvamente. Ê njvez este o destino do hege_ linnismo, do AuJklàrurj. ou daqueìa que Heidegger chamà a metâtistca. na sociedade conlemporánea: tomando se efeclivamente possível do ponto de vista da disponibiÌidade estritamente técnica. a autoransparéncia da sociedad",.orno .oiou a,socrotogra cniica de Adomo. revela_se, por um lado, como rde^al-de domínio e não.de emancipação: por outro . aquilo que, em conÍapartida, Adomo não via_ desenvoÌvem_se no próprio interior do sistema da comunicação ((apar€cim€nto de novos centros de históda,il -ecunis.ã. q"" t".""-ã._ fi njtivamenrc impossivel a reâlizaçào dâ autonansparência. {-rero que-à Iuz desta hipótese. deve repensar se o desfnvot-vlmenlo do debate. muito signiÍicarjvo na cullura do \éculo xx. sobre o "carácler cienllfico, ou não das ciétìcias humanas e da hisloriografia. E sabido qÌre este debaÌe, no decurso do qual as própriaç ciència\ humanaì definiram pela primeira a,lu.fltliongnua gspecÍfica. foi marcado na, suai origens Ill pela dÌstrnção (lormulada poÍ Wirìdelband) enúe ciências'na_ ruÍals nomotellcas e ciènciaj humanas ideogÌáficâs (ou, em Dilthey, ciências da natureza e ciências dúspflto, com a oposição entre explicação causal e
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oisrrs nas ciôncias da natureza, o ceÍo é que nas ciências hurrrrrrrs se impuserarn modelos de racionalidade, desde o centr/r(l(t rìo ideal-tipo weberiano ao de Cassirer que se s€rve da r('lc|incia à noção histórico-normativa de estiÌo (retomada por Willlllin) (7), 6u a do <<modelo zero> de Popper (8), nos quais . cvi{lcnte o caÌácter por sua vez intra-histórico dos modelos rrìl( rlrctativos de que as ciências humanas se servem. Este r nri( ror intra-histórico exclui o facto de que as ciências humaurs lx)ssam pensa!Ì se como totalmente reflexivas, isto é, en ,lrflrlo capazes d€ teflectir a realidad€ humana fora de esquerrrls irrtcrpretativos que, sendo por sua vez factos histó cos, rrìr' r'( frcsentam uma (novidade) Ìelevante, e também por is,,, rìir() são um puro espelho daquilo que se trataÌia de conhe,, r objcctivamente. Não só: nesta tomada de consciência que ',i lìrxlc châmar hermenêutica, as ciências humanas reconhe,
rrrÌì o caÌácter histódco, limirado e afinrl ideológico, do t,ri)lnio ideal da autotranspaÌência, como do de uma história
,(
rrrrrvclsal a clue antes se fez ref€rência. O ideal da comunidade rlrrìrlilda da comunicação de Apel e Habermas é certamente llr,xk lado no da comunidade dos investigadores e dos cienúst,r, rr rlre fazia referência Peiice ao falar de socialismo lógico.
Nlr\ soú legítimo modelar o sujeito humano emancipado, e ideal do cientista no ',, ll LrhoratóÌio, cuja objectividade e desinteresse são coman
, !c r tuiÌlmente a própria soci€dade, pelo
'Lr,lo\ por um intercsse tecnológico de fundo, que só pensa a Ìlrtlrl'Zil como obj€cto uma vez que a repÌesenta como um luimplicando assim uma séde de 1'rrr rlc possível domínio r,li rrs, (ìc expectativâs, de motivações que hoje são Ìargamenr, ,'l'Í c1o de círica? lÌr vcz de avançar para a autoÍanspaÌência, a sociedade I r ( iarÌcias humaÌas e da comunicação geneÍalizada avançou t,,r'rr rrrlucla que, pelo menos em geral, se pode chamar a <
-
3l
planos-diferenle),
consliluem a própria obje{tividade do mun_ oo, e nao apenas tnLerpretdçõeì diferente\ de uma -realidade. de algum modo "dada-. -Nâo nos fizeram. âpenas inleÍpreta
ções>, segundo o dito de Nietzsche, que escreveu tarnMm <
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rr:conhecido o processo de fabulização do mundo co natunÌmente de foÌma urgente; e paÌa já existem poì.I,,ì.i lxnìtos de referência clatos: antes de mais, que a lógica , ,'rrr blse na qual se pode descÌever e avaliar criticamente o ,,rlx r das ciências humanas, e a possível
u ir sc
lLrtotransparência a que o coniunto dos /redia e ctêícias ^ lrrrrrrrrrrs nos conduz, por oÌa, parece ser apenas esta, a sabeÌ, , \tì(ìsição da pluralidade, dos mecanismos e das aÌmações 'r
fr, llriìs da construção da nossa cultura. O srstema nÌedia' r' rr, i.r' humanas funcìona. quando funciona. com emancitir,r() iìpenas enquanto nos coloca num mundo menos unitáll,'. llrrno{ cefto, porttuìto também menos úanquilizador que o '1,, Iìiro. E o mundo para o qual Nietzsch€ imaginaÌa, como ,,ro su.jcito humano capaz de o viver sem neurose, a figura lrl;(rnensch, do super homem; e ao qual a filosofia '1,' I ,ìllcsponde> com aquela que se pode chamaÌjá e com razão r r rrrrllnr hermenêutica.
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O miÍo reencontrado dos problemas mais urgentes que se coloca à consciên(Ìrìlcmporânea, na medida em que se tome consciente da ' rr IIrl'rrIização> do mundo operada pelo sistema media-çiências ,'r riris, ó redefinir a sua posição relativamente ao mito, solÍ ( r 1lo paJa não vir a conclut (como muitos fazem) que uma , , k scobeÍa do mito pod€ repÍesentaÌ a respostâ adequada ao t,Ì,'1ìlcrììà
r
trr,!rrrrodema. Nir(i há, na filosofia contemporânea, uma satisfatória teoria ,l' 1 ll rilo de sua essência e das suas ligações a ouüas foÍÌnas - com ,Lr r( lirção o mundo. Por outro lado, é verdade qüe o teÌr r,, c ir noção de mito, ainda que não precisamente definidos, , r( IlifrÌÌ lffgamente na cultura corrente: desde as Mitologias, ,l' l{r'l nd Barthes, nasceu, ou consolidou-se, uma tendência I rrrl Par-a analisar em termos de mitologia a cuÌtura de massa , ' ,ìr, srtls produtos; enquanto çlu€ na base, remota mas nem | , ir rss() rìenos eficaz, das ReJleions sur la riolence, de Sor, L. ,i(' continua a pensar na prcsença, e na necessidade, do r| ro crn política, como único agente capaz de mover as mas ,r', r irtó Claude Lévi-SÍauss, que, aliás, trata os mitos muito r , rr.irnÌente, como anÍopólogo, escreve numa páginâ da \ tt t'tr)bgia EstruluÌa1que nnada se assemelha mais ao pen-
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samento mítico que a ideoÌogia poÍtica. Na sociedade hodierna, de certo modo esta limitou-se a substituir aqueÌe> (10). Se
bem que l-évi-StÌauss não possa ser acusado de usar o termo mito de modo impreciso, uma afirmaçâo dest€ género, mesrno vinda dele, rcfeÍe-se mais ao uso comum, não técnico, do termo nito; enÍa, portanto, naquela imprecisão da noção a que fazíamos rcferêrìcia. De facto, quando na poslairot Mítolo?ia, Lévi Srrauss aplica urn üonceilo mais especifico de miró às
lrLrrrrirnl. Também Lévi-Strauss, que deceÍto não tem uma ,,rl( cpção puramente evolucionista do mito como destinado a ,lL:,( IvolveÍ-se no /ogo.r, e que se apÌesenta aliás como um ,
rrlrciìl a'Ìti-historicista, considera de algum modo o pensarnítico como um passado pala a nossa cuÌtura, de taÌ que se preocupa em indicaÌ ou o s€u sucedâneo na r,l,r'lo8iâ política, ou os seus traços rcsiduais na música e na rrr, rrtrr
!iri()
lrtIriÍ
suas possíveis sobrevivências no mundo de hoje, ele refere
ainda. como elementos e lormas da experiênciâ em que o mi to, embora dissolvido, sobrevive, a música e q 1i1s1a1un ( l1). MÀs não é a este sentido mais limitado e técnico do termo miro que se alude quando se fala de prcsença do mito na nossa cul tum; mas antes a um s€ntjdo mais vago qÌre, aproximadaÌnen te, entende o mito com base nestas caaacteísticas: ao contráÌio do pensamento científico, o mito não é um pensamento demonstrativo, tuìalítico, etc., mas nanativo, fantástico. envoÌvido nas emoções e, globaÌmente, tem menores ou nenhumas pretensões de objectividade; rem a ver com a religião e a aÍe, com o rito e a magia, e a ciência nasce, pelo contráÍio, em oposição a ele como desüritìficação, <<desencanto do mundo). O saber racional sobre a realidade, (onde quer que procure
constituir-se como consideração teorética e explicação do mundo, vê-se oposto não tanto à realidade fenoménica imediata, como à transfiguração mítica destâ realidade. Muito an t?,t do mundo se apresentat à consciência como urn complexo de
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ra.
(.)uirndo explicitamos estes conteúdos impÌícitos na posição T' ( rssirer e tambóm na de para não falar em
l;vi-Sfauss
\!r'l'cr
podemos expedmentaÌ um certo mal-estaÌ. Nr brse deste mal-estar está um facto evident€: a moderna , ,'rrrr lìlosófica do mito, até à mais recente, a de Cassirer, foi ., rrlrrt tbrrnulaú no hodzonte de uma concepção metafísica, , r,rlrrtiva, da história; ola, exactamente esie horizonte de filo(|ì história já se peÌdeu hoje em dia. Por consequência, ., 'lrir rr r l rri n I teoria filosófica do mito já não pode formular- se de ' u"Í' prcciso: e o uso comum do lermo mi!o reËista e exprime , ,rr (1nìÍìsão teórica: por um lado, o teÍno continua a signiIt, rrr rrrna forma de satrer não actual, muitas vezes considerado r, rIr', Ir inritivo, mas ainda assim cancterizado, rclativamente r' ,,rlÌ(ì científico, por uma menor objectividade ou, pelo t
,
r
(ì\, por uma menor eficácia tecnológica. Por -outro lado, r lrr rk vido à crise que, em filosofia, sofreram os metafísicos , ri'Ìr( ionistas da história (e, juntamente, o próprio ideal de t t, r,'rrrrlidade científica), seja devido a outras causas menos r, ,ìr rr irs c mais ligadas à históÌia política, a concepção do mito ','rx) l)cnsàmento primitivo piìrece indefensável. Estas con l|,r's c contradições podem surgi quando se procura recen-
llI
,
,rr rrs utitudes que hoj€ mais Ìargamente condicionam o uso
oul'ciro de
mito
atitudes que proponho descrcver com de ideâi\ que. geralmente. não se enconrr,rrrr rr|rcssos teórica e praticamente no esÍido puro, mas es in, rlÌiirlnrcnte presentes e são caÌact€rísticos da situação cul' ,1,' ,
l ,., , ll ü Íros tipos
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luraÌ
que nos movemos. Estas arjtudes predominanles po_ -9q trrutos: arcarlmo. ràturiuir.o "ês Todoç lÍés. mrtrgado. como veremos "JtuiJ, melhor, :ï::^:jraJrsmo sao camctenzados por.incoeréncias e confusões que
:::,.^.::ll * _em
::
;Tig: ïpd..
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_ tenha podido surgir como uma reórica -de t,,tsr(ir-rt esquerda": na base de tud; isso, havia â r,lcill (l,.que LdnÌo o estudo puramenÌe estÌxrural dos miÌos ,h\ c lÌuras íselvagens.. como a geral consideraçâo do ho_e rrÍ rr crn lemlos não historicisras (..estudar or homens como l'rri|iìs-. dizia Lévi-Strauss contra Sarúe) eram um modo rl'. lirluidaÌ a ideologia eurocènrjca do progÌesso com rodas as ,'rrlr irnplicações imperialisras e colonialiiras; a favor de um l)('Islrìento que recupeÌasse os valores (autênticos> de uma r( Lrçio do homem com a natureza não mediada pela objectir',r(,ì(, cienül'ica esü"iramenle ügada _ como mos!?ra a cniica ,rr'f frncotorre. mas rambém o Lukács de Hirtória e Cons. ' tl't, i,t dp Cla\se - à organizâçào capitalista do rabalho. A \rr , r Í ica e à má consciència relativamene ao imperialismo ' e vÍr'rrr formas de neocolonialìsmo uniram.çe, mais Íecenle_ 't, rÍ nt(', as pÍeocupaçôes ecológicas pelas consequèncias de_ Ír\tI(1,,ràs que a ciéncia. a tecnologia. a erploraçào capjtalista aos armamentos têm sobre a natureza externa e a ' rr corrida iil natureza física do homem. lÍa,ln lÌ. todos esleì factores nasce aquele que proponho chamar ,r{,r/.rrr,, em reìaçào ao mito: nâo só, deste ponto de vista, o 'rìrr,' rìio é uma fase primiriva e superada da nossa hislória ' rlturill. mas anles uma forÌna de saber mais autênlica. não ,l, v.r\tlldr pelo fanaÌismo puramente quantiativo e pela men_ ,rlr,li(lc objectivante própria da ciènciamodema. da lecnologia ,,|ì ciìpitaÌismo. Espera-se, de um renovado contacto coÍ; o trì - quea na forma dos mìtos das
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relrenle cultura europeio-conúnental se pode ÌarÌ_ [Êm aFavés de equivocos interpretativos nos quais nâo me derenho - a estas inspiraçòes. A cnLìca da civilização cientr._ . rco lecnt(a e o tnteresse pelo pensamenlo arcaico. que se en_
atribub
contra. de formas diversa;. em Nielzsche e em Hàidegger, são-assumidos como ponto de paflida para lenlar uma reiupe_ ração do mirot aindd que nem \ierische nem. sobretuào, HeideggeÌ Jusrifiquem uÍÍÌa taÌ emprcsa. De resto. seria ditíciì indicar posiçòes filosóficas ou pro grtuìas cultumi\ que r,xplicitanente \e prcponham um regÌes_ so ao \aDermittco: se se excìuir uma paÌre daquele movimenlo que. em Ìtália e em França. aperece sob o nome de ,nova d.i_ reiu , e que reloÍna a polémica anticapiÌaüsta do nazismo e do ta-scismo mislurando a com lemas saídos do movimenÌo de 63. Mas o arcaísmo, como aliás as outras duas atitudes <
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I'llrìcÍ)ios e os &\iomâs fundamentais que definem a racionalrrln(lc, os critérios de verdade, a ética e que tomam, em geÌal, lrrssíveÌ a experiência de uma deteminada humanidade histó rrlrr, rìe uma cultum, não são objecto de saber racional, de derrrorrstração, já que deles depende qualquer possibilidade de ,l(-rÌroostrar o que quer que seja. Uma expressão de tal positttrì, que se tomou muito popular no debate epistemológico ,los riltimos anos, pode consideru-se a teoda dos paradigmas ,lr"l hornas Kuhn, pelo menos na sua formulação originária I I l) Mils também a h€Ìmenêutica que se rcclaÍna de Heidegger I rìllìilils vezes considerada uma teoria deste tipo, ainda que lnìr hoâs úzões para acrcditar que, paÌa ela, as coisas se pas, r rrrr rlc forma diferente. No relativismo cultural não só falta ,lrrrlluer ideia de uma racionalidade unívoca à luz da qual se I"ìri\iìrn consid€rur <míticas> certas formas de sabeÌl mas r.,,rìlÌ:rìr. e sobretudo, a ideia de que os pÍimeiJos"princípios ,'lrrc os quais se constrói um universo cultuml específico não rit0 r)bjecto de saber racional, demonstrativo, deixa aberta a \ r lìrìrr os considemr mais como objecto de um sabeÌ de tipo rrlrrr{)r também a racionalidade científica que constituiu dur,rrrtc nruitos séculos um valor directivo para a cultura euÌopeia r rìc tììcto, um mito, uma crença paÌtilhada em cuja base se ,rlrrlrla a organização desta cultura; e assim (como escrcve, (14) é também um mito, uma l,i,r ( xcmplo, Odo MaÌquardt , r, rrçir'guia não demonstrada nem demonstrável, a própria t,| rr ilc que a história da razão ocidental é a história do afas, 1,1r r( rìlo do mito, d^ Entmythologisierung, conráÍio do arcaísmo. o relativismo cultural não atribui , Lrrr^o L lLrcr (rnítica) superioridade ao saber mítico relativamente i,, r rcltífico ípico da modemidadej em geral, nega apeniìs que lrlrr rrrna oposição entre estes dois tipos de saber, já que amlr r, .r() lundados em pressupostos que têm o caÌácter de mito ,Ir crença nâo demonstrada, mas mais imedratamente vivir NrrD sempre estas crenças-base própÍias de qualquer uni'l ;
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verso Cullural sâo chamadas milos. como porem vimos fazer a MarquâÌrìl: mas e um faclo quf. no relâiivismo. o interes:\e pero mtÌo erta vtvo como no arcai\mo: nào poÍque se procure oescoDrtr. no mÌlo. um saber mai5 autèntico. mas pórque o eçludo dos mitos de ouras civiìizaçòes nos pode;nsinar o mÉtodo coÍrecto para conhecer tamMm a nos;a. já que Ìambém ela tem uma estrutura fundamentaknente mítióa. ômo se vô bem pelo uso do termo no texto citado d" Uarq"arJ1 uq"ì mito equivale a saber nào demonsnado. imediaumente uiviáo.
e. poÍanto. assumjdo ainda muito condicionado pela sua pura e sirnples oposição às caÌacrerísticas próprias ào saúi cientficoPor outlo lado, na terceiÌa das atitudes, da qual me parece _ depender.hoje a consideração do mito, aqueÌa á que clámaria irracíonalkmo mitigado oü teona da ruciowlídlJdr límita(b,; milo é entendido num significâdo um tanro majs específico, que al ids se Iiga.ao^senrìdo erimológico originrírio da palavra. rvrto \rgntttca. de lacto. como se sâb€. nilnaçâo. Neìla forma ele opõe-se. ou distingue se do saber cienúlico nào por umir simples inversão das características deste úÌtimo a de_ monstratividade, a objectividade, €tc. mas poÌ um seu aspecto específico positivo: a estrutura narraiiva. podemos efectivamente chamar leoria da racionalidad€ fimitaaa àlueìc conjunto de atitudes culturais que consideram o saU". mi'["à, na sua qualidade essencialmente narativa, corno uma forma de pensamento mais adequada a certos âmbitos da er,pe.iãncra. sem contestar. ou sem pôr expliciramente em queìtâo. it saber cienrfico-posirìvo para ouuos campos dir ""1id19" 9" ts.
_
_
expenëncja.
.Podemos enconuar exemplos de\ta posiçâo enì pelo menos ÌÌes campos: â) na p\icânálise, na qual a vida inÌerior lende il ier constderadâ. tanto no seu funcionamento normal como nil situação terapêutica, como esbìrtula de naÌrações; ou mesmo, çomo aconiece na psicanálise de origem junguiana, referindo
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',. occessariamente
a certas <
Írtr)s Nrrquétipos, que
-
,
rÌìítico ''{ x)ììrìro
disse no início,
julgo que estas várias atitudes (que
rìspiram apenas determinadas posições rclativâmente ao rrrrì, ìÌrts que encontÌam nele um dos seus cotteúdos mâis , rrrrr'tcr'ísticos) nascem todas, mais ou menos directamente, da lr',,,'lução das filosofias metafísicas da história, sem porém ',rr,,rrrrrir'(ou digeriÌ) esta dissolução suficientem€nt€; e que rr't,ì
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por lsso mesmo apresentam equívocos e conffadiçõ€s que as tomam teoricamente insatisfatórias. O ar.caÍJru pu.u pelo primeiro, não só não se coloca o probtemà da "oi,"çui nisrórìa. como não consegle dar lÌrgar â uma poiiçào praticável relaLi vamente ao mundo modemo, que nâo seja, o que é significa_ llvo, a proporÌa da reslauração da cultuia "Lradicionít". por. porre da direita. O radicionalismo da direira que represenia u única saída poÌítica visível, do aÌcaísmo, é .i!rit"ãii* pã._ que revela, quarÌdo le\ ado ao exuemo. a \ua debjlidade t;óÍi. ca que constste em tràn\forma_r simplesmente o milo do pro. gÌe\so num mito das origens. as q uais. apenas enqutnto ul, senam mats autentrcamente humanas e dignas de constituir ou o Iirn de uma re!oluçâo potrlica ou, p"fo-rnano., po"ìã o ã. reterèncid pa_ra urÌÌa cnÌjca da modemidade. Idealizarcomo condìção perfeita o tempo das origens é tão vago como idealizar o luluno como tal (como lez e fàz ainda o Ideal secularizado do progÌesso. do desenvolvimenÌo. etc..t. F não sdr, reìacronamo.nos com as origens medianÌe pro(es\(, o que delas surge. e chega ale nós: o arctusmo pretende sim plesmenre pôr de paÌ.re o problema constiruíd";"; so. e antes de Ìnais o seguinte: se e das oripéns cue chec" precrsamentc a condiçào de mal eslar. alienação. .ri.. .rn qi,. nos encoflÍamos, então por que remontíLr a €las? São probìemas deste tipo, problemas de filosofìa da h;srOria, quie ã-ai caísmo põ€ de part€ sem os ter sufiçient€mente d'ebatido, na verdade, eles nâo se tornamm de _quando, -oao uigìuì deractuais pelo [acro dc rer pa.sado o rempo das meralísicJs evotuctonisÌas da hisrdriâ O mesmo çe pode di,,er do relâtivismo cultur.al. Aliás. _ arrur e ainda mais er idente que o problemà da hillorici,lâde nem colo(ado nem resolvido. nìâs foi rjmplesmente - ignorit do": o reladvi^\mo cuhural nâo presta grrnd. ,,, ro contexlo ele(lvO em que a tese da pluralidade "rençao iÍredultvcl ooì rnundos cullurais é enuncjadal nem: b) à efectiva impo.
;ì;;"",
;;;ìi; *ï-,
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.rl,rlirlude de isolar os mundos çulturais um do outro e I1ão ,'., rrrro em a), pelo nosso universo, de nós antropólogos e ,,rll{liosos do mito, que consftuímos a teoria. O problema que rìLlltirs vezes se coloca aos antropólogos que habalham <
-
tì" - o da rclação enffe eles, expoentes de uma cultura l,,rtc, rnuitas v€zes coÌonialista, e os seus informadores indíé apelìas um aspecto do probìeÍna hemenêutico ÍÌrais I ' rrs \,r,t,r que o relativismo cultuÌal não se coloça. O estudo das ',llr,rs) cuÌturas âcontecejá sempre num contexto que toÌna r rl!ìssível, e aÌtificialmente falsa, a pÌetensão de as represen1 ü ( r)rÌìo objectos sepaÊdos; eÌas são, pelo conÍário, int€rlot Il( ìrirs de um diálogo que, no entanto, uma vez reconhecido, ','li'( ir o problema do hodzonle comum em que de facto r ,,rrtccc, tornando inútiÌ a s€paÌagão pressuposta pelo relati\ r'.llÍ,. Este hodzont€ comum é o problema da filosofia da l,r .1, n irì, que não s€ pode liquidar facilmente. Por fim, a teoria isto é, a ideia difundida em várias 'Ìr rl( ior)alidade limitada l,,rr rrs segundo as quars o- mito enquaÌlto saber narrativo seia , I lrlx) de pensamento adequado a certos campos da expe, r, llr'rir (a cultunt de massa, a vida intedor, â historiogafia) r rlì(.rn ela deixa de parte o probÌema de definir a própria si rL r\rìr) histórica: não tem consciência de se fundaÌ numa úcita ,, , rlir{rio da distinção enfte nqtur e Geisteswissenschaften; ,1r t rçiio que se toÍnou cada vez mais problemática e duvidosa r rrrr',lirh que abria caminho a consciência de que tamMm a ri ll( irì cxacta é uma empresa social: portanto, que os métodos livantes das ciências da natureza são um momento no in, ',1 t,1 r, | l,,r ( lo um contexto que, como tal, entaÌia de pleno diÌeito ,r,, r nìrpo das ciências hisrórico-sociais. I rrr vírios graus e formas diveÌsas que decerio poderiam , rris lrn'ìplament€ investigadas -as üês aútudes coÍentes ,, Ilrrrra actual a propósito do mito põem de paÌte com der',r;r(lrì prcssa o pÌobl ema da própria contexrualização histó',, ,' r rtrr dizem orde eÌas mesmas, como posições teóricas, se ,ìr,
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situam. O aÌcaísmo pretende voltar às oÌigens e ao saber nítico sem se perguntar o qu€ é o peÌíodo
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Lirr|il?, não equivale decerto ao sonhar puro e sìmples. Ìsso rlrl s{ com a d€smitificação: se quis€rmos ser fiéis à nossa exlÍ riirnciiÌ histórica, teremos de teÌ em conta que, uma vez Ìe \ rl]r(lil iÌ desmitificação como um mito, a nossa Ìelação com o rÍt(, rÌão emeÌge ingénua, mas fica marcada por esta exper llrr in. Uma teoda da presença do mito na cultura de hoje de v, vtÌltâr a paÍiÌ deste ponto. A paìavra de Nietzsche em À I itÌìt Ciêncía não é apenas um palradoxo filosófico, é a ex|rcssiìo de um destino da nossa cultun: este destino pode lrrrrrlxim indicar-se com ouho termo, Ju cil/dri?açíZd. Nesta palrrvrr cxprinrem-se os dois elementos indicados pela divisa de \ t;úid Ciê cía: saber que se sonha e continuaÌ a sonhaÌ. A
r |rrlrrização do espíÌito eurcpeu da idade moderna não é rtx rìrs a descoberta e a desmitificação dos erros da religião, ru! tunìMm a sobrevivência, em formas diversas e. num cerr,, ',rrì1ido, degradadas, daqu€les <eros>. Uma cultura secuI'rrrrrrtllì não é uma cultua que tenha simplesmente atirado par,r ìrrs das costas os conleúdos Íeligiosos da tÍadição, mas que , ,,rtirì uà a vivêJos como vestígios, modeÌos ocultos e detuÌ, 1r,r,lrs, rnas profundamente pr€S€ntes. lìrro coisas cÌue em Max Weber se ligam claranìeììte: o capirlr',rìl(ì ìììoderno não nasce como abandono da Íadição cristã , rlrcvll, mas como sua aplicação <
do abaldgng lé-Ì 9a qadiçào. mas arravés de uma espécje de rnlerpreÌação irónica desta. uma .dislorçâo' (Heidegger fala. num sentido não muito distante, de Verwintlun{ iú, que a coÌseNa mns lâmbém,em pane. a esvazia. penú que a i"tes etemenúos d! conceito_de seculaÌizâçâo se poçsamjunuÌ lanto as te\e^s de Norbefl Elias sobre a hisrória da civili)ação euro_ çrìa í19). corno as de Cirard sobre o sagÌado como violència e sobre,o crislianismo como proceslo de desjacrajizaçào t20,. tm ttras. o modemo pÍocesso de civilizaçâo desenvolve.se quando o poder e o exercício da foÌTa se con(enDam no sobe_ mno.,no.estado absolulo e depois constiÌucional. Em corres_ ponoencta. a psrcoìogia colectiva solìe uma transformaçâo Ía. drcal: os indìviduos jnteriorizam. em todas as classes sàciais, as -bo^as maneiÍa\-. dos conesàos que pela primeira vez ti nham leito a experiência da renúncia à força à favor do ,obe rano; as paixões já não são fortes e abertas como nas épocas passadas, a existência perde em vivacidade e .u. fuìü em seguftlJrça e formalizaçào. Tambem aqui. "o, o progrei.o ." acompanha de uma menor jntensidade da expeiiêniia, umr espécie de esvaziamenro ou de diluição. euanro a Girard, o seu drscurso diz respejro à civilizaçào humana em geral: cuj0 camtnho. setundo ele, vai do nascimento do,ugruão _ qú. exoÌciza a violência d€ todos conffa todos concentrando_a nlr vítima do sacrifício, mas deixando a sobreuiver como úuscj das instiruiçôes aré à sua desmirificação por pafle do Vellx, I e5tamenÌo e de Jesus: este úlrimo mo:Lra que o sagrado e x violência, e abre caminho a uma nova históìa h".;;; q;", embora conrra a teminologia e os propósiros de Cirard, ürìì podemos chamar sec ularizada A clrllura modema europeia e5ú a\5im ligada ao proprj,, _ ,a],t'oro não.só por uma relâçâo de superaçaro . flr.uo.o emarìülpaçao. mas tamtìem. inseparavelmente. por umarel;r çao de \on\er1',ação-distorçio-esvaziamenÌo: o progÍe\$ tctìr uma espécie de natureza nostálgica, como o cússicismo c ,,
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,',rìr:rrìricismo dos seculos passados nos ensinaram. Mas o t( ido de\ta no\t{lgia só se manifesta com a e\periència .rr'Irr 'l,r ,ft.smirificação levada aré ao fim. euardo tamHm a desmi 'llrr lr\ror. revelada como mito. o mito recupera legirìmidade, rL'\,\Ò no^quaúo de uma grral experiéncia -enfraqìrecidada \' r,rirdr. A presença do milo na nosra cullura actual não ex_ lrrrnrc um movimento de altemativa ou de oposiçao a moaei_ rrrrrção; é, pelo contrário, um resultado óonràqu"nt", u_ l. rt de-chegada. pelo menos âté âgom. O mome'nro da des_ ,rl,rlrcrção da desmitificaçáo. aliás. pode considerar_se o ver_ 'r,r'r,.llo momento de passagem do modemo ao pós_modemo. r .r:r l,jtssagem encontra_se em NieÌzsche. na ìua lorma filo."1Ì.^plftiJ" Depois deìe. depois du à...ìii"áção lll.lf a expenencra i,r'rril. da verdadejá nâo pode simplesmenrier , r'r',rna de anÌes: já nào há evidènciâ apodícúia, aquela em it,i p(nsadores dâ ipoca da memfíiica procL,raiam urn ,i'\ rt,",r,nurnrun ahsolutum et incúnsussum. Oìujeito pós.mo. rr,J. se olÌra p?.ra dentro de si à procura de ,#u aari.ru pri "' , r. ,rir. nâo enconra a segurança do aogio canesiano, mai a, rll r Illtenctas do coração pÍoustjano. os relatos dos apdia, as ,arr,/,,{/r./.r evlclencradâs pela psicanáljse. I ( \ta experiència. modemâ ou antes pós_moderna. que o rr'11r'csso> do mito na nossa çultura e na nossa linguagem l,Ì,r' urâ.apreend€q e não d€cefio um renascimenb ão irito , , rr u r satrer não inquinado pela modernização e pela racionali_ ,\,r,'. 56 nesre senrjdo. o do milo": quando e na ," ' lr,lir em que re dá. parece"regÌes\o aponlar para uma superação en. r,. rir, ruiìâlismo e ifracionaliJmo: uma superaçâo que ieabre, l,,,rrr. o problema de uma renovada coniide,ãçao fitosOnca r
, r Iislúia.
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A arte da oscilaçáo lnììo aconteceu em toda a idade moderna (21), é provável rp( tlmbém hoje os aspectos saliçntes da existência, ou até, lli[rr üsar temos heideggerianos, o <sentido do seD caractertrtrert rla nossa época. se anunciem de forÍna paíicularmente , vrrlcIte. e anrecipadora na experiència estélica. E. pois. ne,,.rsír'io olhar para el& com especial atençâo se quisermos r uìuprcender não só o que pertence à aÌte, mas mais em geÍal (
ll (lllo pertence ao ser, na existência tardomoderna. ()
l)roblema da ane numa socìedade de comunicaçào genel]llizüda foi enfrentado de forma deteÌminante, e ainda hoje rrr trrrrl, pelo ensaio de alter Benjamin sobre A Obru de Arte tiloca .t da sua Reprodutíbitídale Técníca, de 1936 (22); um r',ü ilo â qu€ é pÌeçiso ÌegrcssaÍ continuamente, porque (pelo rìrrr(,s, paÌ€ce-m€) nunca foi efeçtivamente assirnilado e
l
5l
de aÌte comportamental, land art, etc,); otr então, acabou por ser liquidado como expÌessão de uma ilusão, a de que a reprodutibilidade técnica pudess€ reprcsentar ]uma chance positiva para a rcnovação da aÍe, quando na realidade, como afirmou Adomo que viveu na América a experiência da civilização massificada, esta está bem longe de r€alizd as condições
da utopia de Benjamin, e representa, pelo contrário,
o
I rllrça (com um certo affaso Íelativamente a ouÍos âmbitos ' Ilrrrriris, como a Itália), da €stética d€ Adomo e também do l'flrslrììento de Ernst Bloch. { premissas para iniciar ',rìludo. em Benjarnin erisrem as Lrrir reflexão sobre o novo l,Fe.ren da afte na sociedade taÌdo ÍrillstriaÌ, superando precisamente a definição metafísica Ía,lr{ ()nal da aÍÊ como lugar da conciliação, da çoÍespondência ' rll.(] ìnterior € €xteÌior. da catarse. listas pÌemissas podem ser adequadamente desenvolvidas
esmagamento total de qualquer arte na manipulâção do con, senso pol parte dos mdJJ,"aedia. Estas várias leituras do ensaio de Benjamin parecem, poÉm, laÌgamente insuficientes. AquiÌo em que ó preciso voltar a reflectir é a intuição central de tal ensaio, isto é, a ideia de que as novas condições da produção e da fixição artística que surgem na sociedade dos mass mediq lnodifrcam de maneira substancial a essência, o Wesen da, aÍte (um teÌmo que aqui usaremos no sentido de Heidegger: não a naturcza eterna da aÍte, mas o modo d€ ddr-re na época acruaÌ). Relativanente a esta alteÌação de essên" cia, nem Adomo, com a sua cílica radical da reprodutibilidade, nem as interpretações sociologizantes (que vão aré à esperança de uma reconciljação estética da existência, como enì Marcuse) disseram realmento nada de novo, e adequado Às pÌemissas colocadas por Benjamin. Quando Adorno nega quc a arte possa realrnente (ou deva) perder a arlr.a que a isola d0 quotidianidade, defende ceÌtanente o poder cítico da obra ent relação à realidade existente; mas adopta também, e mantém, fl concepção da aÍe como lugaÌ de conciliação e de perfeiçâo que se exprime em toda a tradição metafísica ocidental, dcl AÌistóteles a Hegel. Que a conciliação seja utópica, e esteja no domínio da aparência, como AdoÌno sublinha retomando oportunamente Kant conJra Hegel, não significa porém unllt verdadeira alteração de essência, mas apenas a sua colocação num futuro indefinido, que lhes conseÍva o papel de ideal rc. guladoÍ. E este um ponto sobre o qual é preciso rcfleclir, também perante as recentes recuperações, sobretudo etìt
tlrrrlxrrânea, a saber, o ensaio de Heldegget sotlire A Orígem (23). É o escrito 'h t )l,ru de Arte alora contido em Holzwege i rrr rluc Heidegger elabora a sua noção central de obÍa de aÌte I |rx)
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1l1lrlindo de uma analogia à pdmeira vista paÌadoxal, para a rlrrrrl, que eu saiba, não se chamou ainda a atenção. No mesrrr,r uno de 1936, em que era escrito o entaio de Beniamin, r/rsciir também outro escrito deteÌminante paÌa a estética con-
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lrcntc
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dade, quer a grand€ obra de aÌte do passado, quer os novos produtos qu€ nascem jâpata os media rcprodutíveis, como o cinema precisamentg, tendem a ffansformar-se em objectos de consumo coÌrent€, e poÌtanto cada vez menos rclevantes num fundo de çomunicaçâo intensificada: aparte este efeito de embotamento, que se pode identificaÌ como o <
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irllrÌs interpretações,
à Wírkungsgeschichte Elobal, ou
(2).
ti,rirt tlos efeitos', da obra Mns o ptoblema da relâção entre valor cultural
ou
e o valor expositívo da
rítirc>. n; sentido de Benjamin rÍÌfl de aÍe só pode seÌ rcalmente- resolvido se se seguirem lltÍ o fim as implicações da teoÌiâ do J,oc,t. Até se pensar
,trrr a fruição da òbra àe alte é caÌacterizada como aÌcance da poÍ esla perfeir tcicao àa forma e como salisfação vivida ',, o valor de uso foidilo, que. como ç,r,,, sËrá impossível aceilaÍ u, ,iissolua no ualor de
[oc&, ou que o valor cìlltuÌal da obra
favor do seu valor expositivo. No ensaio de Benjamin, o efeito de sltoct é caÍacterístico ,l,r rrÌema. ou" nari" uap*ro foi antecipado pelas poéúcas ,l,nluístasr a obra de arte àadar'sta é de faclo concebida como r'rr nroiéctil lancado conua o especLadoÍ. contra quaJquer se,,,,i,'.ã. .*p".uì iuu de sentido. úábirc perceptivo ocinemaé ' i.'r,,, iambém ele. de projécleis. de projeççõe\: logo que uma ,"ur,:cm é formada. iá é subsdruída por outra' à qual o olho e a ,,u do espectador se devem readaptaJ. Numa nora' Benja'ìt" rrrrrr compara expliciamenle as pÍestações peÌceptjvals exiSìdas a um rr,' ('\neciador do 1ìlme com aquelas que sào necessárias que se aulomobilisÌa) a um rr,' rou- nodemos acreìcenur, modema grande cidade 'O i'u*c no meio de Lrdfego de uma que corres_ arte de foma é a Benjamin escreve I t|(Ìììa maior de perder a vida, pedgo-s que I'r,lìrt() ao perigo cada vez (25) p',ão obrigado: a leÍ em c6n6 " .unt.-poràn"o, ", aqui. numa forma curiosamente desmilificada '., " "nrenáer-se o tráfego e os r rr:rluzida a dimensões de vida quotidiana no seu ensaio sot€oriza que Heidegger ,,r'rrs |iscos aquilo Também Srosr' de ltt rL Oripem da Obra de Árlc cóm a noção profunda,,.,r.r Ileiáeseer. num sentido di[erente mas tÍIlvez i''.''r" ptó*ìíro do de Benjamim. a experiência.do.rliort da ,rrtc tem a ver com a morte; não tanto ou não principalmente na rua' mas , iìr!Ì o risço de ser aÍopelado por um autoc'uro
, niu a
,
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com.a mone como possibilidâde constjtutjva da exisréncia. Aqurlo que. na experiéncia da ,rt". o Sror.. p*u H.ìdcAger,.é mais o próprio lacto da obra"rrr, ser mais Oo qrle nao *.r' llõ). O laclo de,e\istir. o Ddl. como recordam os leiÌores de () Jer e ú l-cntfo tzt t. está tamMtn na base da er.periència exis lencjai_ dr angústia. No pttrágÌafo 40 de O Scr p n T"_.^ " angusra é d€scrila como o esrado emorivo
noção de 5lorr tem reâtmente a veÍ. parâ .,..^:,',..qT ry."tg r'rì ,la proxrmtctade term;noldljcâ. com o Jloc,( de que Ìala 'r, rrllltiIrìIì em relaçào aos nerlia da reproduribilidade? Heidee , ' r jìjrrece ttgar O 5Í,,rr da obra de ane ao lacto desta ser uria '\,( r(lxde posta em acção>, isto é, uma nova abeÍura ontoló_ lÌr(!ì cpocal; neste sentido, de S/o,Í., só se deveria falar em re, r, rr rr. ia a grandes obras que se apresenÌjÌm como decisiva) na iìr\r,rr ril de uma cuìlura ou pelo menos nâ experiència vi\ ida 't' |,r,ta um: a Bíblia. os lrdgicoì ËreÊos, Drnte. Shale\neâ
ïg
q* *i;; ii;,; c. o nomem) vive quando e colocado perante "
lïI"9i
T:llo::-!nquanro
que a\ coiras
o facto nu de se,
.i;s;;;;;;;J:
uma. vez que \e inserem nu-a ,ède d. ::'-,^"1.-,T.""9" !v,,\Jpurucncta\, oe sttnrftcações (cada coisa é remerjda p oütra\. como efeito. como causa. eomo rnsuumenÌo, conÌ, como rat. no seu conjunto, nâo Ìerìr ìïl-jl",].. (o-rr crponoenc tas. e in.ignificanre: a angúsúirepirra.rra i,r. lorat errrriridade do tacró do .*irt,.. ll.gl]ll!11:'".a À da angúçÌia é uma erperiência -unao d...;";;;;;;r;:T:r'encla (1" Un-hci.nli(hte .de IJn zu-Haute-seinl r28t -11 l.^Ì11: r
".*"Í9
*e com esrâ eÀperièn(.ia ::i:gj:.:?:^1,:-d: r^u rp-rccìstvel ìe pensarmos que a obra
.;;; ;; ã;.
\lmplesmente no interior do mundo como é. au. praia,,.i" tuz. o enconrro com a obra de ârk., l1Tï 1,191.:! o descreve. lova (urru netoegger é como o cnconuo com uÌnl tem uma visào propria do mundo corn o quof ii ï:r:n,qr. no55a deva_coníronar se interpretarìvamente. E artes de mair Íre\Ìe sentrdo que se deve enlender a rese ae Ueiaeggei* grndo o qual a ob'a de ane da um mundo, dadô ìLre ." Ju apÍesenlâ como urna nova -abenurtt i.ror;.u .".nrìàiaì ser. Embora o.S.íor.t paleça descrilo com termos . vos- que a angÚstia de O Ser e o [enpo-que tnâis posili rem por seu lit. r":p_T \eÍ,coÍn S,timnu Ec4 como o medo. a áDsirr, ::" o seu ^l rr(,. \rgntltcado e. e\5encialmenÌ(. o mesmo: colocl||
,.,
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t. . tt \hock de.Benjamin parece. pejo connário,
alpó de sucessão de I Lrt(0\ na projecção do cinema que exige ao especlador uma I'r, \r,rçilo análoËa à que se erige a urn condutoique .e moue 'r" rr.rlrgo da crdâde. Conludo. or dois conceitoi, o de Hei_
,.,rt,) rtats simpìe\ e familiar. r.omo a rápida
i
ae angúsria de arte nâo sle dei\r repoflar a uma ordem de significados preesÍabelecidâ net,, menos no senrido em qur aào e dell deduzivel sequencla togica: e também no sentido em que náo se jtìserc
rrr cslado
de suspensão a evidência do mundo, suscitar rrm pelo facto, em si insignificante (em senti'1,' r iloroso. que nio remfte paÍa nada. ou qÌle remeÍe paÍa o rrr, Lt ). ilo mundo existir_ ,
, 'Ì'rrrrto preocupado
'L r','L.r e
'I'Ill.ì.r r rrr,
'
o de Benjamin, Ìérn pelo meno5 um arpecÌo en) co_ tnsisténcia sobre o desenriÌizamenro. Num caro
ü erperiéncia estética !urge como umd
',
' ,rriIrtmtnenlo.
e
experiincia de
que e\ige um nabalho de rer.ornposiçào e de poÍém. nào aponra para o átcançar ,L :llltllçdo;.E-rrejra?atho. conorçao ttnal de recompo\içàol a e\perjéncia esedir. .rniì t{ r" '_"nlÉno. vra se para a manulençáo do desenraizamcnto. l',,rr.lìcnjümin, dado o exemplo do cinema que ele escolhe, e ," ,l, rrrasiado evidente que nào podentos petjsâr que a e\pe_ rr. ,,r rlo.liìme re electud qlando \e reduz d ìltn quadro para , | .Iir n(loegger, a expenencÌa ',,' do desenraizamento da afle fdmitiaridade do objecro de uso. no quat a ì. d€ , llllltg:. r 'rrr.rtrcrdade do Da,4 {do qué} ..re dissolve nâ usabilidadc-.
';
i
'," \( pode supor que Heidegger pelse numa ..conclusào-
' .' , \
lr
li
l)rnen(ia do desetu aizamenlo eslilico numa recuper.açáo niliãÌidade e da evidência, como se o destino da;br;de
5'l
arte fosse Íansformar,se, afinal, num simpÌes objecto de uso. O estado do desenraizamento tanto paÌa Heidegger como
-
para Benjamin é constitutivo e não provisório. E isto é prccisamente aquilo que constihri o elemcnto mais radicalmente novo nestas posições estéticas reìativamente à aeflexão tradicional sobre o e tamHm da sobrevivência desta tradição nas teoÌias estéticas do nosso século. Desde a doutrina de Aristóteles da catarse ao livre exercício das faculdades de Kant, ao belo como perfeita correspondência enfe interior e çxtedoÌ em Hegel, a experiência estética parece ter sido sempÌe descúta em termos de Geboryenheit de s€gurança, de <enÌaizamento) ou ceemaizamento>. Pode indicar se o elemento novo da posição de Heidegger c de Benjamin, aquele através do qual eles se sepamm de toda { conc€pção da exp€riência estéúca em termos de Geborgenheit , mediante a noção de oscilação. Isso exige uma hansferêncilt de acento no modo usual de interpretar o sentido da estética dc Heidegger: esta resulta, de facto, numa doutrina cheia de ôn fase romântica se insistirmos demasiado na função de
-
belo
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,,1ìrir de aÌre, isro é, a exposição
yrt lução Qler-stellulg) ,lrrrr é
(Auf-stellu g) do mundo
e
da
o sistema de significados que ela inaugura; a terra
é
t,r,rtluzida peÌa obra quando é apresentada, moitrada como o
lrrr obscuro, nunca totalmente consumável em enunciados
' .tìlícitos, sobre a qual o mundo da obm s€ radica. Se, como , v irr, o desenraizamento é o elemellto essencial e não pÌovi_ u,rro ila experiência estética, deste desenEizamento é réspon_ ,r!( l nìuito mais a t€ÌÌa do que o mundo; só porque o mun<ìo ,Ì, rilnificados alargado à obra surge como obscuramente ra_
r(lo (portanto, logicamente, não
r,
rrrrnca é tranquilizante, <
,r, r1,) dos Ìimites intransponíveis, t€rrestres, da existência l,LrrìirÌiÌ; não como purificação perfeita, mas como phrónesis. stc sentjdo, não tanto fundante como <(desfundante)r, que ,, \/,,\ I de Heidegg€r pode ser interprctado como análogo ao ,/r ,' I (lc que fala Benjamin. A analogia escapa e paÌec€ abr r,lrr sr, à aparente insignificância do slocl de Benjamin, se , ,rtrirl)user uma visão enfática da obra de aÌte como inaugur',,1,ì c lìndação de mundos histórico cuÌturais. Mas entender , L l, \ t{rrnos a teoda de Heidegger sigÍLifica ainda interpretát r rrrrlìl forma metafísica ou, paÌa falaÌ em termos heidegge,rr r,r ôntica: neste caso, o S/os.r depende a efectivamente l, rrrrtrolência positiva, das propo4õ€s decisivas ,,, ,|r tlue aobra inaugura e fundai interpretaÌ e fruirdoa novo obÌa ,1' r lrclrr-ia estalrelecer-se neste mundo e na sua nova signifi
I
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catividade. Mas, pelo conffário, é claro que a HeideggeÌ, n0 Stoss como na angústia, interessa o desenÌâiramento iãlativamente ao mundo quer o mundo dado, quer o mundo exposto pela obra em termos positivos. <
-
-
-
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, ,
ir(lor. São categorias que, embora essenciais à concepção rlÍrrrìl da obra de arte, são ÌâdicaÌmente estranhas à abordar
nìr heideggeriâna, para a qual â obra é <
Lrr
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Ëxactamente no G?-,St?/,/, isto é, na sociedade da técnica e da manipulação total, Heidegger vê tamÉm uma chance de r.aoaisar ô es,tuecimenÌo e a alienaçâo melalisica em que vi' vei até hoie o homem ocidenlal. O Ge stcllpode oferecer una lal cr;rÌa? precisamenle porque se define em leÍmos qul se idênticos aos usados por Benjamin paÌa falü do shock' De facto, escreve H€ideggeÌi no Ge-Stel/, (todo o nosso ora jogado. existir se enconÍa por toda a paÌte provocado ora impulsivamentè, orâ incitado, ora impelido-- a daÍ-se ì í15) A provocr' olaniliiaçào e ao cãlculo de qualqueÍ coisa" llo sob a oual a existència do homern modemo esú é análogrt à condìção de peão melÌopolitano de Benjamin. para o qual rr ( ane nàó pode ier senào.trorÁ. desenÍaiTamento conúnuo afinaì exercício de mortalidade A cúance de ulffapassal a mo tafísica que o Ge-Stel/ oferece está ligada ao facto de, nelc,
tl
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nossa teÌìninologia estética' os conc€itos de que disptr quer enquanto produção quer clì mos para falaï de aÍte quanio funçào e que aparecem sempre de novo. sob lì" ,na\ diversãs. na nossa reflexdo, \frão adequadas para pens rl pcl'llr a exoeriència eslérica como desenÌaizamenlo. osciìâçào.
A
-
-
de fun
'
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.rrtr' ícriatividade, originalidade. fruição da torma, conciliação.
, r, .) das ameaças que as novas condições de
existéncia dã ci_ rrli,,üçáo de massa represenlam nào só para a ane. digamos. rrrrs para a própria essência do homem. As condiçõesda re_ Ir rxlutibilìdade, em particulaÌ, são considerudas inconciliáveis , orìì as exigências da criatividade que parece indispensável na rrrtr, não só porque a rápida difusão das comunicafões tende a lriflìirlizar imediatamente qualquer mensagem (que de resto, lürì satisfazer as exigências dos rzelta, nasce sèmpre já ba_ llllirâda); mas sobrctudo, po{lue se reage a este consumo dos lrllrboÌos através da invenção de <<novidades>> que, como as 'Ir rÌroda, não possuem a mdicaÌidade que paÌece necessária à ,ìì,rr de arte, antes se apresentando como jogos superficiais. { (ìnÌ efeito, a todos os conteúdos que divuig ãm, os'mass me_ ía ctnferem um peculiar carácte. de pÌecaridade e superficia_ lr,l:ì,h.: esle choca duramente contra os preconceitoide uma , r, ticd sempre inspiÌada. mais ou menos explicilamente, no ,l, iìl da obra de arte como <<monumentum aerc peaennius>, e ,l'r r.xpriência estética como expedência que envolve profun_ Llil (. lutenticaÍnente o sujeito, criador ou espectador. Èstabili_ I'ril( e peÌenidade da obÌa, p.ofundidade e âutenticidade da , \lì{ riência produtiva fnridora são certamente coisas que já r ro l)odemos espeÌar na experiência estética da modemidaáe ,r\,rrçâda, dominada pela porência (e impotência) dos media. I ìxrtrir a nostalgia peÌa et€midade (da oba) e pela autentjcida(([r experiência), é pÍ€ciso reconheceÌ clarament€ que o '1, r1,,,,( é tudo aquilo que resta da criatividade da arte na época ,1 r , (rnrunicação generalizada. E o shock é delinido por dois r l)( ( los que caÌactedziímos seguindo as indicações de Benjarrr rr c de Heidegger: antes de mais € fundamentalmente. eÌe rl,ì (t rÌÌais do que uma mobiÌidade € hipersensibilidade dos ,, rvos c da inteligência, característica do homem metropolita_ ,r,, A csta excitabiÌidade e hipersensibitidade corresponde ,r 1f rìr1c já não cenÍadan^ obra mas ía eTperíênciq, pens da ,
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porém em termos de vírÍiações mínimas e contínuas (segundo o exemplo da percepção do cineÍn). São €lementos que, emboú sem desenvolver as suas úÌtimas consequências, a estética oito-novecentrsta muitas vezes teoÌizoui aliás, Heideggel assinala-os, por €xemplo, de modo polémico, na teoria da fflc de Nietzsche. A segunda caracteística que constitui o ,tlroc,t como único resíduo da criatividade na arte da modemidade avançada ú aquelâ que Heidegger Pensa sobre a noção de Sra.t.t: isto é, o dósenraúamento e a oscilação que têm a ver com a angústia c a experiência da mortalidade. O fenómeno que Benjamin des' co-o srocÀ, não diz rcspeito apenas às condições dll "r"v" percepção, nem é apenas um facto a confiar à sociologia tilt artel mas é sim o modo em que se rcaliza a obra de aÌte conl(ì conflito entre mundo e teÍa. O sftoc,t-S/ost ó oWesen, a es sência, da aÍte nos dois sentidos que esta expressão tem nll terminoÌogia de Heidegger: ou seja, o modo em que se dá I nós, na modernidade avançada, a experiência estética; e d, também, aquilo que nos surge como essençial para a arte lí)lil corrÍ, isto è, o seu acontecer como Ìelação entre fundação ( perdô de fundamento. na forma da oscilaçáo e do desenraiTlr mentol afinal. como exercício de monalidade. Acabará assim por se propor uma apologia demasiittltt expedita da cultì.Ìra de massa, rcsgatada, pârece' de todos (ìh asóector alienantes tão eficazmente caracterizados por Adotnr' e pela socioloBia crítica? O equivoco desta sociologia. hoje ctrt dú, aparece-nos bas€ado no facto de não ter distinguido llìr (ìr condições de alienação política próprias das sociedades dc ganizáção total, dos elementos de novidade implícitos rình õondiçòes de existência tardomodernas. O resultado dcllr equívóco é que a perversidade da mâssificação e da organi''ll çio total foi condènada em nome de valores humanistas (lrlI átcance críúco esur a exclusivamente lìgddo ao 5eu anacrtnlli mo: efectivamente, eram valores inspirados, €m momelìllìrl
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,rlìroriores, naquela metafísica cujo resultado, como bem viu I l('i(leggeÍ, foi precisamente a organização total da sociedade. lllrie estamos talvez em condições de reconhecer que os eleI r( ntos d€ sup€rflcialidade e pÌecaridade da experiência estétir I tll como se Ì€aliza na sociedade tardomoderna não são ne, rss0riamente sinais e manifestações de alienação, ligadas aos ,r\lx\1os desumanizante\ da massificaçã0. ( 'ontrariamente ao que duÊnte muito tempo e çom boas
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r,,(ics, infeÌizmente acreditou a sociologia crítica, a massi ll('[ção niveladora, a manipulação do consenso, os eros do rirtltitarismo r?.io sdo o único resuÌtado possível do advenio da , , rr ru nicação generali zada, dos mass media, dâ Ìegodutibilique deve ser decidida poli|r(lc. Ao lado da possibilidad€ ttrl!)rcnte destes resultados, abre-se tamÉm uma possibiliiìr(le alternativa: o advento dos rxedia comporta tamtÉm i Ír( livamente uma acentuada mobilidade e superhcialidade da r \l)criência, que contrastâ com as tendêÍcias pam a generali/Íçrlo do domínio, ao mesmo tempo que dá lugar a um espécie ,lt ncDfranquecimento> da pÌópria noção de realidade, com o , rrrrscquente enfraquecimento também dc toda a sua çoacçâo. A "\(.jiedade do espectiiculo. de que falaÌam os situacionislas |lìo ú apenas a sociedade das aparências manipuladas pelo trxk'f; é também a sociedade em que a r€alidade se apresenta , rì1ìt caracteístiças mais brandas e fluidas, € em qu€ a exper1('rìciir pode adquirir os aspectos da oscilação, do desenraizar
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jogo. lÌrÌbiguidade que muitas teorias contemporâneas consi,|flftìì ^ caÌacteística da experiência estética não é uma ambi l,rrrrllItle provisória: isto é, através do uso mais livre e menos r|rr(nììutizado da linguagem que se dá na poesia, não se trata ,li os tornarmos como sujeitos mais donos da lingua- ca\o a ambiguidade poélica é apenaç rrrr urÌ l:eÍal. Nesle afinal. uma mais plena apíopriaçào da ','," 1,arã próduzir. parte do sujeito; portanto, trata-se também de ltrrllrrirgern por
ilr.llo,
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um desenraizamento instrumental, que visa um reeüaizamento conclusivo que fica prisioneiro se não da categoria de obra, certamentg da de sujeito, que lhe é correspondente. A experiência da ambiguidade é, pelo contrário, constitutiva da arte, como a oscilação e o desenüizamento; sâo €stas as únicas vias atrayés da quais, no mundo da comuÍÌicação generalizada, u arte pode coúgurar-se (não ainda, mas talvez finaÌÍnente) como críatividade e liberdade.
Da utopia à heterotopia A mais radical hansformaçâo que se verificou enhe os anos r(ssenta e hoje no que diz respeito à relação entre aÍe e vida ( llrotidiana paÌece-mg pod€Ì descrever-se como uma passagem topia à heterotopid. Os anos sessenta (e decertò, princi, lnì lrnente o ano sessenta e oito; rnas Íata-se de um movimento (lrl( apenas culÌnina na contestaçáo daquele ano. estando vivo \ile o imediato pós-guerÌa ) conhecem uma gÌande difusão 'k lrcrspectjvas orientadas para um relgate estético da existúrìcia. que nega. maiç ou menos explicilamen!e. a arte como Iromento <<especializado>, como <(domingo da vida> no s€nli(lo de que falava Hegel. A utopia aprcsenta-se obviamente na \Irì lorma mais explhiu e Ìadical no marxismo; mas lem Íunlx(n) uma veÌsão (burguesD, que se pode indicar na ideologia
lü
'I
r&Jig/i que se impõ€ largamente, por exempto, atravésìa lx)pularidade de Dewey (37) na filosofia e na crítica europeia rl)s iìnos cinquenta. Também Dew€y, como os teóricos è os r rllicos marxistas (de Lúács aos mestÍes de FÌancoforte, até I\4Ircuse) tem ascendências hegelianas, Para Dewey, a exp€rl('rìcia do beÌo ostá ligada à percepção de umfulfilment que loìl tudo a peÌder ao ser separado da concreta vida quotidiana: llf lìí um campo da aÌte em sentido específico, ele alud€, torllr
rhrvirì, a uma sensação mais geml de harmonia que tem as suÍìs
tnÍzcs no uso dos objectos, no estabelecimento d€ equilíbrios
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satisfatódos enhe indivíduo e ambiente. Quanto às várias foÌmas de manismo, elas têm em cotuum a ideia de que a de marcação da arte e a especificidade da experiência estética são aspectos da divisão do trabalho sociaÌ que se deve €liminâr com a Ìevolução ou de algum modo com uma tansformação da sociedade no sentido da reapropriação, por parÌe de todos, da essência inteira do homem. Em Lukács esta perspe.ctiviì actua pÌincipalmente a nível de metodologia crítica (rcalismo não é puro reflexo das coisas como sâo, mas representação drt época e dos seus conflitos com uma referôncia implícita ì emancipação e à reapropriação); em Adomo (38) a promess( de bonheur çonstitutiva da aÍe dá-se sobretudo como instân cia negatrva e desmascâÌamento da desarmonia do existent€ com a coÌÌelatlva reavaliação
crítico
p
sìtuacionismo.
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Se oÌhaÌmos para aqueles anos com a relativa distância que ,lcles hoje nOS separa, Surgem atenuadas também as não pe rlrrenas diferenças teóricas que distinguiam, por exemplo, a r(loologia do d6ig, (o sonho de um resgatc estético da quoti ,'irìnidade atravós da optimização das formas dos objectos, do rspecto do ambiente) da atitude revolucionária dos vários rrrarxismos. A paÍtir destes pontos de vista, diferentes entre ,.i, perseguia-se sempre uma unificação global de significado |sléúco e significado existencial que pode considerar-se com rìão como utopia. Utopia €m, segundo a famosa obra de llloch de 1918 (41), o significado das vanguardas aÍísticas do rrrício do século; e estas vanguardas, ao mesmo tempo que lriìssavam (historìcamente foi assim, atÌavés de Bauhaus) em ìuitos aspectos pela ideologia do desigtt, por outro lado, nlüvés de um longo caminho (da recusa de Lukács a Adorno r por fim a Marcuse), liquidavam as suas contas com o marrsrno revoÌucionário (esta liquidação, a nível de massas, ó ,rlir'is um dos significados, ou a significado de 68). l)esta grande utopia unificadora que era a utopia da unilrriÌção estética de exp€Íiência, e qu€ unificava orientações lcóricas e políticas difeÌentes, conferindolhes uma geral atilll(lc de distânciação em relação àquela que Nietzsche chamou ,rr uÍe das obras de afte), a favor do desiga ou a favor do rr\ltute revolucionáÌio de toda a existência já não paÌece rr'sl Í hoje gÌande coisa. É .aro agora, tanto quanto sei, que o ,lrscurso cúico sobre as artes coloque ainda explicitamente o l,rohlema do significado geral da afle, juntamente com o do ,.Lltrìilicado e valor da obra. Àquela que segundo Adomo eÌa a essência da vanguarda, e ,, x Lr verdadeiro alcance utópico, isto é, o facto de submeter a ,li lìrìle a púria essência da aÍe com determinada obra, já não l,rrrccc ser hoje uúa questão. Como se o <sistema do espírito> , ns suas distinções e especializações se tivesse completa 'rrr rrrrrtc restabelecido: paradoxalmente, tamMm uma obra como
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a de Hab€rmas, que se apresenta como rcivindicação do per manente valor do programa mod€mo da emancipação, assume
como ponto de referência não controverso a diitinção de ori gem kantìana dos âmbitos de vários tipos de acçãô social, o teleológir.o. o ámbito reguìado por norÍnas e o erpressivo c crtunaturgtco ,resewando de algum modo para esre último il eslera eslêUca (ar'. 0 agú comunicâtivo. que Íepresenta e t Habermas o momento cuÌminante desta tipologìa, nâo põc realftente em discussâo a dislinção dos outroç u-és, antes vJ lendo como norma úansccndental que vela para que nâo sc operem colonizações indevidas (antes de mais dos vários in_ teresses expressos nas ftês foÌmas d€ acções em detrimento da comunicatividade; mas provavelm€nte tamLÉm de cada unì dos três tipos de agir em cada um dos outros). Seja como for., não preÌendo debarer âqui eçpecificanìente a Tcõrìa do Ayit(-omun i.aaional, de Habermasl mas apenas mosúá-la colll(ì e111Plo-de uma cena Íeslauraçáo ledrica da separação e espc crarzaçao do eíe co. que aquì. segundo unìa râdiçâo dc pensamento prcfundamente radicada na modernidade, se rc fere à expressividade. O laclo de Hâbermâì relornar a tripartjçiio kanÌiana da Íâz:ìrr e apent\ um stntoma da struação teral a que pretendo Íeferit 'me: e nao e necessariamente citada como faclo -negatjvo", c a criticar como um regÌesso teórico e prático (embía, conro espero moslrar mais adianle. nào pretenda panilhar a posiçÍo dc Habcrmas e d sua estrenua defela da actualidade do ntrr deÍno). Habermus erprime. neste arpecto da rua teorit, quedd da ulopia e o regreììo a uma ranquila aceiraçáo (l,r separação do€stético. Todavia, aquiÌo que acontece na rilaçrìrr entr€ arte e vida quotidiana nos anos mais recentes não é apc na\-i\to. ou pÍincipaìmente irro: a recuperaçâo da csteticid:r(l(. de Kanl poÍ palÌe de Habermas. poderia, aliás, ser cirada :rirr da como sina I do faclo da sua defe\a do llumjnijmo e da n],r dernidade impÌicar tamLÉm uma surdez específica relativlì
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'r'rrte a muitos fencimenos que lèm a ver com â cultum "este rr'.r ' marst trcada. e que Habermas náo .quer. r er e reconhe. .,r'r ro seu alcance. O regresso da ane aos seus limiles. depoir ,'l rrlopta dos ano\ \essenta.t apenaç um aspeclo da situaçào ,líL.nos Ìnteressa; e que Habermas _ no que djz respejto à r'!lcllca paÌr€ce isoÌar em correspondênciã com alguns dos '- rrs preconceitos leóricos (isÍo e. da sua recusa da pós.mo_ , h |lrìdade). enÌanlo. a uÌopia eìtérjca dos anos sessenta esrá, de . Ii. no .,r,'Irir modo. a reaÌizar_se. em forma distorcida e nanslorma_ Lr. \ôb o\ nossos olhos. Se poÍ um lado. a afle no seu sentr '1r trrdtctonal. a ane das obras de ane. regressa à ordem, na .'r rr{tad€ o cenro da experiència estéÌica desloca_se: nâo já 'r" n lllrdo do de.rit/? generali,/ado e de uma universal higicne '' r,rldus lormas. nem como respate estético revolucioìário Lr , \rslèncra no sentido de Marcusel mas como desenvolvi da capacidade que pÌoduto o estélico _ nâo dizemos ',r'rrro r.',,hra de afle - lem de -fa.,ermundo.. criâÌcomunida. I Í )í5teponlo de vistâ. a jnterpreLaçâo maisde troricamenle fiel r,k quìda ú experiència erÌédca lal como se dá nos anos re_ ' 'rt' ,i é talvez aquela que nos propõe a onrologia hermenèuti_ ',r ,i CgiilrnçÌ". Para Gadamer {41), como se satte, a e\pe ', u ir dtr belo é caracteÍi/ada pelo Ì-ecotìhecimenro numa co ,r,Iri,l.rde de fruidores do mesmo tipo de objecros belos, na. e de arte. O Juizo é reflexivo. segundo a !elmitìologia ' 'r,Iì de l..r',r. não ipenas porque se refere náo ao objecto mas io es. .,1,' .lo \ujeilol mas ainda porque se refere ao srüeilo corno ,'" lrl)r'' de uma comunidade {o que. em alguma rnedida, e"tri l,l lìrL'senre.em certas páglnas dã Ct ÍÍica da Razào). A expe , reia do belo, em suma, mais do que experiência rJe uira rrrlura.que aprovamos (mas então, com base enl que crité,'r..'r. e.lundamenUlmente experiència de penença a uma co 'rrrrrirl e. E lácil.vercomoeporqueeqrre umalalconcepção l. , .rctrco Je pode apresenÌal com paniculaI perrua*io é"pe_
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cialmente hoje em dia: a cultuÌade massa fez com que se multiplicasse e tornass€ macroscópico este aspecto da;steticidô de, evidenciando também a condição da problematicidade, re lativamente à quaÌ não se pode deixar d€ tomar posição. Nl sociedade em que pensava e escÌevia Kant, o consenso da co munidade na fruição de um objecto beÌo podia aindâ viver-sc, pelo menos tendencialmente, como consenso da humanidâd(. em geral: é verdade, paÌa Kant, que quando gozo de um ob jecto beÌo confirmo e vivo a minha peftença a uma comunidiì de, mas esta comunidade embora apenas pensada conÌ1) possível, contingente, probÌemática é a própria comunidir de humana. A cultura de massa não nivelou de forma algunrrr a exp€riência estética homologando todo o <
r rìo seu modo de rcferir-se à vida quotidiana, não é apenas o "rcgresso> da aÌte às suas sedes canóÍÌicas modernas; mas ti Dbém, e sobÌetudo, o esboço d€ uma exp€Íiência estética de ìiìssa como tomada de palavra por paÍ€ de muitos sistemas (k Íeconhecimento comunitáÌio, de múltiplas comunidades ,lrc s€ manifestam, expímem, reconhecem em modeÌos for
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rrriris e ern mitos diferentes. Deste modo a essência <modema> (lir cxperiência estética, que Kant descrcvera jáía Crítica da llírzíio. des€nvolveu se em todo o seu alcânce n1as foi tamMm rrrlefinida: o belo é experiência de comunidade; mas a comu1ri(lade, pr€cisament€ quando s€ rcaliza como facto
riirl", solÌe um pÌoc€sso de multiplicação, de pÌuralização ir,r'Primível. Nós vivernos numa sociedade inten\aJnente esteti. /iì(la exactamente no sentido (kantiano> da palavra; isto é, em LlUc o belo se Ì€aÌiza como instituição de comunidade; mas em Llllc exactamente devido a esta intensificação parece ter se dis $lvido o outro aspecto da univorsâlidade de Kant, a identifiL rìção, pelo m€nos tendencial e exigencial, dâ comunidade es Lt'licâ com a comunidade hvmaÍl Íout court. 'l ambém na estética esperamos aquilo qu€, com diveÍsas |r(xlâlidades e carga dÌamática, acontece na ciência, que semlrÌc pâÌeceÌa (refiro-me ainda aqui ao modo em que HabeÌmas Ìrrla dela: o agiÌ teleológico supõe um mundo
mo se fa,,ia quando se pensava que este mundo bâse era dc alguma íbrma dâdo. ..encon[ráveì- com os mitodoì dâ cié0cia. Isso deixa certômente em aberto o problema da redefini çâoda esrericidade, e rcrna ulvez possÍvel "aelni_ta" Jtimi. l-ando-à e distinguindo-à: ratnbéÌn aqui, parece estaÍmos pc Ìante uma realização imprevista, e talvez (distorcida> (,t4)drr utopra.
da erperiència esrérica como experiên.ijr , Odesenvolvimenro oa comuntdade e não como dvaliaçáo de esLr.,rura, dá_s.- r,, oa^vla._apenas no mundo da cultuÍa de maìsa, do historicism(, dilundido. do fim dos \isremas uniliírios. E p", i..;ì;;;,i,, çe tÍara de uma realjzâçào pura e simples dá utopia. màs rk. llma \ua realizaçâo distorcida e tmns[ormada: a utopia esreli( só se Ìealiza desenvolvendo se como lÌetel"otopta. Viv€mos n experiência do b€lo como reconhecimento de modelos que lÌt zem mundo e que fazem comunidade apenas no lnonìento ent que estes mundos e €stas comunidades se dão explicitamenk como múltiplos. Nisso encontra_se taÌvez tamüém um l.i0 condutor norntativo. capaz de reìponder àqr"fu, prao",,i,, çoes que sublinham que se o belo e de alguma forma sernpt,. apenas erpeÍiència de comunjdade, nào teremos iá oualtrut.r cnterro para disúnguir a comunid?rde vjolenLa do-"s názis luc ouvem Wagner ou a dos fanáljcos de música,o.t que pi" *e paÌam eventuaÌmente para violências e vandalismàs, da'co Dunidade dos/ar.r de Beethoven ou da Z/?vldld...Na constI tâçio d_e que-d universalidade em que pensava Kant se Íerli,,,l nu Ìorma da. mulriplicidade, podemos a:,sumir tegirr !1_. l:* como.critéÍio mamente nomarjvo a plúâlidade explicitamcrrtr. vrvrda-como lil. Aquilo que. legitimamente e não só na fitl\n conscÌencja da ìdeologia, era paÌa Kant o âpelo à comunidtuft. humana uni\ersaì (a expectâliva de que. em lomo do\ val(,Í.Ì oo Delo -burgues^. se aglutinasse o consen\o de qualquet.\ct num€no verdâdetramente digno do nome). tomou_se hòje. crrr condições difeÌ.entes da hisrória do seÌ, a explícita referôïcil h
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IlrllipÌìcidade. O rcconhecimento de si que gnrpos e comunj_ LIr(lcs fazem nos seus modelos de beleza tem intrinsecanìente
llrìâ norma, dada pelo modo de acontecer, pelo Wesen daaÍe
, rlo estético nal nossas condições de destino histórico: é que r { xperiôncia do rcconhecimento de uma comunidade num rrrrrlelo deve fazer-se em €xplícita Ìeferência, com explícita
rrlx rrura, à
multiplicidade dos modelos. Sim, isto é provavel rr( nte como invert€i em positivo, tomaddo a um aânone. a lrrsição que o Nietzsche da segunda (Int€mpestiva>, (45) des, r('vìa como típica do homem do século XIx, produto d€ uma irlllrra histórica exageÍada, o qual actua comò um turista no rrlim da história, € como quem numa loja de másca&s teaIris procura disfarces semprc diferentes. A experiôncia esté_ lrL ir loÍna-se inautêntica quando, nas condições actuais de
rlrralismo vertiginoso dos modelos, o reconhecimento que grupo rediza de si mesmo nos própdos modeÌos se vivè e ,tirr\rnra aindd na forma de idenlificaçào da coÌnunidade com ., l.r,ipria humaridade: i\to e. âpre\entã o Lìelo, e uma delerrrrrrurcla comunidade qu€ o reconhece, como um valor absolu_ r,, A
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j
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plural - .porranto, nào em sen do utópico mas em senrjdrì hererorópico: é exaclamenÌe no ensaio sobre e 19J6. que Heideseer nao ruru.;e ao i-,""j,ì, a"r , Tempo. mas de um mundó re ponant,,, ::T,9-_.-T Í muiÌos rmplrcrtamente. de mundos). E Dilúev (4ót ir., "a senlrdo profundo da experiència estética {e a, í,;".;. "J.,. nencraìisloriog.áfjcal na sua capacidade de "i"i,r, possibitidades de exisrência, ::i":lT:l11" l."ciltoia..ourÌas os timires daquela possibilidade espee i i'l ï1i.i" I i-ra que. l^.rj:1.T" na quottdjanidade. Íealizamos. Bastará, como Hcj uetgeÌ.
òrilìì'ii,
?!:^!!2;* "
f"i..ir,
satr
honzonte ainda fundamentaìmente cientisra f,Ìt pam ver o senLido da exp..ien"iu ..rlt i"ii de ír" mundo ormun.loÍ. que não sào -apenusu :'1-dïlura mas rmagrnanos. consritujndo o próprio ser. sendo acònteci mentos de sêr d_o
que-se move
Dilúey.
teórica. feira apenas em [aços targos. da ranr ,^"ï:^]:',,"* rurrna(ao oa expenència estétjcâ dos rilÌimos
viúe anos podc provisoriamenre. com a expricjlação (tc l3li,,lr^f^. ouas ÌmptrcaçoesJá conridas em tudo que o foi dito acìma: rr compona como seu aspecr(ì llì""s:ï-11 i Treroropia llrirrs sa enÌe a Ibertação do omamento e. como 5eu signìíjc! do onrológico, o despojamento do ser_ A lìbeíaçâo do omamento. melhor ainda: a descob€na (fi, carácler de ornâmentodo eçterico. da essèncio o.nurnanLui,l,, ocro. e o, pro-pno senlido da heEroropia da experiéncia esÌéti ca. u oelo nao é o ÌugaÌ de manifesÌaçào de uma verdade oLro expreìsão sensívet. provirória. antecipadoin, ::]1^:L.."""u coucalrva-. como muitas vezes pretendeu a esérica nreìafísiriir oÌnamenro no senrido em que o sqr leteza.é srgntlcado exrslenciaÌ. o interesse a que responde. é a dilatrt vida Ou nÌrm processo de chamadas a ourrol !1!-9o Irndo d., vida. que nâo sâ0. porém. apenas inì ErnaÌios ou margrnajs ou complemenlares ao mundã real; nltn compoem. conslituem. no seu jogo reciproco e como seu tc
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!(luo, o chaÍrado mundo real. A essência ornamental da cultìlrt da sociedade de massa, o carácter efémerc dos s€us pro_
,hIos. o eclecÌismo que a domina. a impossibilidade de reco_ rllc(er_neles uma qualquer essencialidade que laz muitas vczcs fâlaÌ de k'ilj.l para esta cultura correìponde plena_ ncnte ao l4le,re, do estético na modemidade avançada. euer rlizcr, não é com base num regresso a avaliaçõei uestrìturìis'), centradas no objecto belo, que se podj assumir uma irlitude seleçtiva relativamente a esta cultura. ríifcr, a existiÌ, rì r) é aquilo que não responde a critérios formais rigorosos ,f (lÍ na inautenticidade da faÌta de um estilo fote.kltsch é é, lr( lo contrário, apenas aquiÌo que, na época do ornamento |ll ral, pretende ainda valer como monumento mais perene rlrrc o bronze, reivindica ainda a estabilidade, o.rcârácter rlclinitivo), a perfeiçâo da forma
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por Benjamin com o e nsaio sobre A Obra de Arte na Época tl,t e$ dji'1ido n""" ,"nriãà. .,ìì pÌovav€lmenre demasiado ligado a uma concepçâo di ::tava lecrca dâ reaìidade para ter êxiro. Heidegger. pelo co'ntrári,,, ao critic.ar a identìficação metafísica do ser õomã objecto, con a eÍâbilidade esruÌuÍal do -dádo-. desligjrima tle riodo ra,ti cal a nostalgia pela forma clássica. pela ivaliação baseada rì,r esuulum. Só se o ser nào tiver de ser pensado como funrllt mento,e estabiÌidade de esfutums etemâs, mas pelo confário, se_se deÌ como acontecimento, com toaas as iÁplicafoes clir,: rsso comporta antes de mais um enfianquecimento de baic, - como diz ramLém HeidÉgger, o nà,ji, devido ao qual, mas at.unte(e . . só nesEs condiçòes a "",eçtélien experiència . como helerolopia. mulüpl jcaçào do omamenlo, .fundamenl(," do mundo quer no sentido da sua colocaçáo num fundo, qrrr.r no senlido de.uma sua geral desrurorizaçao. aaquire um lix nrlÌcado e pode vir a ser o lema de uma reflexào ledrica riìrir cal. Sem esra referència otìloldgjca, procura_r ler como uDt,r vocaçao e um -desltno" as tJan:,formaçóes da experiència cs Lelrca dns últimas duâ: décadas {como as das epocas antelrr, Íe5. alrás) parece apenas um coquetistno hisroriiista, uma ec dència à moda. a lraqueza de quenr quer a rodo o custo atÌ(llìt a par dos Ìempos que. conto se sabe. \ó andam e revelam ur drecçao quando lìdos, interpretados. A aposta com a hetcr,, topra. chamemos-lhe assjm, pode nâo seÍ apenas lrivolirlarl. \e lrgar a eÀperiència c\térica uansformadi da sociedadc rll, massa do apelo de Heidegger a uma erperiéncia (át nâo nrr. lâlrsrca do seÍ. Sci se de algum modo. seguin<jo ii ideggcr. esperiìÌmos que o ser.\eia exactâmente aquilo que não e. r1rr,, oe:.lp:úece. que se afirma na rua diferença como nào prescrr ça, errabilidade. esuuturar só as,im podèremos _ taivez enuontrdr uma vja por entÍe a e\plosáo de caÌácler omamclìlltl e heFroÌópico do esÌético de hoje. sua ReproduÍibílidade Técnica
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NOTAS Ciências hümanas € sociedad€ de comüoicaçáo (
l) Ci l. Habermiìs, //irrória e C tica da Opìnião púbticd Ct K. O. Ap!I, Co, nidade e C.,nuicação (t973).
(2) (1)
09A\
tden,p.l'12.
Cf. sobre isto c. VaÍ|mo, L'eme eutica e il nlondo .te a cokrìÌ, a,Í,), no vol. por U. Curi, Lu camunicazione tründ, Angeti, Milâo. (.1)
tr)115.
(5) Cf. J. P. Sárle, C/Írj.a ddRarão DiaÌéc tica (1960). (6) Na sua introdução âo vol. X,2. de ondo contemporc eo. r'(li) p()r N. Tranfaglia. La Nüova tlâlia, Florença, 1983.
Il
diÍì
17) CÍ., poÍ exemplo. E. Cass:trcÍ. Sobrc a Lógìca da Ciênda da C Lttirlr,/ ( 1942), trâd. it. de M. Maggi. La Nuova lelia. Florcnça, 1975. (f) Cl. K. R. Popper, Miréria do HistoÍicismo (1944-45). Ìrad. it. dc Mon(aleone, Feltrinelli, Milão, 1975. (()) É o dtulo dc um dos capítulos de It crcpuscolt) degti ido potc
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,, r rc na trad. it. de F. Mâsini, iD Opílc. ed. Colli MonriììaÌi, vot. Vt. 3,
Nl,lìo.
1970
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O Ìnito reencontrado (10) C. Lévi-Strauss, Ártopologia Esír turut,plon, paris, 1958. p, 231. ( l1) Cf.. por exemplo, de [;vi-StÌauss, o capíÍulo lirtal de O Homent Nu (MitolóBica,lV. l97l) e a
(14) Ct O. MaÌquâÍdt, Ábschied yotk Ptìnzipietterl, Rectam. Stroccarda, 1981,p.93. (15) Ci, poÍ exemplo, D. L. Miller J.Hillmann, O Noya poÌiteÍsnxt
o98r). (16) Cf., poÍ exemplo, Tìneo, 19 d. (17) Ct ainda O. À{arquaÍdt, dp. .11., p. 93. e todo o ensaio
Senrie inteftoti, cit., p. 49-50. (27) Cf. M. Heidegger, O Ser e o Tenpo (1927), $uJ. it. do P. Chiorli, Utot, Turim. 1969. (28) O Ser e o Te\Ìpo, cit. W. D6-97. (29) Eslá finalmente drsponível uma Íadução itâliana, excolentemente r(ì lizâdâ por L. AmoÍoso, dos escritos de Heideggeí sobre A Poesìa de /rlidcrfin, Adelphi, Milão, 1988. (30) O enúo está contido no volume saggi e dircarut (1954), lÍad. it. (26)
G.Vattimo, Mursiâ, Milão. 1976. (31) Ci de C. Simmel o ensaio { I 903), no volume lrdger s da Honlem, Í)íepaÍ^do p$ Ch. WÍighl Mills. (32) I.lenÍidaíle e DìÍercnça (195'7),paÍa Sa88i e dìs.d/ri, v. a trad. ci-
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trdn na nota 10. (33) Identi!tude e Difeíença, cit. p. 14,
{taá íJlÌ
(18) PaÌa a noção de VerÌdrdxxf em Heidegger e a suâ inter?retâçlt(' no sentido aqui referido. vejâ-se o cap. X do meu k frne deLh nodenìhl , CaÌzanti, Milão, 1985. (19) De N. Eliâs ct especialmente podet e Civitizalão (193'7). (20) De R. GiÌârd, âlém de AViolência e o Sagrado (1972), cÍ. cspo cialmente DelÌe cose nasco$e nn da a Íondazione det mando (tg7ï\.
(34) Sobíe esle conceito de esquecimento do ser póprio dâ meláfísica,
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sobre outÍos termos da filosofia de Heidegger, podem enconlÌaÌ-se oriores iluslÍâções na milha.Inlrod zìone a HeideSS€r, Lâterza. Roma_ l\lti., 1982. (lktodução a Herddgg?a Edìções 70, 1989) (35, Identidadc e Diíerença. ctL., p. ll.
(36\ Ibìdem,p.13.
Dâ ulopiâ à het€ro3opi8
A ârte dâ oscilâção (21) sobre isto vejâ-se o c ap. yI do mer La fine detta mo(le nità, C\t zanti, Milão, 1985. (22) Foi publicado em ilaliãno, com rrâd. de E. Filippini, poÍ Einâu(ll,
Turirn,
1966.
2l) M. '
Hcidegger. Á O'jBe'n da Oba Je Ad?. cen[âis do debate hemenêuaico contcüìlì{r Íâneo; cf. H. c. cadamer, yerdade e Método (19ú). (2.+) Este é um dos teÍmos
(25\ AObrc de Ane,cit.p.55, notâ 29.
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(37) Do Dewoy veja-se sobÍetu.do A A e canm E peiência (1934); e *)lìc a estética de Dewey, o belo estltdo do R. Bârilli, Per una estetìca ,llrrddna, Il Mulino, Bolonha, l9g. (38) De Adomo, cf. sobÍen\do Eslélica (1970), que sistemali^Teoia / , poróm, leses lamÉm já proposlas em obras anteÍioÍes de AdoÍno. (39) De H. Marcuse, aléÍn do cl ssico Ercs e Cìúlizaçáa (1955), vellul-se os ensaios recolhidos efi Cuburu e Socìedarle (1965) e a Dinen'
ttu Estética (1977). (40) De H€nri LefebvÍe veja-s€ sobretudo, sobÍe estes lemas, a Crítlcd
út vida Quotdiana, Paris,
194'7.
8l
(41\ E . Blaf.h, O Espttito da Uopia (lgtï e tg13). (42) Cf. J- Itubermas, ?e, ria do Agit Coüunìcacionat (Ig8r). (43) De H. G. Gadamer. aÌ ém do jâ citúo Verdade e Método. vajün-sai Actulilìda.le do Belo e A p e\l&s1o da Literctura. (44) Esta
ticas da Rarão Histórica.por p. Rossi, Eìnaudi, Turim, 1954.
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O./.
ltós modeíno: uma sociedade ÍanspâÌeÍle?
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Ciôncias hümanas e sociedade de comunicação
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O milo Íeencontrado
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A aÌte da oscilâçâo
5l
Da utopia à heterotopia
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,?edrd des€mpenh:ìm papel de-
teminante nas sociedâdes âctuais. Mas o desenvolvimento dos meios de comunicação não torna a sociedade-mars rânspâÍentre e consciente dc si.
Os ,rdrr m€did lendem a Íeproduir os acontccimentos em tempo real, acentuando â sua complciidade.
A les€ de Vatlimo, que retomâ WalteÍ Benjamin e buscâ a sua pâÍâdoxâl con fluênciâ com Heidegger. é de que é nesse relativo caos que Íesidem as cspeÍanças de emancipâção.
Õianni Vatlimo ensioa Filosofia na Universidade de Turim e tem várias obÍqs
publicdas sobre a filosofia alemã dos d' cülos XIX e XX. EnlÌc os seus livros publicados cm PortugaÌ destacam'se "As Aventürôs da Diferença", "O Fim da Modemjdade" e "IntÌodução
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Niclzscbe".
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